MARCEL (Gabriel) filósofo e escritor francês (Paris 1889). Liga-se à corrente do existencialismo, isto é, a uma filosofia baseada na descrição das situações e dos sentimentos humanos; imprime-lhe um caráter cristão que o aproxima de Kierkegaard e de Jaspers. A reflexão de G. Mareei focaliza-se nas relações humanas (onde a noção fundamental é a da “fidelidade”) e na noção do outro, que conduz à noção de Deus. Devem-se-lhe ensaios filosóficos: Existência e objetividade (1914), Diário metafísico (1914-1923), Ser e haver (1918-1933), Da recusa à invocação (1940), Homo viator (1944), A metafísica de Royce (1945), e peças de teatro, como: Um homem de Deus (1925) e O caminho de crista (1936), Roma não está mais em Roma (1951) e Os corações ávidos (1953). [Larousse]
Gabriel Marcel soube manter um equilíbrio feliz e aventurar-se nos caminhos do pensamento mais moderno sem prejudicar a ortodoxia. Ser e ter, tal é o título de um dos seus livros e tal é, com efeito, a questão. Há o que somos e o que temos; nem sempre temos o que somos, e torna-se preciso adquiri-lo; nem sempre somos o que temos e que cumpre por vezes eliminar. Homo viator, é como ele intitula um outro livro no qual recorda que estamos em caminho, in via, como dizia a Idade Média, e não ainda no porto, que existe uma insatisfação fundamental com a vida, que é preciso haver uma satisfação total, pois esta nos foi prometida, e que depende, em parte, de receber. Destarte nos são evocadas antigas verdades com um acento contemporâneo e sob a roupagem das disciplinas de nossos dias.
O próprio pensamento laico protestou contra essas pretensões do homem considerado nas suas atividades mais exteriores e rudimentares a definir por elas o todo inteiro e ouvimos Julien Benda trazer à baila, com um vigor talvez exagerado e com cores muito carregadas, um anti-intelectualismo renovado de Spinoza e Renouvier. Penetramos mais fundo no problema do espirito e da realidade do espírito com o pensador russo Nicolau Berdiaeff. [Truc]