Platão (427-347): de nobre família ateniense; primeiramente, poeta; discípulo de Sócrates; várias viagens à Itália meridional e à Sicília; criação da “Academia” em Atenas.
Escritos principais (Diálogos):
— Escritos de juventude: (definições éticas, essencialmente socráticos): Apologia de Sócrates, Críton, Ion, Protágoras (unidade da virtude e possibilidade de ensiná-la), Laquete (valor), República, liv. I (justiça), Cármides (moderação), Eutífron (piedade), Lísis (amizade).
— Escritos de transição (tomada de posição perante questões políticas, concepções órfico-pitagóricas, passagem da doutrina lógica do conceito à teoria das ideias): Górgias (sofística), Ménon (virtude), Eutidemo, Hípias menor, Hípias maior, Crátilo (filosofia da linguagem), Menexeno.
— Escritos de maturidade (aperfeiçoamento da teoria das ideias): Banquete (eros e beleza), Fédon (imortalidade), República, liv. II-X (o Estado), Fedro (retórica).
— Escritos da velhice (significado lógico da teoria das ideias, maior realismo na teoria do Estado): Teeteto (ciência), Parmênides (objeções à doutrina das ideias), Sofista, Político, Filebo (o bem), Timeu (filosofia natural), Crítias, Leis, Epinomis (sabedoria). [Brugger]
Platão nasceu em Atenas, em 428/427 a.C. Seu verdadeiro nome era Aristócles. Platão é um apelido que derivou, como referem alguns, de seu vigor físico ou, como contam outros, da amplitude de seu estilo ou ainda da extensão de sua testa (em grego, platos significa precisamente “amplitude”, “largueza”, “extensão”). Seu pai contava orgulhosamente com o rei Codros entre seus antepassados, ao passo que sua mãe se orgulhava do parentesco com Sólon. Assim é natural que, desde a juventude, Platão já visse na vida política o seu próprio ideal: nascimento, inteligência, aptidões pessoais, tudo o levava para essa direção. Esse é um dado biográfico absolutamente essencial, que mcidiria profundamente na substância mesma de seu pensamento.
Aristóteles nos relata que Platão foi inicialmente discípulo de Crátilo, seguidor de Heráclito. Posteriormente, foi discípulo de Sócrates. O encontro de Platão com Sócrates se deu provavelmente quando Platão tinha aproximadamente vinte anos. E certo, porém, que Platão frequentou o círculo de Sócrates com o mesmo objetivo da maior parte dos outros jovens, ou seja, não para fazer da filosofia a finalidade de sua própria vida, mas para melhor se preparar, pela filosofia, para a vida política. Entretanto, os acontecimentos orientariam a vida de Platão em outra direção.
Platão travou seu primeiro contato direto com a vida política em 404/403 a.C, quando a aristocracia assumiu o poder e dois parentes seus, Cármides e Crítias, tiveram importante participação no governo oligárquico. Foi certamente uma experiência amarga e frustrante para ele, em consequência dos métodos facciosos e violentos que constatou serem aplicados exatamente por aqueles nos quais depositava confiança.
Entretanto, seu desgosto com os métodos da política praticada em Atenas deve ter alcançado o máximo de sua expressão com a condenação de Sócrates à morte. Os responsáveis por essa condenação foram os democratas (que haviam retomado o poder). Assim, Platão convenceu-se de que para ele, naquele momento, era bom manter-se afastado da política militante.
Após o ano de 399 a.C, Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates, hospedando-se em casa de Euclides (provavelmente para evitar possíveis perseguições, que poderiam lhe advir pelo fato de ter participado do círculo socrático). Entretanto, não se deteve longamente em Mégara.
