(gr. tonos; in. Tension; fr. Tension; al. Spannung; it. Tensioné).
1. Conexão entre dois opostos que estão ligados apenas por sua oposição. Segundo os antigos (v. Fílon, Rer. div. Her., 43), esse conceito constituía a grande descoberta de Heráclito; este dissera: “Os homens não sabem como aquilo que é discordante está em acordo consigo: harmonias de tensão opostas, como as do arco e da lira” (Fr. 51, Diels). Nesse sentido, os estoicos também falaram da tensão que mantém o universo coeso (Arnim, Stoic. fragm., II, 134). Enquanto a dialética é a unidade dos opostos como síntese ou conciliação, a tensão é o elo entre os opostos como tais, sem conciliação ou síntese. Por isso, as situações de tensão não permitem prever conciliação; essa palavra é usada com esse sentido mesmo na linguagem comum, como quando se fala da “tensão internacional”. No mesmo sentido, fala-se de “tensão psicológica” para indicar um estado latente de conflito.
2. Os estoicos (mais precisamente Cleantes; v. Arnim, Stoic. frag., I, 128) introduziram a noção de tensão como força tendente a um resultado: nesse sentido, é sinônimo de tendência ou de esforço, especialmente de esforço prolongado ou penoso. [Abbagnano]
(do gr. tonos, de teino, segurar, tomar; no radical sânsc. tan).
a) Usado pela escola estoica grega para indicar o esforço interno (a coesão interna), que dá a toda coisa a coerência de sua natureza, quer resida esse esforço na própria coisa, ou dado por uma outra mais perfeita. É algo em ato que coacta (co-acta) os elementos componentes de uma coisa, dando-lhe a coerência geral de sua estrutura. Vide existência e essência.
b) Chama-se de tensão, o esforço da vida mental, que oscila entre extremos na captação do conhecimento e no contato com as coisas do mundo.
c) Emprega-se ainda o termo para indicar o grau de deformação de um corpo produzido por um esforço determinado e estiramento muscular extremado produzido por um esforço voluntário.
e) Estado de desequilíbrio em um organismo, e que conduz a uma mudança de conduta com o fim de restaurar o equilíbrio.
Crítica: – Uma tensão consiste em uma unidade, que é especificamente diferente dos elementos componentes. A água não é uma espécie de oxigênio, nem do hidrogênio, nem corresponde a uma fase do desenvolvimento destes, porque surge de um correlacionamento arithmico, numérico no sentido pitagórico, sem o qual ela não seria água. Esse arithmos, esse número, é o pelo qual ela é o que ela é. É o seu esquema da tensão. Aristóteles entendia por causa formal, e também por forma das coisas físicas. Os correlacionamentos (cujo conceito está expresso na tríada pitagórica menor, a tríada da série) mostram-nos que, em suas atualizações correlacionais, os entes sofrem uma interatuação que modifica, total ou parcialmente, o arithmos de cada ser componente, permitindo o surgimento de um novo arithmos, especificamente outro, dando-se assim, ou a geração relativa ou a simples (a absoluta). A primeira dá-se quando há modificação apenas entre o minimum e o maximum do variável do arithmos (como, por analogia, no triângulo), cujo arithmos invariável é a triangularidade, mas o ser ele isósceles ou escaleno são “variantes” que não se afastam da invariância arithmica, pois a proporcionalidade intrínseca é a mesma O triângulo isósceles tem, por sua vez, uma proporcionalidade intrínseca específica, que é inclusa na da triangularidade; é uma espécie desta. A proporcionalidade extrínseca é a da figura deste ou daquele triângulo, e esta é variável. A variância dá-se “compreendida” na forma, que é invariante.
Fisicamente o homem tem um limite no seu conjunto: matéria e forma. Poderá atingir ao gigantismo, mas sempre haverá um limite até para a monstruosidade, que é um desmesuramento da natureza. Consequentemente, a variância figurativa tem limites. A geração será simples ou absoluta, quando os elementos componentes (a causa material) sofrem uma mutação na própria natureza. Na água, há uma geração relativa, segundo a físico-química, porque o hidrogênio e o oxigênio sofrem transformações permissíveis dentro de seus arithmói; de modo que nela permanecem virtualizados, podendo retornar ao estado atual anterior. Quando, porém, há mutação formal da natureza, como na assimilação, deixa totalmente de ser o que era (como no vegetal que se torna carne, como exemplificou Aristóteles), pois os elementos transformam-se. Na natureza a geração absoluta o é segundo uma certa esfera da realidade, não segundo todas, pois noutras é relativa.
