Enquanto dura o seu fascínio, o único espaço-entre que pode inserir-se entre duas pessoas que se amam é o filho, o produto do amor. O filho, esse espaço-entre com o qual agora os amantes passam a relacionar-se e que possuem em comum, representa o mundo, na medida em que também os separa; é uma indicação de que inserirão um novo mundo no mundo existente. [Essa faculdade criadora-de-mundo [world-creating] do amor não é o mesmo que a fertilidade, na qual se baseia a maioria dos mitos da criação. A seguinte fábula mitológica vai, ao contrário, buscar suas imagens claramente na experiência do amor: o céu é visto como imensa deusa que ainda se debruça sobre o deus terra, do qual está sendo separada pelo deus ar, que nasceu entre eles e que agora começa a erguê-la. Assim, passa a haver um espaço mundano composto de ar, que se insinua entre a terra e o céu. Conferir H. A. Frankfort, The intellectual adventure of ancient man (Chicago, 1946), p. 18, e Mircea Eliade, Traité d’histoire des religions (Paris, 1953), p. 212.] É como se, por meio do filho, os amantes retornassem ao mundo do qual o amor os expulsou. Mas essa nova mundanidade, o resultado possível e o único final possivelmente feliz de um caso de amor, é, de certa forma, o fim do amor, que terá de dominar novamente os parceiros ou ser transformado em outra modalidade de pertencimento. [ArendtCH:C33]