Filosofia – Pensadores e Obras

símbolo

(gr. symballein, in. symbol; fr. symbole; al. Symbol; it. símbolo).

1. O mesmo que signo. É com esta significação genérica que a palavra é mais usada na linguagem comum.

2. Uma espécie particular de signo. Segundo Peirce: “Um signo que pode ser interpretado em consequência de um hábito ou de uma disposição natural” (Coll. Pap., 4.531). Segundo Dewey, um signo arbitrário ou convencional (Logic, Intr., IV, trad. it., p. 93). Segundo Morris: um signo que substitui outro signo na orientação de um comportamento (Signs, Language and Behavior, I, 8). Segundo outros, um signo típico, em contraposição ao signo individual, que é a palavra como significado (v. palavra) (M. Black, Language and Philosophy, VI, 2; trad. it., p. 181). [Abbagnano]


A imagem ou objeto que representa uma coisa abstrata; a estátua da liberdade é um símbolo. — A noção de símbolo é um caso particular da de sinal: um sinal pode ser abstrato (um simples traço, uma cruz, uma flecha) e não tem necessariamente um significado simbólico. A expressão simbólica, de maneira geral, contrapõe-se à expressão racional, que expõe diretamente uma ideia, sem passar pelo desvio de uma figura sensível. Crê-se que a natureza do pensamento humano possui um caráter simbólico, na medida em que sua tendência natural, segundo Descartes, é de “exprimir imaginativamente as coisas abstratas, e exprimir abstratamente as coisas concretas”. Mais precisamente, um sentimento não pode exprimir-se racionalmente (través do discurso conceituai); só pode exprimir-se diretamente (como o sentimento religioso) através de símbolos e mitos. (V. Filosofia das formas simbólicas, de Cassirer.) [Larousse]


(do grego symballein = reunir) é, etimologicamente, um sinal de reconhecimento, mediante o qual o fragmento de um objeto (p. ex., de um anel), dividido em dois, se adaptava exatamente ao outro. Na linguagem corrente atual dá-se, às vezes, o nome de símbolo a um sistema de sinais; assim, p. ex., falamos dos símbolos da logística. Em sentido próprio, símbolo é equivalente de imagem sensível e denota um sinal patente de uma realidade supra sensível, que por natureza se presta a ilustrá-la e é imediatamente compreensível dentro de uma determinada comunidade (p. ex., o cetro como símbolo de soberania). Quando falta a imediata compreensibilidade, de sorte que a interpretação depende de complicados processos mentais, temos antes uma alegoria. Base do simbolismo é, por parte do homem, a necessidade de tornar, de algum modo, explicável para si o que, de acordo com seu caráter peculiar, só é concebível no pensamento abstrato. As coisas do mundo sensível satisfazem a esta necessidade, por causa da analogia que domina todas as esferas do ser: todas as coisas têm, em última instância, seu arquétipo em Deus; mas as coisas visíveis, mercê de sua múltipla peculiaridade e gradação específica, refletem, por assim dizer, com raios variadamente retratados, a pura plenitude luminosa do mundo espiritual; pelo que, a sua contemplação pode substituir, até certo ponto, a intuição do espiritual que não possuímos, se à imagem intuitivamente dada se vier juntar o pensamento explicativo do sentido. Se, apesar disso, o símbolo, precisamente por não apresentar semelhança específica com o supra-sensível, não pode expressá-lo analogicamente em sua peculiaridade, como o faz o pensamento conceptual, tem, no entanto, sobre este a vantagem de poder descobrir, por alusão, maior riqueza da realidade espiritual: por isso também fala mais imediatamente ao sentimento.

