Substantivo feminino
pudor, recato
Para compreender este termo, dificilmente traduzível, que, em Hesíodo (Trabalhos e dias 200), é o nome de uma deusa, e que, depois em Homero, designa um sentimento moral importante na Grécia antiga, é preciso colocá-lo em relação com este outro termo, dike. Enquanto a dike, é a justiça tal qual se manifesta nos julgamentos e logo na condenação e na execução, a aidos, designa uma realidade mais interior de recato que, a respeito dos deuses, toma a forma da reverência e que, no mundo dos homens, comanda certas abstenções a respeito de um superior, de um parente, de um suplicante e de si-mesmo; ela aparece então como a contrapartida preocupada daquilo que um ser humano deve a seus semelhantes e si próprio; também segundo Demócrito (D.K. 68b 179), a aidos é a condição sine qua non da virtude (arete). No mito que relata Protágoras no diálogo ao qual Platão deus seu nome (Prot. 320c-322d), Zeus encarrega Hermes de levar aos homens a aidos e a dike que lhes permitirão se unir para se defender eficazmente e para criar uma ordem política. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles consagra todo um capítulo (IV,9) a mostrar que a aidos, que psicologiza reduzindo-a ao “pudor”, não é uma virtude, posto que ela não é um estado habitual, mas uma paixão passageira. (Luc Brisson, Les Notioins philosophiques. PUF, 1990)