Filosofia – Pensadores e Obras

diabólico

3. «Diabólicos» não podemos deixar de ser, na maior parte do trajeto da nossa vida. A palavra qualifica um poderoso ingrediente do que quer que passe por «Humanitas». Quanto mais predomine em nós intelecto e vontade — que é sempre vontade de querer uma coisa só, e recusar tudo o que ela não é —, mais «diabólicos» seremos, mais separadores. Sem terror e tremor não podemos pensar que a morte nos fira, enquanto mais não sejamos do que seres racionais e voluntariosos, pois, para esses, a morte é término do que se razoa e quer. A firme determinação com que trilhamos um caminho preestabelecido não nos deixa ver o que passa e se passa de um lado e doutro. Daí que tanto repugne a alguns favorecidos da sorte ou dos deuses só a menção dos infelizes «que se fizeram por si». Na verdade, o Diabo os fez, enquanto caminhavam direito ao fim em vista, repelindo à cotovelada todos os que se encontrassem adiante ou ao lado deles. O «voluntarioso-diabólico» nunca se distrai, enquanto se sente impelido para o que a sua pobre alma aspira. «Diabólico» é o aspirante a uma coisa só, o que já está ao serviço dela, pensando que o dia há-de chegar em que essa coisa o servirá. O que não pode acontecer, porque, para ela, além dela, nada há. [EudoroMito:91]