Diálogo de Platão sobre a propriedade das palavras. Contra o heraclitismo. Insuficiência das palavras e das etimologias para chegar à verdade e à essência das coisas. Aparece a teoria das Ideias.
Crátilo na Internet
[Depósito Internet Archive (inglês)->http://www.archive.org/search.php?query=cratylus]
[Depósito Internet Archive (francês)->http://www.archive.org/search.php?query=cratyle]
Segundo Luc Brisson, a antiguidade foi unânime a reconhecer no Crátilo a primeira etapa para a constituição de uma ciência da linguagem. Mas, depois de dois séculos, a evolução da linguística relegou este diálogos ao nível de curiosidade: a conversação de Sócrates com Hermógenes e Crátilo parece pouco séria e coerente, pois as etimologias evocadas são próximas do jogo de palavras homônimas. Este juízo negativo não faz justiça a um diálogo que deve ser lido em função de outros critérios.
O Crátilo trata da relação que podem entreter as palavras e as coisas que elas designam. Sócrates faz primeiramente reconhecer ao jovem Hermógenes, que sustenta uma tese convencionalista, que os nomes são instrumentos dotados de uma certa « natureza » para « ensinar as coisas ». Mas estes instrumentos são falhos, como o mostra em seguida a Crátilo, que sustenta uma tese naturalista. Personagem pouco loquaz como um heraclitiano, Crátilo não está totalmente convencido por Sócrates.
Quais eram os alvos de Platão escrevendo este diálogo que nos parece tão desconcertante? Uma vez mais, o filósofo ataca à dupla orientação que tinha então tomado a educação (paideia). Recusa conduzir todo o saber da época a suas origens, a leitura dos poetas, e denuncia a exigência da interpretação alegórica que dela decorre, exigência da qual Eutífron dá um bom exemplo no diálogo epônimo, que se funda sobre a premissa errada de uma acesso possível à realidade bruta das palavras. Platão luta igualmente contra as pretensões dos grandes tenores da sofística, Prodicos e Protágoras, a se dar conta da etimologia fundando a linguagem sobre o conhecimento do sensível. Para o Platão do Crátilo, os nomes são imagens das realidades verdadeiras, as Formas que se situam além do sensível. E é no Sofista que o problema posto no Crátilo será resolvido. A retitude de um termo depende de um acordo sobre uma definição explicitando « o que é » a realidade investigada, e obtida ao final de uma discussão rigorosa que obedece às regras da dialética.
Cratylus 383a-384c — Prólogo
Cratylus 384c-391a — A linguagem deriva de uma convenção e é arbitrária
Cratylus 391a-421c — A denominação natural
Cratylus 421c-427d — Nomes primitivos e nomes derivados
Cratylus 427d-440e — Novo exame do problema