tradução
4. — Pode-se se perguntar no entanto como o que advém segundo nosso desejo [orexis] será uma livre disposição de si [exousia], se é verdade que o desejo é levado para o que é exterior e se encontra em estado de falta. Pois é o que é desejado que porta o desejo, mesmo se é levado para o que é bom [agathon]. Além do mais, a respeito do intelecto [noûs] ele mesmo uma dificuldade se apresenta: pode-se sustentar que ele possui a liberdade [eleutheria] e a capacidade de fazer [energon] (…)
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fazimento etc
poiein / ποιεῖν / ποιέω / poieo / ποίημα / poiema / ποίησις / poiesis / ποιητής / poietes / ποιητικός / poietikos / agente / acheiropoietos / factum / facta / factus / fazimento / o fazer / el hacer
gr. ποιεῖν, poieín: produção, "fazimento". poíesis (he): fabricação, atividade operatória; poesia. Latim: Ars, operatio. Poesis. Atividade transitiva do homem sobre as coisas (em oposição à ação imanente).
AKC (fazer)
"Eu nada faço e o mesmo deveria ocorrer com o homem subjugado, o que conhece a Realidade Final" (Bhagavad Gita V.8). "Nada faço de mim mesmo" (João 8,28; cf. 5,19). Imaginar que "eu faço" (karto ham iti) e "eu" penso é presunção, é a oiesis de Fílon (Leg. Alleg. 1.47, 2.68, 3.33) e o abhimana indiano. A proposição Cogito ergo sum é um non sequitur e uma tolice; a conclusão lógica é Cogito ergo EST, referindo-se a Ele "que É" (Damasceno em De fid. orthod., I; Katha Upanixade VI. 12; Milinda Panho p. 73) e que é o único que pode dizer "Eu" (Meister Eckhart , Pfeiffer, p. 261). Veja também as referências do meu Akimcanna: Self-Naughting em New Ind. Antiquary, 1940 [Selected Papers II, pp. 107-147]. [AKCcivi]
Derivado de kavi, «poeta». La referencia de estas palabras a «poesía» y «poeta» en el sentido moderno es posterior. En los contextos Védicos kavi es primariamente un epíteto de los dioses más altos, con referencia a su pronunciación de palabras de poder creativo; kavya y kavitva son la correspondiente cualidad de la sabiduría, y, por consiguiente, el kavi védico es más bien un «encantador» que un «seductor» en el sentido más reciente de alguien que meramente nos agrada con sus dulces palabras.
Muy en la misma línea el griego poiesis significa originalmente una «creación», de manera que, como dice Platón, «Las producciones de todas las artes son tipos de poesía y sus artesanos son todos poetas» (El Banquete 205C); (cf. Rig Veda Samhita X.106.1, vitanvatha dhiyo vastrapaseva, «Tejed vuestros cantos como los hombres tejen sus mantos»).
Debe tenerse presente que «la norma propia de uno, el trabajo asignado por la naturaleza propia de uno» (svadharma, svabhávaniyatam karma, Bhagavad Gita XVIII.47) corresponde exactamente a ese «hacer lo que es por naturaleza propia de uno hacer (to eauton prattein, kata physin)» que Platón hace su tipo de «justicia», y que llama también «cordura» (República 433, Cármides 161, etc.).
Enio Giachini
OPERAR, ATUAR; OBRA; REALIDADE (WIRKEN, WERK, WIRKLICHKEIT)
(Wirken: causar, atuar, efetuar, efetivar, realizar, operar, agir, fazer, fazer ação, fazer uma obra, pôr em obra; Der Werk: a obra; die Wirklichkeiv. a realidade, a atuação do realizar-se). Em latim é operari. O modo passivo nos recorda o modo medial que indica uma ação reduplicativa, a saber, em agindo uma obra, a ação não se esvai no produto, mas redunda no crescimento do agente, que se perfaz.
