Filosofia – Pensadores e Obras

aitia

gr. substantivo feminino αἰτία, aitía, sunaitía ou synatía = responsabilidade, causa

O termo vem do verbo aínumai (tomar) através do adjetivo éxaitos (destacar do resto). No vocabulário jurídico aitia designa a responsabilidade (Gorgias, D.K. 82B 11 a 36). Platão utiliza o termo para designar a causa da geração e da corrupção das coisas sensíveis (Fedro, 96 al). Esta causa é por vezes identificada ao eidos (Fedro 99b-100d). No Timeu 46c-47a Platão faz uma distinção entre aitia e synaitia: o primeiro termo designa uma causa principal identificada à psyche e que produz seu efeito pela ação da inteligência, o segundo termo designa uma causa auxiliar, secundária ou concomitante que produz seu efeito pela ação do acidente, do azar. Aristóteles distinguiu entre a causa material, forma, eficiente e final (Met. A 3, 983 a 24-983 b6). Utiliza também o termo aitia para designar as premissas da demonstração (An. Post. II, 11, 94a 20-95a 9). Em Ética a Nicômaco III, 1112a 31-33, classifica entre as aitiai a natureza, a necessidade, o azar, o intelecto e a ação humana. (Y. Lafrance, Les Notioins philosophiques. PUF, 1990)


aitía (he): causa. Latim: causa. Mais raramente: aítion (tó) / aition (to)

Esse substantivo feminino e esse adjetivo neutro substantivado, usados pelos filósofos a partir de Platão, derivam do qualificativo aítios (aitios), que significa “autor de”: um homem de bem é autor de uma ação virtuosa, em geral de uma vitória. É desse termo que vem a palavra francesa étiologie (etiologia): procura das causas.

Segundo seu hábito, Aristóteles procurou definir as causas, e não a causa. Na Física (II, 7, 198a), chega ao célebre quarteto que será adotado no século XIII pelos escolásticos:

Matéria (hyle), ou seja, aquilo de onde saiu a coisa; por exemplo, o bronze para a estátua.

Forma (eîdos/eidos), ou seja, a própria natureza da coisa; por exemplo, a figura da estátua.

— Motor (kinêsan/kinesan), ou seja, o autor da mudança; por exemplo, o escultor.

Finalidade (tò hoû héneka / to ou heneka), ou seja, aquilo por que ocorre a mudança; por exemplo, a razão que impele o escultor a esculpir.

Aristóteles reincide na Metafísica, fazendo menção a aitía em seu apanhado histórico (A, 3), dedicando-lhe uma nota em seu vocabulário filosófico (A, 2) e no livro VIII sobre a matéria (H, 4). Alexandre de Afrodísia retoma essa exposição em seu tratado Do destino (III).

A noção de causa primeira (aitía próte / aitia prote) ocupa lugar importante entre os filósofos gregos. Confunde-se com a noção de princípio (arkhé / arche), mas aparece sob diferentes formas. Assim, em Fédon (97c), Sócrates espera encontrar “a causa de todas as coisas” (aítion pánton / aition panton). Em Timeu (29a), Platão considera que o mundo, que é a mais bela das coisas, requer um autor que seja a mais perfeita das causas (áriston tôn aitiôn / ariston ton aition). Distingue então duas espécies de causa: aquelas que, pela ação da inteligência, produzem o que é bom e belo; e aquelas que, privadas de racionalidade, agem por acaso (48e).

Do mesmo modo, Aristóteles constata que o filósofo, para explicar o conjunto das causas segundas, deverá remontar até a causa eficiente primeira, que ele chamará de primeiro Motor (Fís., II, 3,195b); este, confundindo-se com a Inteligência e o Bem, é ao mesmo tempo a causa final última. Desse modo, Deus é o primeiro Princípio (Met., A, 6-7,1071b-1072b).

Plotino concorda em parte com Aristóteles quando afirma que tudo ocorre por causas, e causas naturais; e que essa ordem e essa razão se estendem às mínimas coisas (IV, III, 16). Mas difere dele em sua classificação das causas: é preciso fazer a distinção entre causa dos seres e causa dos acontecimentos. No que se refere à primeira, há duas espécies de ser: aqueles que não têm causa, porque são eternos, e aqueles que têm sua causa nesses seres eternos (III, I, 1). Quanto aos acontecimentos, são de duas espécies: aqueles que são produzidos fora de nós, por causas exteriores à nossa vontade, fazendo parte da ordem natural, e aqueles que provêm de nossa interioridade (III, 1,10). [Gobry]


O conhecimento de uma coisa, qualquer que seja, supõe que se possa lhe atribuir uma causa, cuja definição permitirá não somente explicar porque esta coisa é o que ela é, mas ainda compreender porque esta coisa é o que ela é, o que é sua razão de ser. A única causa digna deste nome e desta dupla função é aquela cuja definição permite compreender o que é uma coisa qualquer. Enquanto se atém com os físicos a uma explicação pelas causa físicas (dizendo por exemplo que uma pedra é pesada em virtude dos elementos que a constituem), não se diz o que é uma coisa, não se faz conhecê-la. Eis porque Platão subordina a definição das causas físicas àquelas das causas finais, identificando a causa de uma coisa a sua razão. (Luc Brisson)