symbebekos: acompanhamento, acidente (lógico), acontecimento acidental (ver tyche)
1. A história primitiva da realidade ontológica que está por trás da noção de symbebekos foi desenvolvida nos domínios da qualidade (poion; ver também dynamis). Radical nesta teoria foi Demócrito que estava inclinado a negar às qualidades qualquer existência objetiva (D. L. IX, 72; Sexto Empírico, Adv. Math. VII, 135), enquanto que Platão enunciava um ponto de vista arcaico quando as hipostasia (o modo supra-sensível de hipostasiação representado pelos eide era, evidentemente, muito diferente do dos seus predecessores). Platão estava, não obstante, conscientizado da diferença entre as coisas e as qualidades das coisas e desvia-se do seu caminho para corrigir a reificação pré-socrática geral das qualidades (Timeu 49a-50a; ver genesis, pathos).
2. Os comentários de Platão ocorrem num tratado sobre este mundo sensível das coisas materiais; a análise que Aristóteles faz do mesmo fenômeno encontra-se nas suas obras de lógica e assim as ênfases são completamente diferentes. A distinção entre uma coisa e a sua qualidade é alargada para abranger a distinção entre uma coisa ou sujeito (hypokeimenon) e o seu atributo ou acompanhamento (symbebekos). Este é definido como algo que «pertence a uma coisa, não por necessidade ou pela maior parte… mas aqui e agora» (Metafísica 1025a). Ao contrário de genos ou da definição, não exprime a essência (ti esti) de uma coisa nem, como a propriedade (idion), está necessariamente ligado a esse sujeito (Top. I, 102b). Dado que não há necessidade (eles podem ser diferentes) em tais seres acidentais, segue-se que não pode haver demonstração (apodeixis) e, logo, conhecimento científico (episteme) neles baseado (Anal. post. I, 75a-b; Metafísica 1026b). O symbebekos é um dos «predicáveis» (ver idion).
3. Ter-se-ia pensado que Epicuro aderiria ao ponto de vista atomista de Demócrito e restringiria toda a realidade aos átomos e ao vazio (kenon). Mas uma vez que aceitou a sensação (aisthesis) como critério infalível de verdade, ele não pode remontar à convenção (nomos) como a origem das qualidades sensíveis. E assim Epicuro tem uma teoria dos acidentes completamente desenvolvida (ver D. L. X, 68, 69). Estas qualidades perceptíveis, e logo corpóreas, que aderem aos corpos podem ser divididas, como em Aristóteles, naquelas que estão necessariamente ligadas à natureza dos corpos e assim sempre presentes num corpo e naquelas que acontecem a um corpo de tempos a tempos. À primeira categoria, o idion aristotélico, chama Epicuro symbebekos, invertendo precisamente a nomenclatura aristotélica. Para o segundo tipo de qualidades ele inventa o novo termo «acidente» (symptoma). Exemplos de symptomata são as qualidades sensíveis dos corpos compósitos (Plutarco, Adv. Col. 1110) e a sensação é sempre um symptoma do «elemento não nomeado» presente na alma (D. L. X, 64; ver holon, psyche). Há entidades ainda mais complicadas, como o tempo, que não podem ser descritas senão como «acidentes de acidentes» (ver chronos).
4. Os estoicos mantiveram a doutrina aristotélica do sujeito e dos acidentes mas numa forma alterada. A distinção entre um sujeito e os seus atributos é mantida (SVF II, 369), mas os atributos são reduzidos a três: qualidade, estado e relação, os últimos presumivelmente atributos do princípio ativo primário do universo, o lagos (D. L. VII, 134; ver logos, paschein). [FEPeters]