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pan
domingo 1º de setembro de 2024
gr. παν, pan: tudo, todas as coisas, o Todo. Latim: omnia. O conjunto das realidades sensíveis, o universo; v. hólon, kósmos. Gramaticalmente, pân é, em primeiro lugar, um adjetivo indefinido neutro (latim: omne) cujo masculino é pâs. A seguir esse neutro é substantivado para designar uma totalidade. [Gobry ]
gr. πολλά, polla = todo, multiplicidade, múltiplo total. As ideias apreendidas como unidades que são, mas as múltiplas coisas sensíveis que nelas participam apreendidas como em processo de devir. hoi polloi = a multidão, o grande número. [Gobry]
gr. πλῆθος, plethos: pluralidade, múltiplo. Segundo Aristóteles (Meta. 1020a) uma pluralidade é aquilo que é potencialmente divisível em partes descontínuas (me syneches). Assim, uma definição possível de número (arithmos) é «um plethos com limite» (peras) (loc. cit.). Esta quantidade (poson) discreta e numerável que é o plethos contrasta assim com a quantidade contínua e mensurável que é magnitude (megethos). [Gobry]
Ullmann
O Uno é o Princípio soberano de tudo, também das hipóstases, isto é, do Noûs e da Alma do mundo. A palavra hipóstase, aplicada ao Uno, faz-nos entender que aquilo que está além do ser é mais do que ser simplesmente: é o Supra-Ser, o Supra-Bem, o Supra-Belo. Plotino denomina-o tò epekeina tês ousias. O Uno, ademais, identifica-se com sua vontade: "A vontade dele (Uno) é também a sua essência" (). A vontade constitui a sua independência, a sua auto-suficiência, o domínio de si e, ao mesmo tempo, a sua transcendência. Em razão disso, a processão ou emanação é livre, porquanto não há quem possa obrigar o Uno a produzir algo. Podemos denominá-la "libertas ab extrinseco". Em outros termos, ele não pode ser coagido. E, paradoxalmente, a aporroia é necessária, porque o Uno quer expandir, comunicar a sua superabundância (Cf. ). Estamos na presença de uma necessidade, sim, mas de uma necessidade moral, no sentido de o Uno querer difundir-se, consoante o axioma bonum est diffusivum sui [1]. Isso significa que nada é produto do acaso ou de um fatum mecanicista. Não vale, pois, para Plotino, o que diz Dante , referindo-se a Demócrito: "Il mondo a caso pone". Se o Uno agisse obrigado pela ananke, com destino inevitável, ele agiria contra a razão. A necessidade, aqui, quer dizer impossibilidade de agir de outra forma do que age, isto é, produzindo entes finitos, mas permanecendo ele próprio infinito e perfeito. "Ele (Uno) não é possuído pela necessidade, mas ele é a necessidade e a lei das demais coisas" (). Isso tudo se entende como superabundância de poder. E mais. O Uno "é o que deve ser: portanto, não por acidente, mas por necessidade; e essa necessidade é o princípio de todas as outras necessidades" (). O mundo é efeito; o Uno, causa eficiente [2]. O mundo é o que é, porque o Uno assim o quis. Visto no Deus cristão não haver um antes e um depois, ele não cria por deliberação ou decisão, atualizando um projeto, assim também o Uno – que é simples, eterno – não delibera, para criar. Dizemos "deliberar", antropomorficamente ou analogicamente. Isso significa que o Uno não age às cegas [3]. No Uno não há nada inconsciente ou inerte. Ele é "plenamente senhor de si" [4]. Por isso, "é difícil crer que o que ele faz ou o que provém do seu poder lhe escape de qualquer modo que seja" [5].
Assim, a soberana superioridade do Uno aponta para a sua interioridade mais íntima. A liberdade do Uno Plotino expressa-a com estas palavras incisivas: "(...) ele não é escravo de si mesmo (mêdê douleion esti heautoû)" (Cf. ). Nisso consiste a sua ipseidade. Por isso, a liberdade radical do Uno exclui toda e qualquer intrusão de elementos estranhos e fundamenta a dependência radical dos entes que dele dimanam. Ele é a plenitude do Ser.
