Filosofia – Pensadores e Obras

atributivismo

Por atributivismo designo toda doutrina da alma, do pensamento, do intelecto ou do espírito, que repousa sobre (ou pressupõe ou implica) uma assimilação explícita de estados ou de atos psíquicos, noéticos ou mentais a atributos ou predicados de um sujeito definido como ego. Sinalizo esse tipo de doutrina “atributivismo*” para distingui-lo do que os filósofos anglófonos, tendo à frente os intérpretes analíticos da psicologia de Aristóteles, chamam de attributivism, a saber, toda doutrina que faz da alma, do espírito e mesmo do intelecto uma propriedade ou disposição do corpo, “some sort of dispositional property of the body or the organism” [Tomo emprestada esta formulação a H. Granger, Aristotles Idea of Soul, (Philosophical Studies Series, 68), p. 10.]. Como se verá no próximo capítulo, o atributivismo opõe-se ao “substancialismo” (substantialism), geralmente referido a Descartes como a um paradigma ao mesmo tempo majestoso e fóssil, definindo a alma ou o espírito como uma coisa (thing), isto é, um sujeito — a subject of properties.

Atributivismo e substancialismo são duas interpretações de um mesmo esquema conceitual, o par “substância-atributo” (the substance-attribute view [[Tomo emprestada a expressão, retirando-a de seu contexto, de D. M. Armstrong, Universais: an Opinionated Introduction, pp. 59 e ss., que a utiliza em sua apresentação da teoria dos “tropos” ou “particulares abstratos” (a teoria oposta – a trope brindles theory—eliminando as substâncias).]]): no atributivismo, o espírito é atributo (e o corpo, substância), no substancialismo, é substância (e o corpo, uma outra substância); o atributivismo é monista, o substancialismo, dualista; no atributivismo padrão, [151] espírito e pensamento são ambos atributos do corpo (por transitividade: o pensamento é um atributo do espírito que é um atributo do corpo); no substancialismo padrão (atributivista), o pensamento é um atributo do espírito. Contudo, pode-se imaginar também um atributivismo eliminativista (materialista), eliminando o espírito como entidade distinta do pensamento, e fazendo diretamente desta última um atributo do corpo. Pode-se imaginar ainda um substancialismo não atributivista em que o pensamento não seria um simples atributo (predicado) do espírito. [LiberaAS:151-152]