Filosofia – Pensadores e Obras

demonstração de Deus

O objetivo desta demonstração é provar cientificamente a existência de Deus, demonstrar portanto que Deus não é mera ideia (Kant), nem criação do desejo (Feuerbach) ou até “ficção útil” (Vaihinger), à qual na realidade não corresponde nenhum objeto. Ao contrário da experiência ou vivência do divino que, mediante uma intuição de cunho pessoal, nos convence, de maneira psicologicamente imediata, da existência de Deus, a demonstração articula sua estrutura lógica, a partir daquela experiência. Mercê deste seu cônscio afastamento de todos os fatores puramente subjetivos, a prova conserva sua necessidade lógica e seu valor universal, embora, as mais das vezes perca, com isso, força de convicção pessoal.

As pressuposições da demonstração da existência de Deus são, em parte filosóficas e, em parte, morais. Pressupõem-se, à base de um realismo sadio, a existência do mundo exterior e da experiência interna, bem como a validade objetiva dos conceitos universais e o caráter transcendente do princípio de causalidade, ou seja, as teses basilares da “philosophia perennis”. Devido a estas pressuposições, cada um dos quais deve ser explicitamente assegurada, em separado, ao processo frequentemente complicado do pensamento e às consequências práticas, a evidência das provas pode ser perturbada. Em todo caso, elas não necessitam o entendimento a assentir; a convicção da existência de Deus a ninguém pode ser “demonstrada” de maneira irresistível, mas continua sempre dependente de uma livre decisão do homem todo (certeza livre). Donde, a aceitação de toda prova da existência de Deus, sem prejuízo de sua validade lógica, pressupõe uma determinada atitude moral da alma: anelar sinceramente a verdade e estar disposto a não consentir que preconceitos e paixões, sejam de que espécie forem, impeçam de seguir a verdade conhecida (ateísmo).

A estrutura lógica da demonstração de Deus é a mesma em todos os casos. Seu ponto de partida nunca é uma pura ideia, mas sempre um fato experiencial, cujo caráter contingente ou limitado deve ser fixado. O princípio condutor, que nos permite a conclusão sobre Deus é invariavelmente o de causalidade (eficiente, final ou exemplar). Pelo que, do ponto de vista de sua estrutura fundamental, só há uma prova da existência de Deus, a saber: o raciocínio que parte do relativo para o absoluto, no qual uns consideram como expressão da relatividade predominantemente a contingência e outros, de preferência, a limitação, ou seja, a composição de ato e de potência. Cumpre todavia falar de várias demonstrações, tendo em conta os diversos pontos de partida, que permitem também situar em primeiro plano diversos atributos divinos.

A crítica da demonstração da existência de Deus dirige-se principalmente aos fundamentos da mesma. Assim, o agnosticismo de Kant, que até nossos dias continua exercendo profunda influência, nega a validade dos conceitos universais e do princípio de causalidade para além da experiência sensível, com o que se mina a base de toda e qualquer demonstração da existência de Deus (transcendência). Para a teologia protestante, de modo peculiar para a teologia dialética com sua negação da analogia entre Deus e a criatura, toda demonstração da existência de Deus é uma arrogância, porque torna Deus dependente de nosso pensamento. A escola de Bergson vê na demonstração escolástica de Deus uma “fragmentação”, uma distorção do ser fluente (filosofia da vida). Alguns, movidos por um certo anti-intelectualismo, põem em dúvida o valor prático desta demonstração e pretendem substituí-la por outras mais intuitivas (Scheler, Hessen, Laros). — Rast. [Brugger]