Zubiri, Xavier (1898-1983)
Filósofo espanhol, professor na Universidade de Madri até 1936, e depois por um curto período na Universidade de Barcelona, tendo-se dedicado a partir de então a cursos privados por ter sido afastado da universidade por motivos políticos. Foi um dos principais representantes do pensamento filosófico contemporâneo na Espanha. Dedicou-se sobretudo à investigação de problemas de ontologia, estética e filosofia da religião. Critica o racionalismo clássico, procurando superar a oposição entre sentidos e inteligência, imaginação e razão, logos teórico e logos poético. Destacam-se a esse propósito suas obras: Inteligencia sentiente (1980), Inteligencia y logos (1982) e Inteligencia y razón (1983), bem como El hombre y dios (1984). [Japiassu]
Zubiri, Xavier (1898-1981)
Nasceu em San Sebastian, Espanha, e estudou filosofia em Lovaina, a qual completou em Madrid com o doutorado. Catedrático de história da filosofia na Universidade Complutense desde 1926. Em 1941 abandonou a cátedra oficial para dedicar-se a realizar cursos em diversas universidades e instituições. Zubiri foi reconhecido como um dos grandes mestres do pensamento e da filosofia durante mais de meio século na Espanha. Em volta de sua pessoa e de seus escritos, girou um número de filósofos, pensadores, científicos e humanistas com influxo notável em diversas áreas da vida espanhola. De seu grupo de amigos, discípulos e companheiros cabe citar Aranguren, Pedro Laín Entralgo, Zaragueta, J. Marias e uma geração mais próxima de nós de estudiosos e seguidores do mestre, entre os quais cabe mencionar González de Cardeal (teólogo), I. Ellacúria (teólogo da libertação, assassinado em 1989 em El Salvador).
Duas notas distinguem a pessoa e o pensamento de Zubiri, segundo Laín Entralgo, baseadas em sua autenticidade, integridade e precisão. A primeira delas é sua atualidade. “A atualidade de Zubiri não consiste, logicamente — diz Laín — num simples estar no dia. …A essencial atualidade dessa filosofia vem de ser ‘hoje’ e ‘no ato’ a forma pessoal ou zubiriana de uma tradição que parte de Anaximandro, Heráclito e Parmênides, passa por Platão e Aristóteles, e depois pela especulação dos filósofos cristãos, continua com o pensamento dos filósofos modernos, cristãos ou não, e vai prosseguir enquanto o homem como tal continue existindo…”.
“A segunda nota essencial da obra filosófica zubiriana é a fundamentalidade. Mas essa condição genérica de toda autêntica filosofia personaliza-se na de Zubiri por algo duplamente peculiar e decisivo: a atribuição de um caráter formalmente teologal ao fundamento da filosofia que ele criou e a metódica e rigorosa exploração intelectual da teologalidade, sit venia verbo, enquanto dimensão essencial da existência humana e, por conseguinte, enquanto nota fundante do sistema filosófico de que ele é o autor”. Para Zubiri, de fato, a fundamentalidade da existência humana faz-se patente e atual em nossa religação ao que nos faz existir, “ao que faz que haja”… “Ut infirma per media ad summa redducantur”, era a fórmula do Pseudo Areopagita para expressar a função do homem na economia da criação. “As criaturas, disse São Paulo, abrigam uma esperança: de serem também elas libertadas do cativeiro da corrupção para participarem da liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (Rm 8,21).
Ter cumprido, estar cumprindo essas ordens nos decênios centrais e finais do século XX, e ter dado, estar dando forma a esse cumprimento através da ciência, da história e da metafísica, eis a chave da obra filosófica, cujas notas constitucionais e constitutivas teve a ousadia de nomear e descrever. Por isso, a obra de Zubiri deve ser entendida como um poderoso, rigoroso, esplêndido esforço até a salvação intelectual através da história, da ciência e da metafísica” (La filosofia de Javier Zubiri: El País 13.14-2-1981).
Zubiri procurou elucidar e apreender o que constitui realmente a realidade, tanto em seu ser real enquanto real como em seu ser tal. A realidade é prévia ao ser; longe de ser a realidade um tipo de ser, por mais fundamental que se suponha, o ser se funda na realidade. A realidade, portanto, é algo “seu”. Fundamental, dentro deste pensamento, é a relação possível entre uma “filosofia intermundana”, que é a que Zubiri desenvolveu com mais detalhe, e uma “filosofia transmundana”, à qual parece apontar com frequência. Isso pressupõe que a realidade é primeiro inteligível. A realidade se dá como realidade sentida, podendo o homem ser definido como “animal de realidades” ou “inteligência que sente”, “cuja função primária é enfrentar-se sentidamente com a realidade das coisas”.
Toda a sua obra gira em torno desta realidade primeira. Começa com Natureza, História, Deus (1944); Sobre a essência (1962); Cinco lições sobre filosofia (1963); para terminar com Inteligência sensitiva (1980, ‘); Inteligência e logos; O homem e Deus; Sobre o homem, e Estrutura dinâmica da realidade (póstuma).
BIBLIOGRAFIA: Homenaje a Zubiri. 1973; Ferrater Mora, Diccionario de filosofia, com abundante bibliografia. [Santidrián]