Filosofia – Pensadores e Obras

psiquiatria

A prática da profissão psiquiátrica se ocupa sempre do indivíduo humano todo. É um indivíduo humano todo que o psiquiatra tem sob sua assistência, seus cuidados e tratamento ou que ele recebe para consultas. Como é ainda de um indivíduo humano todo o laudo pericial que ele dá ao tribunal ou a outras autoridades ou para a história. Aqui todo o trabalho se relaciona com um caso particular. Não obstante, para satisfazer as exigências decorrentes dos casos particulares, o psiquiatra lança mão, como psico-patologista, de conceitos e princípios gerais. Na profissão é uma pessoa viva que compreende e atua. Para ele a ciência é apenas um dos meios de auxílio. Enquanto para o psicopatologista a ciência é um fim em si mesma. Ele quer apenas conhecer e reconhecer, caracterizar e analisar mas não o indivíduo e sim o homem. Já não pergunta pela utilidade de, sua ciência como meio de auxílio — isso ocorrerá por sisi mesmo com o progresso dos resultados. O que o preocupa, é o conhecimento, a verdade, o que pode ser provado com rigor ou demonstrado com clareza. Não procura a compreensão e a empatia em si — isso para ele é só material cuja riqueza de desenvolvimento lhe é indispensável. Pretende o que se pode exprimir em conceitos, o que se pode comunicar, o que é suscetível de transformar-se em princípio e se pode reconhecer em quaisquer circunstâncias. Se, por um lado, tal propósito lhe impõe limites, que” deve reconhecer para não ultrapassá-los indevidamente, por outro, lhe permite um amplo domínio de que tem o direito e o dever de tomar posse.

Seus limites consistem em jamais poder reduzir inteiramente o indivíduo humano a conceitos psicopatológicos. Quanto mais conceitualiza, quanto mais reconhece e caracteriza o típico, o que se acha de acordo com os princípios, tanto mais reconhece que, em todo indivíduo, se oculta algo que ele não pode conhecer. Como psico-patologista, basta saber da riqueza infinita de todo indivíduo, que nunca poderá esgotar; independente disso, poderá, como homem, ver mais; ou quando outros veem esse “mais”, que é algo incomparável, não deve imiscuir-se com psicopatologia. Sobretudo avaliações éticas, estéticas, metafísicas são de todo independentes de avaliações e classificações psicopatológicas.

Mas mesmo abstraindo-se dessas avaliações, que nada têm a ver com psicopatologia, ainda desempenham um papel importante na prática profissional opiniões instintivas, uma intuição pessoal que nunca se pode comunicar. Ressalta-se que, em muitos aspectos, a psicopatologia ainda não alcançou o nível de ciência. É a “habilidade” que então prevalece. A ciência requer um pensamento conceituai que seja sistemático e possa ser comunicado. Só na medida em que se tenha desenvolvido um pensamento desse tipo, pode haver psiquiatria como ciência. O que na psiquiatria fôr habilidade e arte, que não se pode exprimir e sim no máximo transmitir a pessoas receptivas através de um trato pessoal, não será tampouco objeto de exposição num livro nem, naturalmente, se pode esperar de livros. O ensino da psiquiatria é mais do que a transmissão de conhecimentos conceituais. É mais do que ensino científico. [PG]