Numerosas ciências (a sociologia, como ciência das formas e estados sociais; a ética social; a pedagogia, a psicologia, etc; as ciências políticas, jurídicas e econômicas) investigam, ordenam e interpretam os fenômenos sociais, cada uma do seu ponto de vista. A filosofia da sociedade propõe-se interpretar a própria sociedade, a vida social em geral, partindo de seus últimos fundamentos, ou seja, partindo da índole naturalmente social do homem. Consiste esta índole ou natureza unicamente na insuficiência e consequente necessidade de complementação para determinados fins exteriores, ou consiste, antes, na possibilidade de edificar com a riqueza de suas disposições uma. comunidade como totalidade superior e, na comunidade com outros, lograr seu pleno desenvolvimento ? De fato, tudo aquilo que denominamos cultura só é realizável mediante o trato espiritual. Segundo a primeira concepção, o social seria simplesmente um suplemento e um recurso do homem; de acordo com a segunda, é algo essencial ao homem, e, via de regra, só dentro do social se consuma sua verdadeira humanidade. Não se pretende com isto negar que muitas associações (p. ex., para defesa de interesses) possuam só o caráter de associações auxiliares,” contudo, pelo menos, a família e o Estado são indispensáveis para que o homem se realize essencialmente enquanto homem.
Existem três possibilidades: 1) Considerar o homem perfeito, acabado em sisi mesmo, de sorte que só por motivos de oportunidade seja levado a associar-se (vantagens da divisão do trabalho, etc). O indivíduo é tudo; a sociedade fica reduzida a um meio sem valor próprio: individualismo. — 2) Considerar, ao invés, o homem como algo inacabado e dependente, que só enquanto membro da sociedade recebe um sentido essencial e um fim para sua existência. A sociedade é tudo, o indivíduo como tal carece de valor, vive e morre exclusivamente para a sociedade e por causa da comunidade: coletivismo. — 3) O homem individual possui o valor inadmissível de sua personalidade moral, que não lhe permite ser jamais simples meio para um fim, puro membro de um todo situado por cima dele. Contudo, o homem não é um ser acabado em si, mas sim dotado de essencial relação à comunidade. A comunidade (totalidade) não se contrapõe a seus membros como algo estranho; pelo contrário, não é mais do que a união dos mesmos. Estes, com sua substantivi-dade pessoal, não podem, nessa união (fundada precisamente em sua condição de pessoas), antepor-se nem subordinar-se a si mesmos (enquanto totalidade); antes, o que se verifica é uma relação que, por um lado, vincula cada um dos membros com o todo e, por outro lado, vincula este todo com cada um de seus membros: solidarismo. Visto tratar-se da sociedade humana, toda filosofia social deve tomar como ponto de partida o homem; e, atendendo a que se procura explicá la por suas últimas razões, deve incluir o homem no número de seus últimos fundamentos essenciais: a filosofia da sociedade é metafísica (ontologia), mais exatamente antropologia. Quando se diz que o homem, em última instância, vem de Deus, e que em Deus tem seu fim derradeiro, enuncia-se, em suma, a filosofia da sociedade. Se o homem foi elevado por Deus a uma ordem sobrenatural, com isso se alarga necessariamente o âmbito social; uma filosofia da sociedade, que pretendesse ignorar esta realidade, mutilaria os fatos, em vez de os explicar. — Nell-Breuning. [Brugger]