Os reflexos condicionados, ao contrário dos incondicionados, são respostas mutáveis, graças às quais se opera a adaptação do organismo a traços do ambiente igualmente mutáveis. Esses reflexos condicionados são adquiridos, temporários, ocasionais, característicos do indivíduo. As experiências de Pavlov e seus discípulos mostraram que os reflexos condicionados só se formam quando associados a manifestações dos reflexos incondicionados. Isto torna ainda mais inexplicável o incondicionamento dos reflexos a que normalmente se dá o nome de instintos. O problema se põe novamente porque se os reflexos incondicionados foram algum dia condicionados, como poderia o organismo ou ainda a célula inicial, ter sobrevivido sem eles? O incondicionamento dos reflexos essenciais (que Pavlov distingue dos acidentais), ou seja, a adaptação fundamental do organismo ao meio interno e externo, como poderia ter-se dado sem que o organismo fosse uma totalidade anterior, sem que tivesse uma capacidade interna de adaptação? E com esta capacidade interna, deve-se admitir uma subjetividade primordial, gerando a adaptação como movimento de dentro para fora e não de fora para dentro.
O fato de que só se podem condicionar reflexos temporários sobre a base dos permanentes, leva a supor que toda a reflexologia fica sem explicação se não se apoiar numa base mais ampla, que é a vida. É a vida que explica a reflexologia e não inversamente. A vontade intrínseca de viver, por exemplo, não pode ser explicada por nenhum reflexo. Este querer viver, de que a experiência existencial poderia de há muito ter dissuadido o ser vivo, se torna tanto mais inexplicável quanto mais se eliminam os fins da vida, que não cabem nos horizontes do naturalismo científico. [Barbuy]