A primeira ideia que se pode fazer do conhecimento é a da abertura de um ser em relação aos outros. Abro os olhos e é todo um conjunto de objetos externos que se põe em comunhão comigo. Eu penso e um mundo de realidades diversas invade o campo de minha consciência. E esta extensão, esta projeção de meu ser para aquilo que não é ele, parece-me ter algo de indefinidamente renovável e de ilimitado. Vinte vezes posso contemplar o mesmo quadro e ao infinito posso olhar tantos outros. Tratando-se do conhecimento intelectual, nada do que existe parece escapar às presas de minha percepção: sim, todo o ser é pensável, isto é, inteligível.
É diante de semelhantes constatações que se situará e se compreenderá a fórmula, tão frequentemente repetida no peripatetismo, que a alma pelo conhecimento é, de certo modo, todas as coisas, sensíveis e inteligíveis (De Anima, III, 1. 13)
“Anima est quodammodo omnia sensibilia et intelligibilia”.
Para Tomás de Aquino, esta capacidade de assimilar as coisas distingue formalmente os que conhecem dos que não conhecem. Testemunha-o este texto da Summa:
“… devemos considerar que os seres dotados de conhecimento distinguem-se dos que não o são, no sentido em que estes têm apenas a sua forma própria, ao passo que àqueles é natural poderem conter em si também a forma de outro ser, pois, a espécie do objeto conhecido está no cognoscente. Por onde é manifesto que a natureza do ser que não conhece é mais restrita e limitada; ao passo que a dos que são dotados de conhecimento tem maior amplitude e extensão; e por isso diz o Filósofo no III De Anima que a alma é de certo modo tudo”. Ia Pa, q. 14, a. 1
Vê-se, por este texto, que a diferença de amplitude dos seres dotados de conhecimento é relativa à posse ou à recepção das formas: um ser tem sua forma específica mas pode ter também, como sujeito cognoscente, a forma específica dos outros. Tomás de Aquino precisará, todavia, que o modo como estes dois tipos de formas existem no sujeito não é o mesmo. [Gardeil]