(in Fideism; fr. Fidéisme, al. Fideismus; it. Fideismó).
Designou-se com este termo a concepção filosófica e religiosa defendida nas primeiras décadas do séc. XIX pelo abade Bautain, por Huet, por Lamennais (este último especialmente na obra Essais sur l’indifférence en matière de religion, 1817-1823); essa concepção consiste em opor à razão “individual” uma razão “comum”, que seria uma espécie de intuição das verdades fundamentais, comum a todos os homens. Esta intuição teria origem numa revelação primitiva que se transmitiria através da tradição eclesiástica; assim, serviria de fundamento da fé católica. Essa doutrina visava justificar o primado da tradição eclesiástica. Na realidade, negava à Igreja a prerrogativa de ser a única depositária da tradição autêntica e negava à tradição o apoio da razão. Depois da condenação da Igreja (1834), entre os escritores católicos esse termo assumiu conotação pejorativa, mas continua sendo usado até hoje para indicar, em geral, quaisquer atitudes que considerem a fé como instrumento de conhecimento superior à razão e independente dela. [Abbagnano]
(do latim fides: fé, portanto = filosofia fundada na fé) designa a doutrina, segundo a qual as verdades metafísicas, morais e religiosas, são inacessíveis à razão e só apreensíveis pela fé. Se esta for entendida como fé na autoridade, então o fideísmo identifica-se com o tradicionalismo. Geralmente, porém, caracterizam-se como fideísmo as correntes de pensamento, segundo as quais o supra-sensível é captado por meio de uma fé ou crença baseada no sentimento. Assim, a escola escocesa (Reid) invocava, para as verdades filosóficas fundamentais, o instinto natural da razão humana comum (common sense); Jacobi admitia um peculiar sentimento racional, à base do qual afirmamos na fé as verdades religiosas e morais. Schleiermacher fundamentava toda religião no “sentimento de pura dependência”. Esta redução da religião a mera crença irracional, que obteve ampla difusão na filosofia protestante da religião (Ritschl, A. Sabatier), procurou também ganhar terreno no âmbito católico, por meio do chamado modernismo. — Convizinham com o fideísmo aqueles que defendem que os primeiros princípios do pensamento só podem ser admitidos à base de um ato de confiança. — Contra o fideísmo deve afirmar-se que 1. é falsa sua hipótese de uma impossibilidade, por parte da razão, para conhecer o supra-sensível (metafísica, demonstração de Deus); 2. estabelece um critério insuficiente de verdade (critério de verdade), uma vez que, na realidade, só a evidência pode, em última instância, assegurar a verdade. — Santeler.