Há numa unidade de mera agregação, como num monte de lenha, um esquema concreto de singularidade, e ele corresponde ao que esquematizamos por monte de lenha, mas a sua lei de proporcionalidade é extrínseca. Num ser vivo o esquema concreto é uma lei de proporcionalidade intrínseca singular, adequada ao arithmos daquele ser. Este ser, desta espécie, e aquele, da mesma espécie, o são porque a lei de proporcionalidade intrínseca invariante de ambos é a mesma, concretamente neles. O correlacionamento intrínseco do ser (pois ambos o reproduzem) é idêntico à mesma lei de correlacionamento. Contudo, ambos apresentam concretamente diferenças aritmológicas, de outros relacionamentos até de desmesuramentos que, no entanto, cabem no arithmos eidético do ser, que é revelado concretamente pelo que é, em ato, neste ou naquele indivíduo, desta ou daquela espécie. É o variante do arithmos do esquema concreto singular, que não contradiz o esquema eidético, que é a lei de proporcionalidade intrínseca.
O esquema concreto do ente é a sua haecceitas, heceidade (haec, isto, istidade), o arithmos da individualidade, da sua singularidade. Ele é composto do esquema eidético, que é imitado pelo ser, cuja lei de proporcionalidade intrínseca imita, assim como este triângulo aqui, feito entre este canto da mesa e este livro, a triangularidade, que é um ser eidético, meramente formal, que jamais está singularmente na coisa pois, do contrário, nela se individualizaria. O esquema eidético é um modo de ser, que não é nem singular nem individual, é apenas formal (eidos) na ordem do ser. É um logos possível de ser imitado, mas que no ser, não é apenas uma possibilidade, mas é da atualidade do Ser infinito, absoluto. Por isso surgem entidades que o copiam, como este triângulo, cujo relacionamento intrínseco das suas partes repete a proporcionalidade intrínseca da triangularidade infinita, que é um logos no Ser infinito e absoluto. Mas este triângulo que está aqui, é ademais proporcionado aos seres que o imitam. Não tem a perfeição do esquema eidético, porque é um esquema aqui, concreto, realizado por seres materiais que não podem atingir aquela perfeição. Portanto, é um triângulo imperfeito.
E note-se aqui a positividade da “teoria da relatividade”, que estabelece que as figuras geométricas reais, in concreto, não atingem a perfeição que pode ser expressa matematicamente. Não há na natureza, in concreto, nenhum triângulo perfeito nem pode haver. E a razão está em que este (haec) triângulo imita apenas a triangularidade invariante e o seu variante eidético, pois é qualitativamente isósceles ou escaleno, etc., mas é um triângulo de pedra, de madeira, cujas partes correlacionadas imitam a triangularidade, pois são esta pedra e esta madeira, e não a triangularidade da qual apenas participam formal e figurativamente. Portanto, este triângulo de pedra ou de madeira tem o seu arithmos concreto, o seu esquema concreto, que é uma síntese imitativa do esquema eidético, incluindo invariante e variante, e a proporcionalidade imitativa, intrínseca deste ser. O esquema concreto é a haecceitas, é este ser singular, que não nega, mas afirma o esquema eidético, que é da ordem do ser, imitado por aquele. Nós, porém, captamos proporcionadamente à nossa intencionalidade psicológica, o esquema concreto pela intuição concreta da coisa, e pela nossa mente realizamos a operação de destacar, de modo intencional, o esquema eidético, e construímos o esquema formal abstrato, que é eidético-noético, porque já traz a marca do nosso espírito (noûs).
Desta forma, há o esquema eidético na ordem do ser (positividade dos realistas na disputa dos universais); o esquema eidético imitado pelo ente singular, o esquema concreto (in re) – positividade dos realistas moderados e dos que aceitam a teoria da projeção, etc. -no ente individual; e o esquema posterior, post rem (positividade dos nominalistas) em nossa mente, que reproduz, com adequação, proporcionada ao nosso espírito, o esquema eidético e o concreto.
Pela teoria dos esquemas se conciliam todas essas positividades, e ainda mais a teoria da abstração dos tomistas, pois a mente tem o papel ativo de realizar a separação dos esquemas, e também a teoria da projeção dos escotistas, porque há, realmente, uma adequação da mente ao esquema concreto e ao esquema eidético, que ela pode captar verdadeiramente, no sentido clássico da verdade lógica, que é uma adequação da mente ao objeto (adaequatio intellectus et rei). A teoria dos esquemas concreciona, assim, o que há de unilateral nas diversas posições filosóficas, e permite uma visão mais clara da realidade do nosso conhecimento.
