Filosofia – Pensadores e Obras

salto

(lat. saltus; in. Leap; fr. Saut; al. Sprung; it. Salto).

Termo empregado por Kierkegaard para indicar a “passagem qualitativa”, brusca e sem mediação de uma categoria para outra ou de uma forma de vida para outra (p. ex., da vida ética para a vida religiosa) ou, em geral, de um estado para outro (p. ex., da inocência para o pecado, do pecado para a , etc). Kierkegaard opôs essa noção de salto à noção hegeliana de mediação e ilustrou-a aproximando-a: 1) do entimema; 2) da analogia e da indução; 3) da teoria hegeliana. 1) Entimema é o silogismo contraído, no qual se omite uma premissa e se passa diretamente da premissa maior à conclusão (“Todos os animais são mortais, logo o homem é mortal”) (Diário, VI A, 33). Nesse sentido, a palavra salto é encontrada em Kant com o mesmo uso: “salto (saltus) na dedução ou na prova é a conexão de uma premissa com a conclusão, de tal maneira que a outra premissa é negligenciada” (Logik, 1800, § 91). 2) A analogia estabelece uma relação entre coisas qualitativamente diferentes e a indução passa do particular ao universal (Diário, V A, 74). 3) A doutrina hegeliana sobre a mudança quantitativa que provoca uma mudança qualitativa é a fonte autêntica do conceito kierkegaardiano. Hegel dizia: “A água, com a mudança da temperatura, não só se torna mais ou menos quente, mas passa pelos estados sólido, gasoso e líquido. Esses estados diferentes não nascem aos poucos, mas o próprio processo gradativo de mudança na temperatura é por eles interrompido, e o aparecimento de um novo estado é um salto. Qualquer mudança e qualquer morte, em lugar de ser um contínuo pouco a pouco é um truncamento do pouco a pouco e um salto da mudança quantitativa para a mudança qualitativa (Wissenschaft der Logik, I, seção III, cap. II, B; trad. it., pp. 418-419). Kierkegaard censura Hegel por haver limitado este conceito ao domínio da lógica (Der Begriff Angst, I, § 2; trad. it., p. 35 e nota). Jacobi, no entanto, usara a expressão salto mortale (em italiano) para caracterizar a passagem da ao conhecimento filosófico (Werke, IV, pp. XL ss.), ao passo que Kant utilizou a mesma expressão para indicar a passagem da razão para a cega (Religion, B 158). [Abbagnano]