Os problemas da filosofia têm uma natureza permanente porque são problemas cujo centro está precisamente no que É e o desenvolvimento da filosofia se processa no sentido da profundidade e não no sentido da horizontalidade, como as técnicas e as ciências. Não há um “progresso” da filosofia por substituição, mas sim um aprofundamento dos mesmos problemas. Assim uma doutrina fundada na realidade ôntica e nos princípios primeiros da Inteligência, será sempre a mesma filosofia e o seu desenvolvimento não será um progresso por substituição, mas um crescimento do interior para o exterior, como num processo de assimilação gerado por uma série de perspectivas sempre novas da mesma realidade: augere non addere. Incorporando o vir-a-ser no ser, a filosofia terá que explicar o próprio progresso técnico-científico, o progresso por substituição, revelando a interior unidade da variedade e a permanência do que É no fluxo do que vai se tornando. Assim a filosofia pode explicar o progresso das ciências, mas as ciências não podem explicar o desenvolvimento da filosofia.
Caso contrário, os problemas da filosofia poderiam ter alguma suposta explicação histórico-sociológica, as teorias seriam expressões de classes dominantes ou dominadas (Marx); haveria moral de senhores e moral de escravos (Nietzsche); explicar-se-ia paradoxalmente Sócrates pela sua origem plebleia e Platão pela sua ascendência aristocrática; dir-se-ia que o idealismo é uma filosofia burguesa; o intuicionismo bergsoniano a expressão do desespero de uma ordem social em vias de ruína, e o materialismo histórico a filosofia natural da classe operária. Interpretações essas, totalmente absurdas, totalmente insubsistentes e dignas unicamente de espíritos perturbados pela sociologia de Durkheim e o positivismo de Comte. Em primeiro lugar a mesma sociologia atual rejeita essas falsas interpretações com as leis da capilaridade social e da circulação das elites, com a análise da estrutura da sociedade, enquanto por outro lado se sabe hoje claramente que a interpretação econômica da história se funda numa crassa ignorância dos fatos históricos e do verdadeiro papel (negativo e não positivo) dos fatores econômicos e geográficos na história. E em segundo lugar porque tais interpretações grosseiras do pensamento filosófico confundem a essência da filosofia, com a ossatura das suas manifestações históricas, e partem de uma esquematização, de uma “racionalização” da realidade, que pretende reduzir a experiência humana à menor e menos significativa de suas partes, qual seja, a experiência sensível, que não tem nenhum sentido fora dos primeiros prinprincípios do Ser e da inteligência. Essas interpretações “científicas”, peculiares aos dias fúteis que estão acabando de correr, longe de explicar, em tudo falsificam as verdades do espírito, fazendo da realidade concreta um mito matemático, do homem que pensa, quer e sente, um animal puramente econômico e da existência dos seres e do Ser uma pura invenção social, explicável sociologicamente (Durkheim). [Barbuy]