Filosofia – Pensadores e Obras

persuasão

(in. Persuasion; fr. Persuasion; al. Uberredung; it. Persuasioné).

1. Crença cuja certeza se apoia em bases principalmente subjetivas, ou seja, pessoais e incomunicáveis. A distinção entre persuasão e ensinamento racional já foi estabelecida por Platão, que dizia: “O pensamento é gerado em nós por via de ensinamento; a opinião, por via da persuasão. O primeiro baseia-se sempre num raciocínio verdadeiro; a outra carece desse fundamento. O primeiro continua firme em face da persuasão; a outra deixa-se modificar” (Tim., 51, e). Kant expôs claramente este mesmo conceito: “A crença que tem fundamento na natureza particular do sujeito chama-se persuasão. É simples aparência porque o fundamento do juízo, que está unicamente no sujeito, é considerado como objetivo. Portanto, esse juízo só tem validade pessoal e a crença não pode ser comunicada” (Crít. R. Pura, Doutrina do método, cap. II, seç. 3). Deste ponto de vista, a pedra de toque que permite distinguir P e convicção é “a possibilidade de comunicar a crença e reconhecê-la válida para a razão de qualquer homem” (Ibid.); a convicção é comunicável; a persuasão não é. A distinção kantiana foi aceita e simplificada por C. Perelmann e por L. Olbrechts-Tyteca: “Propomos chamar de persuasiva a argumentação que pretenda servir apenas a um auditório particular, e chamar de convincente z que acredita poder obter a adesão de qualquer ser racional” (Traité de l’argumentation, 1958, § 6). Às vezes, persuasão foi distinguida de convicção por, supostamente, envolver o sentimento além da razão e, portanto, só ela ser capaz de despertar o que Pascal chamava de “autômato”, que são os comportamentos afetivos e habituais do homem. Pascal dizia: “Somos autômatos tanto quanto espírito; disso resulta que o instrumento de que se constitui a persuasão não é apenas a demonstração” (Pensées, 252). D’Alembert expressou muito bem esse ponto de vista: “A convicção tem mais a ver com o espírito; a persuasão, com o coração. Diz-se que o orador não deve apenas convencer, ou seja, provar o que enuncia, mas também persuadir, ou seja, impressionar e comover. A convicção supõe alguma prova; a persuasão, nem sempre. (…) Persuadimo-nos facilmente do que nos agrada; ficamos às vezes entristecidos ao nos convencermos daquilo em que não queríamos crer” (OEuvres posthumes, 1799, II, p. 89). Outras vezes a persuasão foi considerada a forma superior da certeza por estar ligada à verdade objetiva. Foi o que fez Heidegger, que a entendeu como “um modo de ser da certeza”, mais precisamente o que se funda testemunho da “coisa descoberta”, que é verdadeira (Sein und Zeit, § 52). Analogamente, Jaspers pôs a persuasão acima da “confirmação pragmática” e da “evidência coercitiva”, como o terceiro e último grau da verdade objetiva (Vernunft und Existenz, 1935, III, § 3). Por outro lado, insistiu-se sobre o caráter “emocional” da persuasão, no sentido de que ela apelaria para motivos “não racionais” (C. L. Stevenson, Ethics and Language, 1944, cap. 6). O que emerge dessas indicações é o caráter pessoal e, em certa medida, incomunicável da persuasão, ou melhor, dos motivos que fundamentam a crença na qual ela consiste.

2. Ato ou procedimento de persuadir, de induzir à persuasão. [Abbagnano]