(in. Aptitude; fr. Aptitude; al. Eignung; it. Attitudiné).
Esse termo indica a presença de determinados caracteres que, em seu conjunto, tornam o indivíduo capaz de realizar determinada tarefa. Na determinação das aptidões baseia-se a orientação profissional, isto é, a seleção e a preparação do indivíduo para este ou aquele trabalho, em conformidade com as suas habilidades. [Abbagnano]
A caracterização de uma vida (ψυχή [psyche]) como apta ou inapta, como adaptada ou inadaptada, depende, por conseguinte, da análise da situação por que cada um passa, situação que pode resultar da própria ação de cada homem ou constituída pela própria vida. Cai-se em e criam-se situações. O termo práxis (πρᾶξις [praxis]) engloba em si as mais diversas situações, os mais diversos comportamentos, as mais diversas relações que se estabelecem connosco mesmos, com os outros, com os acontecimentos do mundo e até com os deuses. Toda a situação acontece numa estrutura formal, cujos limites são os fenômenos de prazer e de sofrimento (ἡδονή και λύπη [hedone kai lype]) e as suas formas e matizes. Quer dizer, em última análise toda e qualquer situação por que se passa na nossa existência é interpretada em função do prazer que ela nos dá ou do sofrimento que nos traz. São essas presenças afetivas que nos fazem pôr em fuga ou em perseguição (φεύγειν καί διώκειν [pheugein kai diokein]), movimentações desencadeadas em função do resultado de uma determinada situação, consoante ela seja antevista, quer como sofrimento quer como prazer. Mas esta reação é espontânea. Nasce connosco ou, antes, nós nascemos nela e com ela. Ela é a natureza (φύσις [physis]) em que nascemos. Desde sempre caídos nela, tudo quanto nos acontece, as situações (πράγματα [pragmata]) em que nos encontramos, tem esta estrutura formal, contida nos limites do prazer e do sofrimento que sentimos. Ou procuramos escapar-lhes, ou vamos no seu encalce. Fugimos-lhes, ou vamos atrás deles. Esta situação originária surge por necessidade. É também necessariamente que o modo como nos reportamos a tudo isto é um modo de fuga ou de perseguição, independentemente de conseguirmos de facto escapar àquilo de que fugimos ou de agarrarmos aquilo que perseguimos.
Pode acontecer, porém, que o prazer que se segue não seja proveitoso, ou o sofrimento que se evita nos traga alguma vantagem. Esta possibilidade, que à partida não é considerada, talvez nos permitisse evitar situações que deterioram, pervertem ou até mesmo destroem a nossa vida e o modo da nossa existência. É que muitas das situações que criamos em função do prazer que delas obtemos, ou que evitamos em função do sofrimento que nos trazem, se revelam com um sentido diferente do que primeiramente era previsto. O prazer pode ser nocivo e pouco vantajoso. E o sofrimento pode corresponder a uma situação de adaptação, restabelecimento, ganho de uma aptidão.
A vida que nos põe em fuga ao sofrimento e no encalce do prazer é um modo de existência problemático, porquanto as movimentações, fundamentadas na interpretação de nascença, de fuga ao sofrimento e perseguição do prazer podem conduzir a uma situação de perversidade da vida humana (ψυχή). A verdadeira relação com o sentido das mais diversas situações por que passamos só será obtida em vista de uma autêntica apropriação da excelência e rejeição consequente de toda e qualquer deformação de perversidade. A excelência formadora e a perversidade deformadora não se reduzem, respectivamente, às afecções de prazer e de sofrimento. As movimentações para a excelência e contra a perversão podem corresponder a um inverter das meras reações de nascença e espontâneas em relação às situações e conjecturas da vida. [CaeiroArete:48-49]