Filosofia – Pensadores e Obras

Categoria: Fernandes, Sergio L de C

  • Defendo então a tese de que só poderia haver “intencionalidade” num sentido, ou direção, transfenomenal ou transparente, que dependeria de uma aplicação disfuncional, pelo pensamento, da distinção entre aparência e realidade, distinção cuja funcionalidade é, no entanto, necessária ao que chamamos de “tomar algo como objeto”. É preciso dobrar a língua quando se diz que…

  • Por seu lado, se o Instrumento da Criação (a Mente, o Pensamento e a Linguagem) não pudesse gerar essas existências, a essas infinitas distâncias do Ser (o que se chama vulgarmente de “distinção entre sujeito e objeto” ), então não poderia haver experiência. No entanto, isso é o que a mente pode fazer, e a…

  • Veja: há uma enorme diferença entre o meme “ser humano”, que a mente fabrica, e o Ser do humano. Desculpe: “meme” é um meme deliciosamente inventado pela Biologia, como o análogo do gene, no plano simbólico da cultura. Ora, a Mente, o Pensamento e a Linguagem podem tanto com o Ser quanto um grão de…

  • A distinção entre aparência e realidade deve ser admitida em qualquer ontologia. Como mostrei em 1995 (Filosofia da Consciência), perceber, ter experiência de alguma coisa, ou “tomar algo como objeto” implica (ou pressupõe) aplicar, explícita ou implicitamente, a distinção entre aparência e realidade. Acontece que o uso geral de tais noções, não só nas línguas…

  • Sendo minha concepção de “identidade” independente da noção de “critério de identidade”, então significados, proposições ou intenções passam a existir pelo simples pensamento que os reidentifica, não importando que racionalizações ex post a mente produza a título de “justificativa”, seja para a existência, seja para a inexistência. (Contudo, aqueles que pensam que sabem tudo costumam…

  • A doutrina de que as aparências “aparecem” é errônea porque, distinguindo-se da transparência da Experiência consciente, a transparência mental inconsciente ou transparência da “intencionalidade”, ou ainda, transparência do ponto cego, consiste no contrário de “deixar transparecer” a realidade, ou no contrário de deixar transparecer o “objeto tomado como real”, pois consiste em expulsar da Aparição,…

  • Existe o que é o objeto de identificações, ou seja, tudo que é tomado pela mente inconsciente como podendo ser “experimentado” outra vez. Na frase precedente, a palavra “experimentado” aparece entre aspas porque experimentar algo como podendo ser experimentado outra vez, embora seja costumeiramente considerado como equivalente a experimentar um objeto como tal, ou seja,…

  • É dificílimo de ser reconhecido, seja na literatura filosófica, seja na científica, o fato de que só podemos “tomar como objeto” o que é “identificável”, real ou “existente”, e, inversamente, que só é identificável, real ou “existente” aquilo que podemos “tomar como objeto”. Esse fato é dificílimo de ser reconhecido, não só pelas notórias dificuldades…

  • […] A Epistemologia — teoria do conhecimento, não apenas do conhecimento “científico” —, não pode ser a investigação daquilo que não temos, e que precisamos adquirir. Jamais se poderá, assim, compreender o que interessa, ou seja, nossa ignorância. Não filosofamos para aprender, no sentido positivo de aprender, mas, ao contrário, para desaprender o que nos…

  • Mas, então, o que é que o Sábio ensina? Aqui estão três das Quatro Nobres Verdades (Ariya-Sacca): uma delas, sobre o que há de ser abandonado — o que origina (nidana) o sofrimento (dukkha), ou seja, o que origina o Encadeamento da Originação Dependente (Paticca samuppada); outra, sobre o que há de ser realizado —…

  • Proponho que o ser de um ente seja uma interface—justamente a interface entre Ser e Não-Ser que faz de um ente, por um lado, um ser determinado, reidentificável, e, por outro lado, um indivíduo, único, irrepetível (não “identificável” a outro), independente de espaço ou tempo, e incomparável (não meramente “diferente”). Ora, aquilo que está “deste…

  • Chamo “falácia axiológica” a derivação da tese de que o “valer” e os “valores” teriam alguma espécie de “ser”, seriam simulacros passíveis de compreensão, “entes”, embora jamais por excelência(!), dotados de algum estatuto ontológico positivo, seja de que tipo for (em minha terminologia, a tese de que poderiam integrar a Experiência), tese comumente derivada a…

  • […] Uma de minhas teses, talvez a principal, é a de que o personagem conceptual chamado “O Problema do Mal”, longe de poder ser adequadamente tratado por uma suposta disciplina filosófica chamada “Ética” (ou por uma Teologia Dogmática, e menos ainda por uma Teodiceia), só poderá ser compreendido após a revisão completa do estatuto ontológico…

  • A antiga noção de axios (valioso) foi chamada, no início do século passado, a compor, com a antiga noção de logos, a palavra “axiologia”, para designar, a exemplo da composição de logos com episteme (epistemologia), o estudo filosófico dos valores em geral, em substituição à Werttheorie, até então usada para valores econômicos. A essa altura,…

  • O “espírito do tempo” inclui ainda a empáfia, na maioria dos casos nonchalante, ou simplesmente condescendente (na língua do Império, patronising), de uma variedade muito influente de contra ou antifilosofia, conhecida como “filosofia analítica”. A Filosofia Analítica se caracteriza, por um lado, por pressupor, acima da autoridade da Filosofia, a autoridade da Ciência “dura” (seja…

  • A atividade filosófica pode ser chamada de “investigação”, mas distingue-se da investigação científica. Esta, pelo interesse em manipular, ou dominar, é sempre dirigida, pela urgência do desejo, à parcialidade das explicações. Pois é impossível explicar alguma coisa em sua totalidade: só há explicações parciais. E parcialidade gera conflito. De fato, a ciência conhece pela destruição…

  • A Filosofia é a investigação do Ser enquanto Ser. Essa investigação não é “metódica”, pois todo método pressupõe o que deve ser investigado: o “eu” que aspira, e o tempo de “tornar-se outra coisa”. [145] (Fosse “metódica”, a Filosofia seria uma “ciência” a mais, embora sua classificação devesse permanecer irremediavelmente ambígua.) A investigação filosófica tem,…

  • Pode-se caracterizar o empirismo como a doutrina filosófica que identifica o “sujeito” empírico com o transcendental. Mas essa caracterização, além de admitir um dúbio “sujeito transcendental”, não vai à raiz do empirismo. O Erro Empirista, a meu ver, é a identificação — absurda — entre Realidade e Aparência, na sua concepção de “experiência consciente”. Neste…

  • Gostaria de mostrar ao leitor de que maneira a consciência pode ser compreendida como parte do que chamamos de “natureza”; em outras palavras, tentarei eu mesmo compreender a “natureza” da consciência, ou seja, a relação entre a Aparência da consciência e suas “projeções” ou hipóteses, como uma “Realidade” no Universo. É a Realidade uma “parte”,…

  • Há um assunto muito delicado, aparentemente superficial e nada transcendental, por naturalístico que é, mas que precisa ser ventilado. O leitor, se já não experimentou, deve ter notícia dessas máquinas que produzem “realidade virtual”. Com um par de fones de ouvido, viseiras especiais, etc. — a limitação dos recursos é apenas contingente, dado o estado…