Em 388 a.C, aos quarenta anos, Platão viajou para a Itália. Se esteve também no Egito e em Cirene como se conta, tais viagens devem ter acontecido antes de 388 a.C. No entanto, a autobiografia da Carta VII nada fala sobre elas. O desejo de conhecer as comunidades dos pitagóricos (e, de fato, conheceu Árquita, como sabemos através da Carta VII) foi que o levou a empreender a viagem até a Itália. Durante essa viagem, Platão foi convidado pelo tirano Dionísio I a ir até Siracusa, na Sicília. Certamente, Platão esperava poder inculcar no tirano o ideal do rei-filósofo, ideal esse já substancialmente proposto no Górgias, obra que precede a viagem. Em Siracusa, Platão logo se indispôs com o tirano e sua corte (precisamente por sustentar os princípios expressos no Górgias). Todavia, estabeleceu forte vínculo de amizade com Dion, parente do tirano, no qual Platão acreditou encontrar um discípulo capaz de se tornar rei-filósofo. Dionísio irritou-se de tal forma com Platão que determinou fosse ele vendido como escravo a um embaixador espartano na cidade de Egina (narrando os fatos de forma mais simples, forçado a desembarcar em Egina, que se encontrava em guerra com Atenas, talvez Platão tenha sido mantido como escravo). Felizmente, porém, foi resgatado por Anicérides de Cirene, que se encontrava naquela cidade.
Retornando a Atenas, Platão fundou a Academia em um ginásio situado no parque dedicado ao herói Academos, de onde derivou o nome.
O Menon foi provavelmente o primeiro diálogo de Platão a divulgar a nova escola. Logo a Academia adquiriu grande prestígio, a ela acorrendo numerosos jovens e até mesmo homens ilustres.
Em 367 a.C, Platão voltou à Sicília: Dionísio I falecera, tendo-lhe sucedido o filho Dionísio II, que, segundo afiançava Dion, poderia colaborar bem mais que o pai para a realização dos desígnios de Platão. Dionísio II, entretanto, revelou as mesmas tendências do pai: exilou Dion, acusando-o de tramar contra o trono, e manteve Platão quase como um prisioneiro. Dionísio só permitiu que Platão retornasse a Atenas porque estava empenhado numa guerra.
Em 361 a.C, Platão voltou pela terceira vez à Sicília. Em seu regresso a Atenas, lá encontrou Dion, que se havia refugiado nessa cidade. Dion o convenceu a aceitar novo e insistente convite de Dionísio, na esperança de que, dessa forma, também ele seria recebido em Siracusa. Dionísio desejava novamente a presença de Platão na corte com a única finalidade de completar sua própria preparação filosófica. Foi, porém, um grave erro acreditar na mudança de sentimentos de Dionísio. Platão teria até mesmo arriscado perder a própria vida, não fosse a proteção de Árquita e dos amigos da cidade de Taranto. Em 367 a.C, Dion conseguiria tomar o poder em Siracusa, mas por pouco tempo apenas, vindo a ser assassinado em 353 a.C.
Em 360 a.C, Platão retornou a Atenas, onde permaneceu na direção da Academia até sua morte, ocorrida em 347 a.C.
Os escritos de Platão chegaram até nós em sua totalidade. A disposição que lhes foi conferida, da qual nos dá conta o gramático Trasilo, baseia-se no conteúdo dos próprios escritos. Os trinta e seis trabalhos foram subdivididos nas nove tetralogias seguintes:
I: Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon;
II: Crátilo, Teeteto, O Sofista, A Política;
III: Parmênides, Filebo, O Banquete, Fedro;
TV: Alcebíades I, Alcebíades II, Hiparco, Os Amantes;
V: Teages, Cármides, Laques, Lísis;
VI: Eutidemo, Protágoras, Górgias, Menon;
VII: Hípias menor, Hípias maior, Ion, Menexeno;
VIII: Clitofonte, A República, Timeu, Crítias;
LX: Minos, As Leis, Epinome, Cartas.
A interpretação correta e a avaliação desses escritos propõem uma série de problemas extremamente complexos que, em seu conjunto, constituem a “questão platônica”. [Reale]