O verbo wirken significa atuar, efetuar, efetivar, realizar: mas em todas essas significações conta a ação de fazer obra, isto é, produzir a partir e dentro da existência artesanal. [O verbo produzir diz pro-ducir (em latim pro-ducere) e significa conduzir e ser conduzido sob o toque de um determinado sentido do ser a possibilidade de ser, para que este apareça como fruto diante de quem se perfaz como obra]. Trata-se, pois, do agir no modo de ser do trabalho, da atitude e do perfazer-se humano na criatividade da existência, na qual, sob o toque de uma dimensão anterior e maior do que a ele, o homem se coloca na total disponibilidade de estar a serviço do vir à fala de uma realização criativa como obra, na dinâmica de gênese, crescimento e consumação de uma determinada concreção da possibilidade de ser, oferecida como inspiração. Aqui o homem se perfaz e se consuma como a clareira do surgimento de uma ordenação criativa que se abre como mundo. Existência aqui é entendida como a aberta, a partir e dentro da qual o medieval realiza o sentido do ser da realidade, do ser do ente na sua totalidade. [Deus, homem e universo, enquanto regiões da totalidade do mundo medieval]. Isto significa que as palavras fundamentais do mundo medieval, como por exemplo, ser, coisa, substância, causa, matéria-forma, causa final, causa eficiente, de imediato ressoam na sonoridade do sentido do ser, próprio da experiência do fazer e perfazer-se do fundo, artesanal, herdado da ontologia substancialista dos gregos [poiein, prattein, pragma = on (-tos) = ente]. Por isso, a relação Criador-criatura não pode ser simplesmente reduzida a causa e efeito e criação a causação. Essa realização medieval artesanal da realidade é, por sua vez, subsumida por uma pré-compressão do ser, proveniente da experiência religioso-cristã, que recebe o nome de filiação divina. [Excertos de “MESTRE ECKHART SERMÕES ALEMÃES”, tradução de Enio Paulo Giachini]
Paul Nothomb
A primeira tradução da Bíblia, atribuída à colaboração de setenta sábios judeus helenizados, vivendo em Alexandria no século III antes de nossa era foi denominada Septuaginta. desta tradução em grego serão retiradas as citações bíblicas figurando no Novo Testamento (inclusive já na época de Philon servirá de principal referência para sua hermenêutica da Bíblia).
Pensemos na enorme dificuldade desta tarefa pioneira. A primeira tentativa de fazer conhecer a Bíblia, tão estranha à sua mentalidade, aos pagãos. Nutridos das duas culturas hebraica e grega, os autores judeus da Septuaginta sabiam certamente melhor que os futuros que o verbo hebreu traduzido por "criar" em nossas bíblias, não tem equivalente em nenhuma língua vulgar (seja a mais filosófica!). Assim, ao invés de tentar apresentá-lo por uma aproximação ou paráfrase complicada, arriscando desencorajar de entrada os novos leitores que queriam seduzir, escolheram deliberadamente neutralizá-lo. Ignorá-lo. Substituir sem nada dizer o verbo de ação em geral, ao qual se opõe no texto e traduzi-lo como se "criar" divino fosse um "fazer" (gr. poiein). Ou seja como se o verbo utilizado no texto fosse o hebraico ‘SSH, mais frequente, mesmo com Deus como sujeito, que o específico ‘BR (vide Bereshith) nas "Bíblia das Origens".
Resultado: durante cerca de seis séculos de monopólio, dos quais três decisivo para o nascimento e a propagação do cristianismo, a Bíblia grega ensinou ao mudo não judeu que "no princípio Deus fez o céu e a terra". Como uma produção qualquer, indiferenciada!
Esta redução a um simples "fazer" do inusitado ato divino por excelência não pouco contribuiu para amplificar a corrente escatológica, já dominante na Bíblia profética e no judaísmo, e a desacreditar a mensagem de esperança sempre atual contida na "Bíblia das Origens". [Nothomb , Túnicas de Cego]