Filosofia – Pensadores e Obras

enteléquia

(gr. entelekia; lat. entelechia; in Entelechy fr. Entéléchie; al. Enteleckie; it. Entelechia).

Termo criado por Aristóteles para indicar o ato final ou perfeito, isto é, a realização acabada da potência (Met., IX, 8, 1050 a 23). Nesse sentido Aristóteles definiu a alma como “a enteléquia de um corpo orgânico” (De an., II, 1, 412 a 27). O termo que Ermolau Bárbaro traduzia para o latim como perfectihabia (Leibniz, Théod., I, § 87) foi retomado por Leibniz para indicar as substâncias simples ou manadas criadas, pois elas têm certa perfeição ou auto-suficiência que as torna origens das suas ações internas e, por assim dizer, “autômatos incorpóreos” (Monad., § 18). Na filosofia contemporânea, esse termo foi retomado pelo biólogo Hans Driesch, que nele centrou o seu vitalismo. Para Hans Driesch, a enteléquia é o princípio da vida nos seres animados: fator espiritual, irredutível a agentes físico-químicos (A alma como fator elementar da natureza, 1903; O vitalismo, 1906). [Abbagnano]


Aristóteles forjou este vocábulo apoiando-se na expressão “o fato de possuir perfeição”. Enquanto designar isto, o termo enteléquia significa atividade ou perfeição resultante de uma atualização. A enteléquia é então o ato enquanto realizado. Neste sentido, a enteléquia distingue-se da atividade ou atualização. Enquanto constitui a perfeição do processo de atualização, a enteléquia é a realização de um processo cujo fim está na própria entidade. Por isso, pode haver enteléquia da atualização, mas não do simples movimento.

Plotino utilizou também a noção de enteléquia, mas não aderiu à doutrina de Aristóteles, pelo menos no que se refere à sua aplicação à alma. Plotino afirmava (ENÉADAS) que a alma ocupa, no composto, o lugar da forma. Se tivermos de falar de enteléquia, será forçoso entendê-la como algo que adere ao ser de que é enteléquia. Ora, Plotino assinala explicitamente que a alma não é como uma enteléquia, pois a alma não é inseparável do corpo. Na época moderna, pôs-se geralmente de parte a noção de enteléquia e inclusive chegou-se-lhe a dar um sentido pejorativo do “não existente”, que ainda conserva na linguagem comum. Em certos momentos, porém, revalorizou-se o termo, como por exemplo na filosofia de Leibniz. Para Leibniz, as enteléquias são “todas as substâncias simples ou mónadas criadas, pois têm em si certa perfeição e há nelas certa capacidade de se bastarem a si mesmas que as torna fontes de suas ações internas e, por assim dizer, autômatos incorpóreos” (MONADOLOGIA) deve sublinhar-se que, em Leibniz, o termo continua a ter, como em Aristóteles, o significado primeiro de “o fato de possuir perfeição”. [Ferrater]