VIDE vida psíquica
O mesmo encontra-se em uma variação de estados, que se reconhecem como unitários mediante a consciência da mesmidade da pessoa; acha-se ao mesmo tempo condicionado por um mundo exterior e em reação sobre este, reconhecendo-o, muito embora compreendido em sua consciência e determinado pelos atos de sua percepção sensível. Encontrando-se assim a unidade vital condicionada pelo meio em que vive, ao mesmo tempo que pela reação sobre ele, disso resulta uma articulação de seus estados interiores. A esta denomino a estrutura da vida psíquica. E ao apreender esta estrutura a psicologia descritiva, descobre-lhe a conexão que une as sucessões psíquicas em uma totalidade. Esta totalidade é a vida.
Todo estado psíquico apareceu em mim em um tempo dado e desaparecerá por sua vez em um dado tempo. Tem um curso: começo, meio e fim. É um processo. Em meio à variação destes processos, só é permanente o que constitui a forma de nossa vida consciente mesma: a relação correlativa do mesmo e o mundo objetivo. A mesmidade na qual estão em mim ligados os processos, não é ela mesma um processo, não é passageira mas permanente, como minha própria vida, ligada com todos os processos. Do mesmo modo é este um mundo objetivo, que existe para todos, era antes de mim e será depois de mim, como limitação, correlato, oposição desse mesmo com aquele estado consciente, a um só tempo. Portanto, tampouco a consciência dele é um processo, ou um agregado de processos. Mas tudo o mais que há em mim, fora desta relação correlativa do mundo e eu mesmo, é processo.
Estes processos se sucedem no tempo. Mas frequentemente posso também dar-me conta de uma conexão interior dos mesmos. Percebo que uns produzem outros. Assim, um sentimento de repulsa produz a tendência e o impulso a afastar seu objeto de minha consciência. Assim as premissas produzem a conclusão. Em ambos os casos dou-me conta desse produzir. E estes processos sucedem-se, mas não como ondas, uns após outros, cada qual separado dos demais, como fileiras de uni regimento de soldados, sempre com um espaço intermédio. Nesse caso, minha consciência seria intermitente: pois uma consciência sem um processo em que esteja, é um contra-senso. O que percebo, dentro de minha vida desperta, é uma continuidade. Os processos amontoam-se e ligam-se de tal modo, que sempre há algo presente em minha consciência. Do mesmo modo que um viajante que avança rapidamente vê desaparecer atrás de si objetos que um momento antes tinha diante dos olhos ou junto a si, e aparecer outros, enquanto a continuidade da paisagem permanece.
(Ideen uber eine beschreibende und zergliedernde Psychologie) [Dilthey]