Filosofia – Pensadores e Obras

Husserl

HUSSERL (Edmund), filósofo alemão, fundador da fenomenologia (Prossnitz, Morávia, 1859 — Friburg-en-Brisgau 1938). Aluno de Fr. Brentano, ensinou filosofia em Halle, Göttingen e Friburg-en-Brisgau. Matemático por formação, Husserl foi inicialmente um lógico dedicado a “descrever” as operações do espírito, a destacar as “essências” que a inteligência percebe nas relações lógicas. Torna-se então o teórico da “experiência vivida” subjacente a qualquer operação mental. Escreveu notadamente: Pesquisas lógicas (1900), Ideias para uma fenomenologia pura (1913), Lógica formal e transcendental (1929), Meditações cartesianas (1932) e Experiência e julgamento (1939). Sua fenomenologia, que foi inicialmente uma lógica, desdobrando-se mais tarde numa filosofia do espírito e finalmente numa filosofia da vida, exerceu uma profunda influência sobre Scheler, Heidegger e o existencialismo (Sartre, Merleau-Ponty), como também junto aos lógicos (intuicionismo de Brouwer). Suscitou, enfim, em toda a cultura filosófica, uma profunda corrente fenomenológica (Congressos internacionais de Royaumont, de Krefeld). (V. fenomenologia, redução, epoché). [Larousse]


Nascido em Prossnitz (Morávia) em 8 de Abril de 1859. Estudos secundários em Olmütz. Estudos universitários em Viena, Leipzig e Berlim, apresentando na primeira destas universidades em 1883 a dissertação de doutoramento em Matemáticas Beiträge zur Variationsrechnung (Subsídios para o cálculo das variações). Descobre pouco depois a sua vocação filosófica em Viena, ao frequentar, a conselho do seu amigo Masaryk, futuro presidente da Checoslováquia, os cursos de Franz Brentano. Em 1887 apresenta, sob o patrocínio do psicólogo Carl Stumpf, o trabalho de habilitação (Habilitationsschrift) Ueber den Begriff der Zahl (Sobre o conceito de número) que lhe permite ensinar, como Privat-Dozent, na Universidade de Halle a. S.. As ideias compendiadas nessa dissertação foram depois refundidas e ampliadas, dando origem à primeira parte, única publicada, de Philosophie der Äritmetik. Psychologische und logische Untersuchungen (Filosofia da Aritmética. Investigações psicológicas e lógicas, 1891). A partir desta data até 1900 elabora Husserl, gradualmente, a sua filosofia, criando uma terminologia própria, haurida em parte na tradição filosófica, embora utilizada em acepção por vezes bem diferente, tendo menos em conta o significado usual que o sentido etimológico. É neste período que vai superando as posições cientistas e psicologistas e é ainda então que sofre influências dos grandes clássicos da filosofia inglesa, especialmente Locke e Hume, objecto de cursos e lições de seminário, utilizando materialmente problemas desses pensadores que se transformam em questões dè grande importância depois de integradas na filosofia husserliana. Em 1900 é nomeado professor de filosofia na Universidade de Göltingen; ainda nesse mesmo ano aparece o primeiro volume (las Logische Untersuchungen (Investigações Lógicas), logo seguido no ano imediato pelo segundo volume, que inauguram o pensamento fenomenológico de Husserl e se podem considerar o fruto das reflexões da época de Halle a. S.. Esta obra concede-lhe renome nos círculos filosóficos. Göttingen é a época da grande irradiação docente de Husserl. O ano de 1913 pode considerar-se decisivo para a formação da chamada escola fenomenológica; o número de aderentes e discípulos é suficiente para se fundar o órgão do movimento, o Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung (Anuário de Filosofia e Investigação fenomenológica), editado por Husserl em colaboração com M. Geiger, M. Scheler, A. Pfänder, A. Reinach e mais tarde M. Heidegger e O. Becker, onde, nos grossos onze volumes publicados até 1930, se reuniram algumas das mais importantes contribuições filosóficas dos três primeiros decénios deste século e em cujo volume inicial se imprimiu a primeira parte de ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie (Ideias para uma Filosofia pura e Filosofia fenomenológica). No ano de 1916 aceita um convite da Universidade de Friburgo para reger uma cátedra de filosofia. Nesta cidade decorre o último período da sua vida, por completo entregue ao labor docente e à investigação, só dela se afastando (1922) para uma curta estadia em Londres, onde profere algumas lições. Em 1928, ano em que foi jubilado, aparecem as Vorlesungen zur Phänomenologie des inneren Zeithewusstseins (Lições sobre a Consciência interna do Tempo), obra do período de Göttingen, editada por M. Heidegger. Em 1929, Formale und transzendentale Logik (Lógica formal e transcendental). Nesse mesmo ano desloca-se a Paris e a Estrasburgo onde faz conferências sobre as suas doutrinas filosóficas e cujo fruto é a obra, apenas editada em tradução francesa, Méditations Cartésiennes. Introduction à la Phänomenologie (1933). A partir de 1933, com o advento do regime nacional-socialista, é pouco a pouco afastado da vida oficial por ‘não ariano’, até ao ponto de o seu nome vir a ser riscado da lista dos professores e lhe ser vedado o acesso a todas as dependências da Universidade. Qualquer expressão do seu pensamento lhe é proibida; as obras da sua autoria continuam à venda e é possível mesmo consultá-las em bibliotecas, mas não podem ser reeditadas. A reflexão sobre o significado dos acontecimentos políticos e seus perigos para a humanidade europeia leva-o a meditar nos problemas do sentido da História. Declina um convite da Universidade de Califórnia do Sul, em parte para não agravar a sorte dos ‘não arianos’ no Terceiro Reich, mas também conduzido pela convicção da imensa tarefa filosófica que sente ainda ter por realizar e que só na tranquilidade de Friburgo poderá concluir. Desloca-se a Viena (Maio de 1935) e a Praga (Novembro de 1935) onde se exprime livremente sobre a crise da humanidade europeia, sobre a missão do Ocidente, sobre o naturalismo, que vicia a interpretação da natureza dos povos, ideias estas que irá retomar e sistematizar na primeira e segunda partes de Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie (A Crise das Ciências europeias e a Fenomenologia transcendental), aparecido em 1936 na revista Philosophia de Belgrado.