Quando os elementos componentes se correlacionam, de certo modo, há o surgimento de um novo esquema, que é especificamente diferente das partes componentes. Há aí um salto, o surgimento de um novo ser, que não é apenas a soma aritmética das partes, porque as partes sofrem mutações diversas, virtualizando-se para dar surgimento à atualização do novo ser. Há tamanhas mutações qualitativas e correlacionais que seria um erro reduzi-las apenas ao quantitativo, como o faz o materialismo vulgar. Há o surgimento de algo novo, de um novo ser. A água é algo novo que surge do hidrogênio e do oxigênio, que sofreram mutações, e são outros no novo composto, que é unitariamente um. Os elementos componentes tinham aptidão para correlacionarem-se desse modo, e ao surgir a nova lei de proporcionalidade intrínseca, surge um novo ser, uma nova tensão, com a sua esquemática completa. Há, aqui, um salto, algo que tem desafiado a argúcia do pensamento humano, e que tem sido solucionado de diversas maneiras, sem que qualquer delas nos satisfaça senão ocasional e provisoriamente. Mas as bases elementares da teoria dos esquemas, nos permite compreender o tema. Os elementos componentes da nova unidade podem e têm aptidão para diversos correlacionamentos, inclusive o que se deu, mostrado pela própria experiência, justificado pelo próprio advento. Em suma, os elementos componentes tinham aptidão para ser assumidos por uma nova proporcionalidade, uma proporcionalidade que é atualizada, que é concrecionada no novo ente. Essa aptidão dos elementos de se correlacionarem era um esquema que estava na ordem do ser, pois do contrário teria vindo do nada, o que é absurdo. Portanto, o que se deu era possível na ordem do ser, e tanto o era que se deu. Mas há aí algo que transcende aos elementos, porque nenhum deles, tomado isoladamente, tinha o esquema, mas apenas a aptidão para correlacionar-se desse modo com o segundo que, por sua vez, só tinha a aptidão de correlacionar-se com o primeiro. O que surge é algo que se dá fora de suas causas, algo que ex-siste. Há aqui um trans-imanente, um transcender à imanência dos elementos componentes, que se virtualizam na nova totalidade, para serem da totalidade, para estarem em função da totalidade. Ademais, esse todo não pode ser reduzido a uma simples soma das partes, porque é especificamente diferente, apresentando caracteres e propriedades que emergem da totalidade, e não das partes, pois nenhuma delas tinha, na sua emergência, tais propriedades ou caracteres, mas apenas a aptidão de unir-se com outra para surgir uma nova emergência. Essa nova emergência é diferente e independente das partes componentes; é outra. O novo ser é emergentemente novo. Temos aqui um salto importante, que uma visão puramente mecanicista não pode explicar. Esse fato admirável que surge, é uma assunção, pois o ente novo é assumido por uma forma que não é dos componentes, uma possibilidade do correlacionamento, e não dos correlacionantes, algo novo que vai repetir, por imitação, um possível da ordem do ser, que está contido no ato do seu poder, senão viria do nada, o que é absurdo. Nas tensões há, portanto, o surgir de algo novo sem necessidade de emprestar a sua origem ao nada, mas sim ao ser. [MFSDIC]
A tensão (no cronotópico, no complexo tempo-espacial) devém, funciona, e o devir é o seu processo estrutural. Todo processo implica procissões ativas e passivas. Em face de outras tensões, as modificações, de que sofre o seu aspecto funcional, são o seu “devir”, enquanto mantiver a estrutura, que tende a estatizar-se. Suas modificações decorrem da inter-atuação das suas partes e de outras tensões. Uma estrutura, entregue a si mesma, é impossível.
Podemos considerá-la, assim, apenas formalmente. A tensão que gera a estrutura posicional no tempo e no espaço é um modo do ser do Ser, uma possibilidade atualizada.
O constituir-se em tensão é um insistir do ser (sistere), que insiste, con-siste, re-siste, ex-siste. Todo in-sistir é um in-sistir para outrem in-sistir, por isso re-siste e, por isso, ex-siste para outrem e para si. A tensão é a coerência do in-sistir, já determinado. O ser corpóreo é tensão que se in e ex-tende (tempo e espaço). (v. ideia moderna de ser)
Há coerência onde há harmonia, e há harmonia onde há contradição.
A tensão in-siste e ex-siste quando se polariza. Há polarização, quando há estrutura e função (essência e existência). O ser como tensão pura é indeterminado, e toda determinação exige contradição, re-sistência.
A tensão pura é ausência de in e ex, é tensio. Como tensio (tensão) não é estrutura nem funcionamento (não processa).
O existir (tempo-espacial) é um modo do ser. E porque é, é uma de suas possibilidades que se atualizaram.
Sua razão é dada a posteriori, pois são os fatos que apontam simbolicamente a razão de si mesmos.
Queremos uma razão suficiente antecedente e não consequente, porque estamos imersos na temporalidade.
A razão, aqui, deve vencer o cronológico, mas o que é, comprova a asserção da sua possibilidade. Logo, a tensão pode ser in e ex porque é in e ex. Para ser in e ex, é preciso insistir e resistir, porque estar é resistir.
Portanto, na tensão pura do ser, coincidem todos os opostos, porque o que é, comprova que o ser é tudo quanto pode ser, como já o compreendia, com positividade, Nicolau de Cusa. [MFS]