(in. Fatalism; fr. Fatalisme, al. Fatalismus; it. Fatalismó).
Leibniz já distinguira do fatum estoico e cristão o ‘fatum mahometanum” ou “fatalidade maometana”, segundo a qual “os efeitos aconteceriam mesmo se a causa fosse evitada, pois são dotados de necessidade absoluta” (Op., ed. Erdmann, pp. 660, 764). Wolff empregava, para indicar essa doutrina;por ele atribuída a Spinoza, o termo fatalismo no texto De differentia nexus rerum sapientis et fatalis necessitais(1723), que é justamente dirigido contra Spinoza. Na verdade, porém, todas as concepções de fatalidade (destino) elaboradas pelos filósofos admitem que dela fazem parte outras causas determinantes, mas que estas são, por sua vez, determinadas pelas antecedentes, que são as próprias ações humanas, voltadas a evitar ou a alcançar certos resultados. E é, portanto, um termo polêmico com o qual os filósofos em geral designam a forma de necessitarismo de que não compartilham. Com mais rigor, esse termo pode ser adotado não para designar uma doutrina filosófica, mas a atitude de quem se entrega aos acontecimentos sem procurar alterá-los nem reagir. [Abbagnano]
A doutrina ou atitude que considera todos os acontecimentos como irrevogavelmente determinados por antecipação. — O fatalismo é uma atitude religiosa que concerne aos acontecimentos da vida humana. Distingue-se do “determinismo”, que se focaliza nas ocorrências da natureza e que é um princípio científico; enquanto o determinismo científico se opõe ao “indeterminismo” (indeterminação dos fenômenos da natureza), o fatalismo se opõe à liberdade humana: segundo ele, a existência é determinada anteriormente, de acordo com uma certa lei, por um destino inelutável. A maioria das doutrinas da Antiguidade grega reconhece que uma igual necessidade (ananke) dirige a vida dos homens e dos deuses: essa fatalidade toda-poderosa está presente na tragédia grega, onde o trágico é marcado precisamente pela impotência das vontades humanas em relação ao destino (por ex.: Édipo rei, de Sófocles); encontramo-la no fundo da filosofia estoica. Todas as teorias cristãs da “predestinação” sacrificam a liberdade à Providência. Fatalismo ou liberdade? Digamos que o destino é um objeto de crença e o fatalismo uma atitude sentimental, uma simples hipótese, enquanto que a liberdade é um dado da consciência, presente na experiência do ato voluntário, confirmado pelo da ação eficaz, quando nossa liberdade realiza alguma coisa que, sem a sua iniciativa, não teria existido. Não é por acaso que, na filosofia escolástica, o fatalismo era tido como um “argumento preguiçoso”. [Larousse]
Contrariamente à opinião corrente, há vários tipos de fatalismo.
Leibniz propôs uma classificação que, embora incompleta, se tornou clássica. Segundo Leibniz, existem três ideias de fatalismo: há um fatalismo maometano, outro estoico e outro cristão. De acordo com o primeiro, o efeito verifica-se ainda que se evite a causa, com se houvesse necessidade absoluta. O segundo ordena ao homem que aceite o destino porque é impossível resistir ao curso dos acontecimentos. Quanto ao terceiro, afirma que há um certo destino de cada coisa regulado pela presciência e a providência de Deus. Leibniz manifesta que este último fatalismo não é o mesmo que os dois anteriores e que, embora se pareça com o fatalismo estoico, se distingue deste porquanto o cristão, diferentemente do estoico, não só possui paciência perante o destino como também, além disso, se sente contente como que foi estabelecido por Deus. [Ferrater]