Categoria: Fernandes, Sergio L de C
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O erro do “homem comum” — e o leitor deve entender que o que escrevo não nos critica, ao contrário, presta-nos a homenagem de uma verdadeira fanfarra [V. 3.5 adiante.]—, o erro do “homem comum” é o Erro de Descartes. Se compreendemos a estrutura da Identificação Secundária, não podemos deixar de reconhecer a verdade da…
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Quem quer, ou a quem interessa, distinguir Aparência de Realidade? Essa distinção é político-administrativa, antropológico-cultural, psico-social, sócio-biológica. Essa distinção é consensual. Não há uma “verdade” transfenomenal absoluta sobre o que é Aparência e sobre o que é Realidade. Essa “verdade” é epistêmica, não alética. Não costumamos pensar do objeto X que ele é indefinidamente identificável:…
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Pelo pouco que tenho acompanhado esses modismos [filosóficos], que, aqui, por simples cortesia, elevei às alturas de “espírito do tempo”, observo que, nas suas melhores expressões, essa mania chama-se de “desconstrucionista” ; nas suas piores expressões, abriga-se sob um imenso guarda-chuva de atitudes “filosóficas”, chamado de “pragmatismo”. Este último merece, outra vez por mera cortesia…
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O que nos resta é apenas investigar, do ponto de vista (cego) da Mente, do Pensamento e da Linguagem, ou seja, cavalgando o Instrumento, a própria noção de “valor”, suas espécies, as relações entre elas, etc. O que teriam os valores, por exemplo, a ver com a razão e o intelecto? A venerável tradição chamada…
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No primeiro Capítulo, desenvolvo uma Ontologia (antes de qualquer coisa, o Ser enquanto Ser, inclusive o Ser dos entes!); descrevo o que penso ser a estrutura do próprio Ser, e identifico uma das dimensões dessa estrutura, que chamo de Ser como Experiência (em si mesma), ao próprio Ser do Ser Humano. Dividi o Capítulo em…
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Stone, no seu livro extraordinário — politicamente correto, mas filosoficamente míope, tão revelador da dimensão política do julgamento de Sócrates1, propõe três motivos para o paradoxo de que o filósofo, professor a vida inteira, tenha sempre negado este fato2: se a sabedoria (ele prefere “virtude”, ou “conhecimento”) pudesse ser ensinada, seria abalada a doutrina de…
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Há dois sentidos em direção aos quais podemos buscar o Ser, dando origem a duas metafísicas radicalmente distintas, que divergem em direções opostas. Se pretendemos conhecer a nós mesmos à luz do Ser, temos a metafísica ontocêntrica. Se pretendemos conhecer o Ser à luz da nossa consciência, temos a metafísica antropocêntrica. Na primeira, a Antropologia…
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A Revolução Científica — a única que conhecemos, até hoje — consistiu na aplicação do velho método de análise e síntese, ou seja, o método da matemática e da geometria, à Natureza como um todo, e na valorização da “experiência” como critério de decisão acerca de hipóteses e teorias. Mas a Revolução Científica deixara de…
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[…] Lembre-se o leitor que, em Ciência, trata-se de explicação, não de compreensão, pois só as explicações aumentam nosso “espaço de manobra” manipulador (o poder). Mas a parcialidade das explicações consiste, em ciência, em que uma coisa só se pode explicar em termos de outra coisa, jamais em seus próprios termos. A investigação científica, pelo…
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A expressão meramente extensional do universal legaliforme deixa aberta a possibilidade de que, embora não haja exceção, tudo não passe de coincidências, de acidentes, por mais incrível que seja para nós essa visão das coisas. Por outro lado, o sentido de uma pretendida expressão intensional do universal (no sentido nômico, ou “essencial” de necessidade extra-lógica)…
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A ideia de “Ser enquanto Ser”, ou de “Ser em si”, tem sido identificada tradicionalmente, na Filosofia ocidental, sobretudo com três noções, todas elas dependentes, ainda que de maneiras obscuras e insidiosas, da noção incoerente (não que eu tenha a coerência em alta conta!) de “sujeito imutável da mudança” [sic]: são elas as noções de…
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[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 81-82] Não sendo possível conceber o Ser de um ente determinado, seja como constituído de suas qualidades (a cebola sem caroço), seja como constituído de uma substância-substratum (o caroço sem a cebola), o caminho intermediário…
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[FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995, p. 79-81] Mas se as coisas individuais não são o que estamos habituados a pensar que são, nossa investigação deve prosseguir. Desta vez, sem nos deixarmos guiar por outrem, experimentemos. Em que consiste o Ser de…
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Há muitas imitações do Ser. A mais barata é a noção de “substância”, a mais cara, a de “essência”. A de preço inestimável, origem de todo o sofrimento humano, é a imitação do Ser que chamamos de “Eu”. Mas nós vamos começar com a Substância. “O importante”, observa Chateaubriand, nosso conselheiro para assuntos ockhamianos, “não…
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A Filosofia pode, portanto, libertar-nos, tanto do “dever ser”, essa marca da escravidão, quanto da “intenção”, essa artífice dos métodos. Assim como, talvez, a Estética não se possa disciplinar como uma teoria do Belo, mas, com mais pertinência, como uma investigação da singularidade irredutível da sensação-como-modo-de-conhecer, também a Ética não se poderá disciplinar como uma…
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Antes de prosseguir, lembro ao leitor que há símbolos e “símbolos”: alguns se instalam no imaginário como estereótipos ideológicos e, como tal, assujeitadores; estão ali para serem desmascarados. Outros estão ali como mistérios insondáveis, tremendos, não como máscaras, pois os mistérios nada encobrem, de modo que pretender desmascará-los é como tentar transportar todo o oceano…
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Os medievais, depois Brentano, Husserl, etc., ao se referirem a uma suposta “intencionalidade”, deviam estar querendo referir-se à visão ou ponto de vista de um sujeito, não a propriedades metafísicas como a transparência da consciência, ou a enigmáticas capacidades mentais, como a de tomar algo como objeto. O que é, afinal, que eles poderiam estar…
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Mas é preciso agora — ossos do ofício! — desincumbirmo-nos das “essências reais”, e investigar a natureza da Existência. Um pouco mais de ginástica. Tome alguma coisa; abstraia-lhe a existência: o que restaria seria sua essência. Defina alguma coisa; entenda a definição: seu significado seria a essência. Tome agora outra vez alguma coisa, mas, ao…
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Para começar, alguns fatos básicos. Além de biológica, aquilo que costumamos chamar de “mente” é, em larga medida, social, trans-individual e até “ecológica”. Basta nos lembrarmos de como “o cérebro”, como sistema, ou “o meio ambiente”, como sistema, se inter-monitoram. Além disso, quaisquer sub-sistemas monitoradores, cerebrais ou ambientais, estão de tal maneira intimamente acoplados um…
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Há um sentido vulgar de “experiência” (aqui, sempre com “e” minúsculo), que, apesar de confuso ao extremo, é moeda corrente e até mesmo tido em alta conta por epistemólogos, como se correspondesse a uma noção fundamental (para cientificistas, entenda-se “útil”). Trata-se de um sentido intimamente relacionado ao de “conhecer” (sobretudo no sentido de “apreensão cognitiva”),…