Como já observamos, outro prestigioso representante do convencionalismo é Pierre Duhem, físico e historiador da ciência, que, com o seu famoso livro A teoria física: o seu objeto e a sua estrutura (1906), pretendia efetuar “uma simples análise lógica do método com o qual progride a ciência física”, convencido de que sua obra metodológica se houvesse “desenvolvido da prática cotidiana da ciência”.
Para Duhem, antes de mais nada, “uma teoria física não é uma explicação. E um sistema de proposições matemáticas, deduzidas de número restrito de princípios, que têm o objetivo de representar do modo mais simples, mais completo e mais exato um conjunto de leis experimentais”. Portanto, nada de explicações: “Uma teoria verdadeira não dá explicações das aparências físicas conforme à realidade, mas representa de modo satisfatório um conjunto de leis experimentais; teoria falsa não é tentativa de explicação baseada em suposições contrárias à realidade, mas conjunto de proposições que não concordam com as leis experimentais. Para uma teoria física, a concordância com a experiência é o único critério de veracidade.”
A teoria física, portanto, é um conjunto de proposições matemáticas, conjunto convencional e econômico tão mais poderoso quanto mais vasto é o número de leis deriváveis dele: “A redução das leis físicas a teorias contribui para essa economia intelectual na qual Ernst Mach vê o fim e o princípio de ciência”. E, na opinião de Duhem, existe o desenvolvimento da física no qual vemos luta contínua entre “a natureza que não se cansa de produzir” e a razão que não quer “cansar-se de compreender”: com efeito, “incansavelmente, o experimentador revela fatos até então insuspeitados e formula novas leis e o teórico elabora continuamente representações mais concisas e sistemas mais econômicos para que a mente humana possa acumular tais riquezas.”
A teoria física é construção do intelecto humano. E ela “não nos dá nunca a explicação das leis experimentais e não nos revela em caso algum as realidades que se ocultam por trás das aparências sensíveis. Mas, quanto mais se aperfeiçoa, mais percebemos que a ordem lógica em que ela dispõe as leis experimentais é o reflexo de uma estrutura ontológica”. [Reale]