Depois da sua morte (27 de Abril de 1938) publicou-se ainda, redigida e editada por L. Landgrebe, a obra Erfahrung und Urteil (Experiência e Juízo), Praga, 1939. Entretanto, lodo o espólio cientifico do Mestre de Friburgo, ao cuidado de sua viúva Malvina Husserl, encontrava-se ameaçado de destruição por parte das autoridades nazis. Depois de uma série de conversações entre a viúva e o R.P. H. L. van Breda OFM, são levados clandestinamente para a Bélgica os manuscritos filosóficos, onde, no Instituto Superior de Filosofia da Universidade de Lovalna, reunidos aos livros e demais instrumentos de trabalho do falecido pensador, serviram de base à criação dos Arquivos Husserl. Neles, o espólio intelectual do filósofo vem sendo catalogado, transcrito, estudado e editado por especialistas e facultado a todos os estudiosos. [Morujão]


Edmond Husserl, nascido em 1859 em Presznitz (Morávia), de família israelita. Estudos científicos em Viena. Doutoramento em 1883: Contribuição para a teoria dos cálculos das variações, tese de Matemáticas. Suas primeiras publicações referem-se à lógica das matemáticas e à logística: Filosofia da aritmética, publicada apenas a primeira parte (1891) As Investigações Lógicas, I, 1900; II, 1901. Husserl é nessa ocasião professor em Halle. A partir de 1906, leciona em Gotinga numa atmosfera ardente onde se formam os primeiros discípulos (A Ideia da Fenomenologia. 1907). É então que publica o célebre artigo de Logos, A filosofia como ciência rigorosa (1911) e o primeiro tomo, o único publicado em sua vida, Ideias Diretrizes para uma Fenomenologia Pura e uma Filosofia Fenomenológica 1913) (Ideen I). A partir de 1916 obtém a cátedra de Friburgo. Martin Heidegger, seu aluno, edita seus Prolegômenos à Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo (1928). Depois, Husserl publica sucessivamente a Lógica Formal e Transcendental (1929), as Meditações cartesianas (em francês 1931), A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental (1936) (Krisis), Experiência e Juízo (editado por seu aluno Landgrebe em 1939).

Husserl, sob pressão do domínio nazista, teve de abandonar sua cátedra em Friburgo. Morre em 1938. O R. P. Van Breda, seu aluno em Friburgo, temendo o anti-semitismo hitleriano, transporta clandestinamente para Lovaina, onde era professor, a biblioteca e as obras inéditas de Husserl. Os Arquivos Edmond Husserl, instalados em Lovaina, catalogam trinta mil páginas de inéditos, muitos deles estenografados, e prosseguem na publicação das obras completas: Husserliana, editada em Haia por Martinus Nijhoff; atualmente editados: t. I contendo as Meditações cartesianas (texto alemão inédito); t. II contendo Die Idee der Phanomenologie; t III, IV e V, compreendendo respectivamente Ideen I, II e III, as duas últimas inéditas; t. VI contendo Die Krisis; os t. VII e VIII contém as anotações escritas para os cursos de 1923-24, e t. IX, os cursos de 1925. [Lyotard]


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