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Fernandes (2005:19-20) – Niilismo

quinta-feira 23 de agosto de 2018

  

Pelo pouco que tenho acompanhado esses modismos [filosóficos], que, aqui, por simples cortesia, elevei às alturas de “espírito do tempo”, observo que, nas suas melhores expressões, essa mania chama-se de “desconstrucionista” ; nas suas piores expressões, abriga-se sob um imenso guarda-chuva de atitudes “filosóficas”, chamado de “pragmatismo”. Este último merece, outra vez por mera cortesia da minha parte, o título de “imperial”, já que se identifica com, ou se inspira num certo estilo de “filosofar” (ou deveria dizer logo “desfilosofar” ?) norte-americano. Miséria da Filosofia, não tenho a menor dúvida. Mas há também hoje inúmeras manifestações intermediárias dessa “miséria” entre suas melhores e suas piores expressões.

Na verdade, arrisco o diagnóstico de que tudo isso — excessivamente perspícuo, aliás, para qualquer um que acompanhe com um mínimo de atenção o panorama filosófico contemporâneo — é uma reação ao que, de fato, é um...” niilismo”. E esse “niilismo” é, principalmente, aquele que desqualificou, ao longo da modernidade, tudo aquilo que não pode ser objeto de investigação científica.

Tratado o “niilismo” — com certa justiça, diga-se de passagem — como verdadeiro “resultado filosófico”, ou seja, algo que se teria atingido no progresso (?) da Filosofia (mas, sobretudo, da Ciência!), a reação a ele vem tomando formas absurdas de relativismo, de variados matizes, que vão do extremo do que vem sendo chamado de “idealismo linguístico” (alguma coisa como... “em última análise, só há linguagem, ou discurso, ou significante” ; ou ainda, aparentemente ao contrário, “verdade é interpretação” — a pomposa, e falsa! — tese da Hermenêutica...) até crassas concepções consensualistas [sic] de “verdade”, passando por “vetos à metafísica” (!?) e, como vimos no Prefácio, morticínios dignos de serial killers: “morte de Deus”, “morte do homem”, “fim disso”, “fim daquilo”, etc.

(FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj, 2005, p. 19-20)


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