O emprego de símbolos é muitas vezes denominado simbolismo (1). Como corrente doutrinal, simbolismo (2) denota concepções, segundo as quais nosso conhecimento só versa sobre símbolos. Assim, certos representantes do neopositivismo consideram os símbolos da logística como o objeto próprio da ciência. O modernismo concebe as proposições referentes ao divino, inclusive os dogmas formulados conceptualmente, como alusão puramente simbólica e, por isso mesmo, variável a uma realidade incognoscível que se manifesta só no sentimento. Ambas estas formas de simbolismo destroem pela raiz o próprio conceito de símbolo, porque o despojam de seu sentido. Esta observação é também aplicável à concepção modernista; porque, se o pensamento não é mais do que um símbolo, falta o meio para explicar o seu sentido; além de que o próprio símbolo se converte em algo intuitivo. — Em arte, entende-se por simbolismo (3) o esforço para dar, mediante símbolos, uma indicação do supra-sensível, que supere os limites do concreto; na realidade, este simbolismo mostrou muitas vezes tendência para o mórbido e extravagante. — De Vries. [Brugger]


Alguns autores utilizam a palavra símbolo como sinônimo de signo. O mais corrente, no entanto, é utilizar o termo símbolo como um tipo particular de signo. Nesse caso, costuma-se considerar que os símbolos são signos não naturais, signos conscientes, signos convencionais. Esta concepção não tem sido aceite por todos os autores. Alguns, por exemplo, assinalam que o que carateriza o signo é o fato de ser individual, diferentemente do símbolo que é de caráter social, colectivo. costuma variar o sentido do símbolo segundo a realidade por meio da qual se representa o objeto simbolizado; um objeto sensível pode representar uma ideia ou vice-versa; pode haver correspondência analógica entre duas ideias ou entre dois objetos sensíveis, e o símbolo pode caraterizar-se também pela intenção com que o sujeito o utiliza; neste caso, falaremos de propósito representativo, evocativo, etc. se quer procurar alguma nota comum a todas estas acepções, parece que só uma, muito ampla, é aceitável: símbolo significa apenas figura (qualquer que seja) por meio da qual se designe uma realidade com a consciência que há entre ela e o símbolo utilizado uma distância que só pode ser colmatada por um ato prático nunca estritamente teórico. Neste sentido cumpre entender o uso que se tem feito do símbolo e do simbolismo em diversas doutrinas, tanto nas epistemológicas como nas filosófico-religiosas. Dentro das primeiras, o símbolo é o modo como se tem exprimido uma realidade através de modificações conceptuais, linguísticas – ou significativas – não correspondentes a um universo inteligível e substante.

O simbolismo contemporâneo não chega a acordo acerca dos diferentes modos sob os quais podem ser tratados os símbolos. Por um lado, quando um símbolo se aproxima do signo, estabelecem-se distinções semelhantes às formuladas para este. Por outro lado, fala-se de diferentes tipos de símbolos, tais como símbolos expressivos (palavras), sugestivos (formas) e substitutivos (usados na lógica e na matemática). alguns consideram os símbolos de um ponto de vista puramente formal, negando os aspectos sugestivos e até expressivo, a que atrás aludimos; outros, em contrapartida, sustentam que é impossível dar qualquer significado ao símbolo se não estiver carregado de implicações psicológicas. Uns, por exemplo, combatem o simbolismo formalista dizendo que a caraterística que determina o simbolismo é precisamente o fato de a coisa que uma reflexão ulterior qualifica de símbolo não ser um símbolo, mas um veículo direto, uma corporificação concreta, uma encarnação vital. Outros têm tentado solucionar este conflito estabelecendo uma série de distinções entre dois opostos: o símbolo puramente formal e o símbolo puramente representativo ou corporificador de natureza essencialmente designativa e ostensiva; por outras palavras, entre o signo puramente convencional e o signo puramente natural, com os estádios intermediários existentes entre ambos.

Uma doutrina geral e suficientemente ampla dos símbolos não poderá abster-se, em todo o caso, de determinar todas as funções simbólicas, sem cair em interpretações unilaterais de tais funções. Assim, rejeitar-se-á a concepção exclusivamente representativa do símbolo, ao modo da doutrina primitiva, para a qual o símbolo não só designa um objeto, mas é o objeto.

Afastar-se-á também a consideração exclusivamente emotiva do símbolo e igualmente a teoria da função exclusivamente simbólica- enunciativa que tende a um formalismo de índole puramente convencional e substitutiva. Uma analogia do símbolo será então necessária para poder incluir todas as significações e funções possíveis, tendo sempre em conta que o símbolo é um veículo e que , por conseguinte, não pode confundir-se nem com a coisa simbolizada, nem com o ato psicológico que a simboliza, nem tão pouco com a concepção que o símbolo se refere ou com a significação que anuncia. [Ferrater]