Schuback (1998:28,31) – exemplaridade humana

Partindo da exemplaridade humana, deve-se, agora, tentar desfazer um grande mal-entendido quanto ao papel privilegiado da condição humana no pensamento de Schelling. Parte importante da literatura dedicada à sua interpretação entende este papel como a vigência de um “princípio antropomórfico” em sua filosofia. Assim tomada, a “exemplaridade” humana explicitar-se-ia como o mero espelhamento de uma condição humana sobre todo o universo. Uma célebre passagem do Tratado sobre a essência da liberdade humana que costuma ser levantada como comprovação deste princípio diz o seguinte: “Somente aquele que já saboreou a liberdade pode experimentar o desejo de tudo lhe tornar análogo, de espraiá-la para todo o universo1.

(…)

A “exemplaridade” do homem significa, para Schelling, em primeiro lugar a narração e o conto da experiência de ser como devir de si mesmo. Nenhuma determinação do homem pode ser rebatida sobre o universo uma vez que o homem só pode definir-se como indeterminação radical, como a “liberdade de alçar-se sobre si mesmo “em tudo o que faz. É o que reforça as seguintes palavras de uma preleção tardia de Schelling:

“… a meta do homem consiste naquilo que ele deve ser pela liberdade de seu querer. Todavia, bem distante de se poder alcançar o fundamento verdadeiro do mundo através deste adiamento da finalidade (…) é ele quem deve alcançar o maior de todos os enigmas arrastando o homem para uma incompreensão ainda mais profunda do que aquela em que ele se encontrava no confronto com a simples natureza (…). Bem distante, portanto, de o homem e seus feitos tornarem o mundo concebível é o homem, em si mesmo, o mais inconcebível… Justamente ele, o homem, é que me provoca, por fim, (…) à questão de por que há alguma coisa? Por que não o nada?”2 [SCHUBACK, Marcia S. C. O Começo de Deus. A filosofia do devir no pensamento tardio de F.W.J. Schelling. Petrópolis: Editora Vozes, 2021]

  1. Schelling, E.L.H. (A essência da liberdade humana), Petrópolis, Vozes, 1991, p. 34.[]
  2. Schelling, STV, ed. de 1856-61, parte II-3, p. 7, in Philosophie der Offenbarung.[]

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