Como exemplo da doutrina pitagórica acerca do homem, podem-se tomar alguns fragmentos ou doxografias de Alcmeão de Cróton, que pertencia à escola ou pelo menos em estreita relação com ela, e que, no dizer de Aristóteles, era ainda jovem quando Pitágoras já entrara em sua velhice. O significado de Alcmeão, como é bem sabido, reside principalmente em suas investigações fisiológicas, médicas e psicológicas.
“Alcmeão diz que (a alma) é imortal por parecer-se às coisas imortais, e isto é assim por estar sempre em movimento; pois todas as coisas divinas movem-se sempre continuamente: a Lua, o Sol, os astros e todo o céu.” (Aristóteles, De Anima, I, 2. 405 a 429 e ss.)
“Alcmeão afirma que o homem se distingue dos demais entes porque só ele pensa, enquanto os demais entes têm sensação, mas não pensam.” (Teofrasto, Das sensações 25.)
“Diz Alcmeão que os homens perecem porque não podem unir o princípio com o fim.” (Aristóteles (?), Problemas, XVII, 3. 916 a 933 e ss.)
Aparecem claramente assinalados três momentos Importantes: em primeiro lugar, a distinção entre o corpo e a alma; em segundo lugar, a diferença entre o homem e o animal, reconhecida em sua faculdade pensante; em terceiro lugar, a relação com os deuses e o problema da imortalidade. A alma humana é imortal por sua relação com as coisas divinas, às quais se assemelha por seu eterno movimento; esta teoria terá repercussões em Platão (cf. Fedro, 245 e ss.); mas, por outro lado, cabe ao homem certa mortalidade por não possuir o movimento perfeito, circular, dos astros divinos, que simboliza a eternidade por sua união do princípio com o fim. Encontramos já, neste pitagórico, os pontos capitais que a especulação helênica acerca do homem irá abordar.
Além das obras gerais para o estudo dos pré-socráticos, podem-se consultar sobre Alcmeão: Wachtler: De Alcmaeone Crotoniata (Leipzig, 1896), e Beare: Greek Theories of Elementary Cognition from Alcmaeon to Aristotle (Oxford, 1906). [Julián Marías]