Em seu sentido literal, a expressão significa o conjunto de produtos culturais, industrialmente realizados, que visam ao consumo das mais diversas segmentos sociais. Como tal, a cultura de massa opor-se-ia à cultura de elite ou superior e teria seu advento possibilitado pelo desenvolvimento técnico-industrial. Dentro desta concepção restrita, ela seria a modalidade moderna por excelência da cultura. Implicitamente, dentro desta concepção se punha o ensaísta W. Benjamin. Embora sem usar a expressão, sua ideia era que os produtos de cultura de massa implicariam a ruptura da descrição clássica do fenômeno estético, a perda da primazia da noção de beleza, substituída pela de divertimento. A crítica da obra agora se exerceria acompanhada do prazer da participação e não desligada do divertimento. Ademais a arte própria à cultura de massa haveria de procurar seu meio em instrumentos que admitissem a realização da nova experiência estética: a experiência da coletividade. É assim que, por exemplo, interpreta a posição progressista do público quanto ao cinema de Chaplin e reacionária quanto à pintura de Picasso. O cinema e a pintura de cavalete seriam, respectivamente, meios ajustado e não-ajustado à experiência estética da modernidade. Contudo a própria inferioridade numérica dos Chaplin impede que a concepção restrita da cultura de massa seja satisfatória. Noutras palavras, a interpretação de Benjamin fracassou historicamente porque as possibilidades de realização da nova experiência estética foram sufocadas pelas premissas do sistema capitalista, onde elas se deram. A compreensão mais abrangente do fenômeno passa a levar em conta duas ordens de fatores: 1) de natureza sócio-econômica, 2) de ordem simbólica. Na primeira espécie, são relevantes os elementos seguintes: a) a cultura de massa tem como base material o desenvolvimento de uma tecnologia causadora da comunicação industrial, formada pela rede dos mass media; b) este desenvolvimento se deu no interior de um sistema caracterizado pela propriedade privada dos meios de comunicação, tornando arriscada ou danosa a feitura de produtos que ameaçam a margem de lucros necessária ao crescimento da empresa privada. Isto então leva a que os produtos industriais produzidos/reproduzidos procurem uma alta taxa de redundância em sua linha. — Só a consideração, contudo, deste feixe, não basta para se entender o sentido atual da cultura de massa. Considerando-o exclusivamente, a expressão poderá ser tomada como mero sinônimo de comunicação de massa. Assim em geral acontece, os autores empregando esta ou aquela expressão sem maior precisão diferen-segunda ordem. A R. Barthes se deve o início de determinação do elemento de natureza simbólica. Utilizando conceito da linguística e interpretação desenvolvida pela antropologia estrutural, Barthes explica a cultura de massa por sua relação opositiva quanto à cultura superior (ou de elite ou dotada de status universitário) . As duas expressões não são indicativos de valor, contrapondo baixa a alta qualidade, mas sim são elementos que, estabelecendo uma descontinuidade, permitem ao homem contemporâneo pensar a realidade da cultura. CM e CS são entendidos como elementos de significação zero, a exemplo dos fonemas; valorizar os fonemas ou as modalidades de cultura apenas desvia o analista de seu verdadeiro objeto. Barthes, é certo, apenas sugere esta linha e não procura relacioná-la com o feixe anterior de ordem sócio-econômica. A vantagem de o analista praticar esta reunião consiste em assim alcançar a sócio-lógica do fenômeno, ultrapassando os enfoques apenas lógico — como ainda permanece o de Barthes — ou tão só e abusivamente sociológico, que é o generalizado tanto por parte dos que condenam quanto da parte dos que endeusam os produtos de cultura de massa. A combinação dos fatores pertencentes àquelas duas ordens permite ademais ao analista explicar, por exemplo, o que há de comum e o que há de diverso entre a experiência da TV cubana, da TV estatal e da televisão comercializada. Este modo de enfoque encontra-se, porém, apenas em seu começo. Tentativa de desenvolvimento seu foi feito pelo autor deste verbete na “Introdução” do livro Teoria da cultura de massa. (Luiz Carlos Lima – DCC)