A liberdade de produzir faz do Uno o Princípio real de tudo, o autor de quanto não é ele próprio. Por isso, o que não é o Uno, mas provindo dele, é diverso dele (hetérou óntos tôn pántôn: ).
Porém, o Uno e o múltiplo acham-se unidos, no sentido de que o múltiplo participa do Uno, sem, no entanto, haver dependência deste com relação àquele. Vale, sim, o inverso. Os entes participam dele (não são partes dele!), sem que ele se divida; em produzindo, ele não esgota a sua superabundância, nem se empobrece [6]. Em outras palavras: o Uno é capaz de agir no mundo, sem que nele se verifique uma mudança. Assim logra-se falar em transcendência entitativa e imanência operativa.
Pelo exposto, percebem-se alguns traços de originalidade na concepção plotiniana quanto à natureza do Uno (Deus ou Absoluto) e à sua relação com o mundo. [Ullmann]
Igal
La multiplicidad de la creación universal, a partir del alma del cielo, no significa un progreso continuo, sino muy al contrario, una degeneración de la potencia creadora, que se manifiesta en el descenso hacia los otros ordenes de realidad, por sucesión de imitaciones o de imágenes que se hacen más débiles, e incluso fantasmagóricas, cuando llegan a tocar el mundo de la materia. (Jesús Igal)
Plotino
It may be urged that all the multiplicity and development are the work of Nature, but that, since there is wisdom within the All, there must be also, by the side of such natural operation, acts of reasoning and of memory.
À partir du moment où l’on accorde que c’est la « totalité » (pánta) des choses qui dépend des dieux, la volonté de savoir si « quelque chose » (tí, lignes 1 et 5) dépend d’eux devient inutile. La différence entre les hommes et les dieux résiderait donc dans l’extension du pouvoir : les hommes exercent leur pouvoir de façon restreinte et limitée à certaines choses ; alors que le pouvoir des dieux s’étend universellement sur tout.
[1] Não é artifício literário dizer que a "difusão do amor", na emanação plotiniana, constitui-se em doação: "L’idea di una donazione nella quale colui che dona non viene sminuito si incontra ad. es. anche in Numenio (...)" (SZLEZAK, Thomas Alexander, Platone e Aristotele nella dottrina del Nous di Plotino (Temi metafisici e probl. del pens. ant.) (Milano, 1997), p. 149, nota 340).
[2] "O Uno é causa num sentido eminente e mais verdadeiro, pois contém simultaneamente todas as coisas que devem nascer dele para constituir a Inteligência, e é o genitor de uma realidade que não é casual, mas como ele a quis" ().
[3] "In quanto espressione dell’essenza dei Bene e dell’intenzionalità che in ciò si rivela, l’Uno esclude, per una comprensione del mondo, il caso e il destino, ma anche la necessita cieca e costrittiva in quanto forme dell’irrazionalità. Il rifiuto della tychê, del tò synébê, dell’autómaton. come essenza o struttura del Principio, e con esso anche del suo mondo, che ricorre continuamente come un ’leitmotiv’ attraverso le numerose argomentazioni di VI, 8, si conclude nella giustifícazione di una origine in se chiara e ’razionale’, che come assoluta libertà vuole ciò che è" (BEIERWALTES, Werner. Plotino. Un cammino di liberazione verso l’interiorità, lo spirito e l’uno (Temi metafisici e probl. del pens. ant.), 2. ed. (Milano, 1993), p. 59-60). "(...) l’Uno genera ciò che vien dopo di lui non già perché mosso da un cieco istinto, ma perché è assoluto sé stesso, pienezza totale e quindi potenza generativa inesauribile e trabocante" (MAGRIS, Aldo. Invito al pensiero di Plotino. (Milano, 1986), p. 99).
[4] "Kyrios pante heautou" ().
[5] TROUILLARD, Jean. «La Procession plotinienne» (Paris, 1955), p. 79.
[6] "La véritable efficacité est la fécondité de surabondance, le surplus gratuit d’une opulence qui ne peut être que généreuse, justement parce qu’elle n’a rien à désirer ni à perdre" (TROUILLARD, op. cit., p. 71).