Categoria: Espinosa, Baruch
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Por muito que a doutrina do capítulo anterior sobre o direito dos soberanos a tudo e sobre o direito natural de cada um, que para eles é transferido, seja compatível com a prática, e por muito que esta possa estar regulamentada de maneira a aproximar-se cada vez mais de uma tal doutrina, é, todavia, impossível…
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A noção mais ampla de lei que Espinosa oferece é aquela que enfatiza a regularidade de comportamento: “A palavra lei, tomada em abstrato, significa aquilo pelo qual cada indivíduo, ou todas as coisas, ou algumas coisas de uma espécie em particular, agem em uma e mesma certa e definida maneira, que depende da necessidade natural…
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O que os filósofos entendem comumente por vida. Para bem compreender esse atributo de Deus, qual seja, a vida, é necessário que expliquemos de uma maneira geral o que se chama vida. Em primeiro lugar, examinaremos a opinião dos peripatéticos. Estes entendem por vida a “persistência da alma nutritiva com o calor” (ver Aristóteles, Tratado…
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Digo em princípio, e em primeiro lugar, que Deus é causa de todas as coisas, absoluta e realmente, quaisquer que sejam e que possuam uma essência. Se vós podeis demonstrar que o mal, o erro, os crimes etc. são coisas que exprimem uma essência, concordarei convosco, sem reservas, que Deus é causa dos crimes, do…
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Mas desçamos às coisas criadas, que são todas determinadas a existir por causas exteriores e a agir de um modo determinado. Para tornar isso claro e inteligível, concebamos uma coisa muito simples: uma pedra, por exemplo, recebe de uma causa exterior, que a empurra, uma certa quantidade de movimento e, tendo cessado o impulso da…
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[…] os homens equivocam-se ao se reputarem livres, opinião que consiste apenas em serem cônscios de suas ações e ignorantes das causas pelas quais são determinados. Logo, sua ideia de liberdade é esta: não conhecem nenhuma causa de suas ações. Com efeito, isso que dizem, que as ações humanas dependem da vontade, são palavras das…
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Proposição 29. Nada existe, na natureza das coisas, que seja contingente; em vez disso, tudo é determinado, pela necessidade da natureza divina, a existir e a operar de uma maneira definida. Demonstração. Tudo que existe, existe em Deus (pela prop. 15). Não se pode, por outro lado, dizer que Deus é uma coisa contingente. Pois…
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Proposição 30. Um intelecto, seja ele finito ou infinito em ato, deve abranger os atributos de Deus e as afecções de Deus, e nada mais. Demonstração. Uma ideia verdadeira deve concordar com o seu ideado (pelo ax. 6), isto é (como é, por si mesmo, sabido), aquilo que está contido objetivamente no intelecto deve existir…
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Proposição 31. Um intelecto em ato, quer seja finito, quer seja infinito, tal como a vontade, o desejo, o amor, etc., deve estar referido à natureza naturada e não à natureza naturante. Demonstração. Por intelecto, com efeito (como é, por si mesmo, sabido), não compreendemos o pensamento absoluto, mas apenas um modo definido do pensar,…
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De fato, todos os preconceitos que aqui me incumbo de denunciar dependem de um único, a saber, os homens comumente supõem que as coisas naturais agem, como eles próprios, em vista de um fim; mais ainda, dão por assentado que o próprio Deus dirige todas as coisas para algum fim certo: dizem, com efeito, que…
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Cada um existe por sumo direito de natureza e, consequentemente, por sumo direito de natureza faz [age] aquilo que segue da necessidade de sua natureza; e por isso por sumo direito de natureza cada um julga o que é bom, o que é mau, e cuida do que lhe tem utilidade conforme seu engenho (ver…
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O CORPO DO HOMEM O corpo humano compõe-se de muitos indivíduos (de diversa natureza), cada um dos quais é muito complexo. Entre os indivíduos de que se compõe o corpo humano, alguns são fluidos, outros macios, outros por último são duros. Os indivíduos componentes do corpo humano, e por conseguinte o corpo humano mesmo, é…
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… Os homens comumente supõem que todas as coisas naturais, como eles próprios, obram por um fim, e inclusive afirmam como certo que Deus mesmo dirige todas as coisas a um certo fim: pois dizem que Deus fez todas as coisas para o homem, e ao homem para que o adorasse. Examinarei, pois, isto, buscando…
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Deve-se passar já à substância criada, que dividimos em extensa e pensante. Por substância extensa entendíamos a matéria ou substância corpórea. Por substância pensante, só as almas humanas. (…) A alma humana não procede de um intermediário, mas é criada por Deus; mas não se sabe quando é criada. — Voltemos, pois às almas humanas,…
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Baruch de Spinoza, o judeu holandês de Amsterdam, de origem espanhola, nasceu em 1632 e morreu, depois de uma vida breve e obscura, dedicada ao polimento de cristais óticos e à meditação filosófica, em 1677. Spinoza é um cartesiano, chegando mesmo a escrever uma versão em forma geométrica dos Princípios de Descartes; há porém nele…
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Excerto de LENOIR, Frédéric. Le Miracle Spinoza. cap. 5. nossa tradução Vimos que uma das noções mais essenciais da filosofia ética de Espinoza era o conatus, o esforço que fazemos para perseverar e crescer em nosso ser. É o motor de toda a nossa existência, o que nos leva a sobreviver e a aumentar nosso…
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Uma das afirmações mais comuns feitas sobre a filosofia de Espinoza é que ele é um subjetivista, talvez até um emotivista, sobre valores morais e outros. Nesta leitura, as coisas no mundo não são mais boas ou más realmente – isto é, boas ou más independentemente de como são vistas pelas mentes humanas – do…