(gr. heros; lat. Heros; in. Hera; fr. Héros; al. Heros; it. Eroé).
Segundo Platão, os heróis são semideuses nascidos de um deus que se apaixonou por uma mulher mortal ou de um homem mortal que se apaixonou por uma deusa (Crat., 398c). Obviamente, com essa definição Platão relegava a noção de herói à esfera do mito, assim como pertence ao mito a “idade dos herói” de que falavam Hesíodo e o próprio Platão (v. idade); com isso, expungia essa noção, pelo menos implicitamente, do campo da filosofia. Aristóteles admitia essa expunção, quando observava: “Se houvesse duas categorias de homens tais que a primeira diferisse da segunda tanto quanto se julgava que os deuses e os heróis diferiam dos homens, sobretudo pela valentia física e pelas qualidades da alma, então sem dúvida ficaria evidente a superioridade dos governantes sobre os governados, etc.” (Poi, VII, 14, 1332b 17). Foi só com o Romantismo que se começou a acreditar na existência de indivíduos excepcionais, nos quais se encarna a Providência Histórica e que, portanto, estão destinados a cumprir tarefas predominantes. Hegel vê nos heróis, ou “indivíduos da história do mundo”, os instrumentos das mais altas realizações da história. São videntes; sabem qual é a verdade do seu mundo e do seu tempo, qual é o conceito, o universal próximo a surgir; os outros reúnem-se em torno da bandeira deles, porque eles exprimem aquilo cuja hora é chegada. Aparentemente, tais indivíduos (Alexandre, César, Napoleão) nada mais fazem que seguir sua própria paixão, sua própria ambição; mas, segundo Hegel, trata-se de astúcia da Razão, esta utiliza os indivíduos e suas paixões como meios para realizar seus próprios fins. O indivíduo, em certo ponto, perece ou é levado à ruína pelo sucesso: a Ideia Universal, que provocara esse sucesso, já alcançou seu fim (Phil. der Geschichte, ed. Lasson, p. 83). Nos heróis, age a mesma necessidade da história, e por isso resistir a eles é inútil. “Eles são levados irresistivelmente a cumprir sua obra” (Ibid., p. 77). Em conceito análogo inspirava-se T. Carlyle em sua obra Os heróis e o culto dos heróis e o heroico na história (1841): “A história universal, a história daquilo que o homem realizou neste mundo, substancialmente outra coisa não é senão a história dos grandes homens que aqui agiram. Foram estes grandes homens os líderes da humanidade, os inspiradores, os campeões, e, lato sensu, os artífices de tudo aquilo que a multidão coletiva dos homens cumpriu e conseguiu” (Heroes, liç. 1). Esse “culto dos Heróis”, como Carlyle denominava, tem dois pressupostos: 1) o caráter providencial da história, que, segundo se crê, destina-se a realizar um plano perfeito e infalível em cada uma de suas partes; 2) o privilégio, concedido a alguns homens, de serem os principais instrumentos da realização desse plano. Estas duas crenças constituem as características da concepção romântica da história; subsistem e caducam com ela. [Abbagnano]
(do gr. hêros, semideus), homem cuja vontade de “superação” o eleva acima dos outros. — No sentido clássico, o herói se define pelo gosto do risco e o seu protótipo é o guerreiro aureolado de sucessos militares: o herói da Antiguidade grega ganhava esse título manifestando por grandes feitos uma força física extraordinária (por ex., Hércules, que no seu berço estrangula uma serpente com as mãos; Aquiles, cujo aparecimento aterrorizava os exércitos). Este sentido militar só é aplicado hoje, devido aos modernos meios da guerra, aos “são e salvos” que cumpriram o dever por mera obediência; acontecimentos que escaparam à sua vontade fazem com que os consideremos retrospectivamente heróis. A verdadeira acepção da palavra implica, ao contrário, numa ação ou criação positiva: o herói é aquele que encarna uma causa nacional ou revolucionária, que faz a unanimidade em torno de si e constitui uma verdadeira força histórica (todas as grandes figuras nacionais ou políticas são, nesse sentido, heróis). Finalmente, o herói pode ser o criador de valores culturais importantes: Bergson (em As duas fontes da moral e da religião) considerava Sócrates e Cristo como heróis, tendo Cristo revelado à humanidade o valor da “caridade”, da mesma maneira, aliás, que Rousseau, que lhe revelou o “sentimento da natureza”. De maneira geral, o herói representa um estilo de vida (do mesmo modo que o “santo” e o “sábio”), que se contrapõe à vida “prosaica” e se caracteriza por uma atividade criadora de particular fecundidade (enquanto que o “santo” e o “sábio” nada criam no mundo; um, dele se destaca e se abstrai; o outro, goza de sua simples e serena contemplação). (V. santo, sábio.) [Larousse]