Filosofia – Pensadores e Obras

eotécnica

Patrick Geddes dividiu as fases da técnica em três: a eotécnica, a paleotécnica e a neotécnica.

1) A eotécnica – Na realidade ele estudou as duas últimas, tendo deixado de lado a fase que Mumford chamou de eotécnica (eos, em gr. aurora, enquanto paleos, antigo). Essas três fases são sucessivas, mas uma superpõe-se à outra. Hoje, nos países mais civilizados, a neotécnica está instalada, mas ainda perduram elementos da eotécnica e da paleotécnica.

“Cada fase tem seus meios específicos de utilizar e gerar energias e suas formas especiais de produção. Finalmente, cada fase cria tipos particulares de trabalhadores, especializa-os de acordo com modalidades determinadas, estimula certas aptidões e atenua outras, e desenvolve certos aspectos da herança social” (Mumford).

A eotécnica, quanto à energia e os materiais característicos, é um complexo de água e madeira; a paleotécnica, um complexo de carvão e de ferro; e a neotécnica, um complexo de eletricidade e a biotécnica a época da energia atômica e outras energias a serem descobertas e controladas.

A eotécnica no Ocidente conhece seu momento mais alto no período compreendido entre o ano 1000 até 1750, que é o da eotécnica superior, e o anterior é o da eotécnica inferior. Segundo Mumford do ponto de vista sociológico, o Renascimento não foi a aurora de um novo dia, mas sim seu crepúsculo. No terreno sociológico, o sentido orgânico dos gregos e dos romanos, fora substituído pela direção espiritual-mística do cristianismo. Com o Renascimento, há um desejo de retorno ao orgânico, mas é impossível, porque a vida e o mundo estavam irremediavelmente modificados pela visão cristã. Deu-se o inevitável: retiraram do orgânico helênico apenas seu aspecto quantitativo, o mecânico, que encerra o movimento, o dinamismo, já não vital. Nas artes mecânicas deu-se um grande desenvolvimento. O homem diminuiu no sentir, mas aumentou no poder.

No século XIV, o moinho de água era empregado nas fábricas dos grandes centros industriais. Foi aproveitado para bombear água nas minas e triturar minerais. Graças a ele foi possível fazer foles mais poderosos, alcançar temperaturas mais elevadas, empregar fornos maiores, aumentando a produção de ferro.. Em 1438 criou-se a primeira turbina de vento que teve grande desenvolvimento com os holandeses. Nesta época dá-se o desenvolvimento industrial dos Países Baixos, centro de produção de energia, como seria a Inglaterra no regime do carvão e do ferro. O moinho, depois de construído, dá energia sem nenhum custo de produção, o que não se verifica com a máquina a vapor que, no início, é custosa. Eles contribuíam para enriquecer a terra e facilitavam a implantação de uma agricultura estável, enquanto as indústrias de mineração deixavam atrás de si ruínas e vilas despovoadas, terras cansadas e matas derrubadas, devido ao emprego da madeira para a construção das galerias.

Ela foi a matéria prima da economia eotécnica. As máquinas, empregadas na indústria eram de madeira, como o torno. Mas a necessidade de armaduras, canhões e balas de canhão, de metais para a guerra, favoreceu o desenvolvimento da arte da mineração. Foi o vento, a água e a madeira que se combinaram para uma produção técnica importante: a construção de barcos. A arte da navegação desenvolveu-se, graças aos grandes lucros que oferecia, e não só serviam aqueles para o comércio oceânico como também para os transportes regionais e locais.

Com o vidro surgiu a descoberta das lentes e do telescópio, permitindo a Galileu as suas observações astronômicas. Jansen inventou o microscópio composto e, provavelmente, também o telescópio, que permitiram estender o macrocosmos e o microcosmos, isto é, o mundo do imensamente grande e o do imensamente pequeno. Desta forma, a concepção do espaço modificou-se radicalmente.

A química obteve um grande progresso por ser o vidro um corpo de propriedades únicas, não só transparente e por não ser afetado pelas composições químicas. Além de neutro às experiências, permitia que o observador as acompanhasse com os olhos. Ademais, por ser passível de sofrer temperaturas relativamente altas e ser um grande isolador permitiu, além da criação da retorta, do tubo de ensaio, do barômetro, do termômetro, das lentes; na neotécnica permitiu a formação das lâmpadas de luz elétrica, dos tubos de raio X, etc. Além disso permitiu que através da luz por ele coada se percebesse melhor o pó que estava no ar. A necessidade de mantê-lo limpo para que por ele se coasse a luz, veio trazer um sentido de higiene muito mais apurado e, então, “a janela limpa, o assoalho lavado, os utensílios brilhantes foram a característica do lar eotécnico”.

Um outro invento veio permitir uma transformação nas condições do mundo eotécnico: a imprensa. Foi ela que desenvolveu uma série de indústrias, como a do papel, trazendo o desenvolvimento da cultura e da educação e, consequentemente, de novas necessidades humanas. [MFSDIC]