Windelband, Wilhelm (1848-1915) Filósofo alemão (nascido em Potsdam); foi aluno de Fischer e de Lotze, e fundou a escola de Baden (ramificação do neokantismo); exerceu influência direta sobre Rickert, de quem foi professor. Considerado o fundador da axiologia a fim de interpretar o criticismo kantiano, Windelband atribuiu à filosofia a tarefa de elucidar os valores absolutos, lógicos, morais e estéticos que constituem a consciência normal ou consciência das normas. Sua obra mais importante é a Introdução à filosofia (1914). Ver neokantismo. [Japiassu]
Em seu “retorno a Kant”, Windelband certamente atribui à filosofia a função de buscar os princípios a priori que garantem a validade do conhecimento. Entretanto, são duas as coisas novas que ele introduz nessa questão: por um lado, esses princípios são interpretados como valores necessários e universais, tipificados pelo caráter normativo independente de sua realização efetiva; por outro lado, diferentemente da escola de Marburgo, Windelband se liberta da referência privilegiada ao âmbito do conhecimento para considerar a atividade humana também nos campos da moralidade e da arte.
Em suma, para Windelband, a filosofia “pesquisa se existe ciência, ou seja, pensamento, que possua o valor de verdade com validade universal e necessária; pesquisa se existe moral, isto é, valor e agir, que possua o valor de bem com validade universal e necessária; pesquisa se existe arte, vale dizer, intuir e sentir, que possua o valor de beleza com validade universal e necessária. Em todas essas três partes, a filosofia não se coloca diante do seu objeto (…) assim como as outras ciências colocam-se diante dos seus objetos particulares, mas sim criticamente, isto é, de modo a comprovar o material objetivo do pensamento, da vontade e do sentimento diante do objetivo da validade universal e necessária e de modo a separar e rejeitar aquilo que não consegue passar por essa prova”.
Assim, concluiu-se que a filosofia não tem por objeto os juízos de fato, mas Beurteilungen, isto é, juízo valorativos do tipo “esta coisa é verdadeira”, “esta coisa é boa”, “esta coisa é bela”. E é assim que os valores — que têm precisamente validade normativa — distinguem-se das leis naturais: a validade das leis naturais é a validade do Müssen, a validade empírica de não poder ser de outro modo; a validade das normas ou valores é a do Sollen, isto é, do dever ser.
Eis algumas afirmações explícitas de Windelband a esse respeito: “Por meio das leis naturais nós apreendemos os fatos, ao passo que segundo as normas devemos aprová-los ou desaprová-los (…). A norma nunca é princípio de explicação, como, ademais, a lei natural nunca é princípio de avaliação. O sol da necessidade natural brilha igualmente sobre o justo e o injusto, mas a necessidade que percebemos na validade das determinações lógicas, éticas e estéticas é necessidade ideal.”
Concluindo, deve-se dizer, portanto, que, para Windelband, a filosofia consiste na teoria de valores: que a função da filosofia, mais especificamente, está em estabelecer quais são os valores que estão na base do conhecimento, da moralidade e da arte; que a teoria do conhecimento, para além da concepção de alguns neokantianos de Marburgo, é apenas uma parte da teoria dos valores. [Reale]