Embora se diga “revolução”, no singular, o acontecimento foi plural. No dizer de Thomas Kuhn, trata-se de uma revolução “cujo núcleo era uma transformação da astronomia matemática, mas implicava mudanças conceituais no domínio da cosmologia e da física, bem como no domínio da filosofia e da religião (…) A multiplicidade intrínseca dessa revolução escapa à competência do sábio individual, trabalhando sobre fontes de primeira mão (…) Por causa de sua multiplicidade, a revolução copernicana oferece uma oportunidade ideal para se descobrir de que maneira e com quais consequências os conceitos de campos epistemológicos diferentes se entrelaçam para constituir um único edifício de pensamento”. Portanto, trata-se de uma revolução que substitui a física qualitativa por uma física quantitativa, que substitui uma Natureza por outra, uma ciência por outra, o método de autoridade pelo recurso à razão e à experiência. Trata-se de uma revolução que, além de derrubar a ditadura de Aristóteles, arruína completamente, através da luneta astronômica, o dogma da incorruptibilidade dos corpos celestes. Fica ainda absolutamente rejeitado o axioma identificando o real objetivo à percepção sensível: as qualidades são relativas a nossos sentidos e a matéria é quantitativa. [Japiassu]