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conversão etc

  

epistrophe / ἐπιστροφή / ἐπιστρέφω / στρέφω / στροφή / μετάνοια / metanoia / μεταμέλεια / metameleia / periagoge / περιαγωγή

gr. ἐπιστροφή, epistrophê: retorno, conversão. A significação de base é um retornar sobre si. Plotino   usa explicitamente para designar a maneira pela qual o produto indeterminado da emanação se volta para sua origem e adquire a definição própria de sua hipóstase. Assim, exprime igualmente a conversão da alma, na contemplação da hierarquia das hipóstases.


μεταμέλεια não pode ser confundida com a μετάνοια (metanoia) do Novo Testamento. Contudo, traduzimos a palavra por «arrependimento», embora à letra signifique «alteração do objeto de preocupação» e assim também «alteração da conduta». De resto, também μετάνοια significa uma alteração da compreensão do sentido do que se faz. A tradução latina de μετὗνοια por poenitentiam agere não quer dizer «sofrer o castigo ou penitência», mas «entristecer-se, passar por um processo de entristecimento». [CaeiroEN  :290 Nota]
CONVERSIÓN o arrepentimiento (metanoia): etimológicamente, la palabra griega significa "cambio de la mente." Se trata, pues, de algo que no se resuelve en un sentimiento, aunque se implique verdadero dolor y compunción, sino que hace cambiar el rumbo del pensamiento del hombre, llevándolo a tomar la forma del pensamiento divino, expreso en la Palabra y en la ley divina en lo íntimo. Un cambio de pensamiento lleva, necesariamente, a un cambio en el actuar, a una conducta que se rectifique de alguna manera, que corrija y repare la conducta precedente, de la cual nos hemos arrepentido: por eso ha sido quizás necesario traducir esta única palabra con el vocablo castellano "penitencia,"que agrega un matiz práctico y expresa mayormente la concreción existencial de la conversión o del arrepentimiento.
Em grego, metanoia é uma "mudança de mente" ou "mudança de intelecto": não apenas arrepender-se, constringir-se ou lamentar-se, mas mais positiva e fundamentalmente a conversão ou a virada de nossa vida por inteiro em direção a Deus.
A questão crucial diante de qualquer pensamento, imaginação, sensação, percepção, enquanto passageiros que são, e antes de qualquer atenção ao que sugerem, é «qual seu propósito?». Esta é um questão raramente posta e, por conseguinte, respondida. É a questão vital, em seu sentido mais profundo, pois determina a estadia no sonho ou na estória que se conta como em uma tenda, no estado de sono ou no estado de vigília, pois mesmo neste último estamos submetidos ao risco de sonhar. O se pôr à escuta da resposta a esta questão já impõe por si só, um deslocamento, uma metanoia. Qualquer que seja o propósito que responda à questão, é sobre ele que dirigirão pensamentos, palavras e atos de mim mesmo. Muito mais que uma questão é, portanto, a definição do propósito é um momento de decisão, de escolha, proporcionado pela possibilidade de metanoia que é um direito de todos.

Arendt

Lucas   17:3-4. É importante observar que as três palavras chaves do texto — aphienai, metanoein e hamartenein — têm certas conotações, mesmo no grego do Novo Testamento, que as traduções não conseguem transmitir por inteiro. O significado original de aphienai é «despedir» e «libertar», e não «perdoar»; metanoein significa «mudar de ideia» e — como serve também para traduzir o hebraico shuv — «retornar», «voltar sobre os próprios passos», e não «arrepender-se», com suas conotações emocionais e psicológicas. O que se exige do homem é: muda de ideia e «não peques mais», o que é quase o oposto de fazer penitencia.

Nicolau de Cusa

Faz-se mister, necessariamente, que a criatura dotada de razão, que quer receber a luz, volte-se às coisas verdadeiras e eternas, acima de nosso mundo e de nossa corruptibilidade. As coisas do corpo e as do espírito são contrárias. Pois a virtude vegetativa do corpo incorpora, mediante uma transformação, o alimento recebido de fora à natureza do ente alimentado. E não se transforma o animal em pão, mas ao inverso. Por seu lado, o espírito dotado de entendimento, que se exercita acima do tempo, como se fosse no horizonte da eternidade, quando se volta às coisas eternas não as pode incorporar, porque são eternas e incorruptíveis; mas tampouco ele, sendo incorruptível, pode a elas incorporar-se ao ponto de deixar de ser uma substância intelectual; porém a elas se incorpora ao ponto de estar formado à imagem da eternidade; com diferenças de graus, não obstante; se se volta à elas com mais fervor, sua perfeição pelas coisas eternas é maior e mais profunda, e seu ser oculta-se no próprio ser eterno. [DA DOUTA IGNORÂNCIA]

Paul Vulliaud

O leitor tem presente no pensamento que a primeira palavra da missão evangélica é"Arrependei-vos. O arrependimento ou o retorno, ou conversão, (hbr. teschoubah) está, segundo a Cabala  , no mistério do Reservatório das águas. O pecado, a impuridade, tem por consequência separar o nome divino supremo (io-he-vav-he) em dois (iod-he) (vav-he), e interromper a união de nosso mundo com a organização sefirótica pela qual Deus faz sentir suas atividades através da criação, quer dizer que o fluxo da graça divina não mais se produz. A substância espiritual, transmitida pelo fluxo divino, não pode subsistir na alma, porque não pode ficar em contato com a impuridade. Ela se reintegra no mistério da sefirá Binah, figurada sob o nome de Mãe suprema (Mi), que é a porta do arrependimento, do retorno, da conversão. É necessário que p pecador retorne à fonte de purificação; por sua ablução (hbr. tebilah) ele entrará no mistério das águas celestes, quer dizer que se regenerará. É ao que faz alusão a Cabala dizendo que o homem entra pelo arrependimento no seio de sua mãe (a sefirá Binah), e que destinado a se o "carro" (Merkabah) da Shekinah (Divindade manifestada que é a fonte dos seres espirituais, é concebido uma segunda vez. Eis aí o ensinamento que Nicodemos, um doutor em Israel , modelo de nossos Doutores, tinha perdido de vista. [A CHAVE TRADICIONAL DOS EVANGELHOS]

Schopenhauer

ARREPENDIMENTO nunca se origina de a Vontade ter mudado (algo impossível), mas de o conhecimento ter mudado. O essencial e próprio daquilo que eu sempre quis, tenho de ainda continuar a querê-lo, pois eu mesmo sou esta Vontade a residir fora do tempo e da mudança. Portanto, nunca posso me arrepender do que quis, mas sim do que fiz, visto que, conduzido por falsas noções, agi de maneira diferente daquela adequada à minha vontade. O ARREPENDIMENTO é a intelecção disso por via de um conhecimento mais preciso. E isto se estende não só à sabedoria de vida, à escolha dos meios, ao julgamento do mais adequado fim à minha vontade, mas também ao ético propriamente dito. Assim, por exemplo, posso ter agido mais egoisticamente do que era adequado ao meu caráter, visto que fui guiado por representações exageradas da necessidade na qual eu mesmo me encontrava, ou pela astúcia, falsidade, maldade dos outros, ou posso ter sido precipitado: numa palavra, agi sem ponderação, determinado não por motivos distintamente conhecidos in abstracto, mas por simples motivos intuitivos, pela impressão do presente e o afeto que este provocou, o qual foi tão violento que me privou do uso propriamente dito da razão. Mas aqui, portanto, o retorno da capacidade deliberativa não passa de conhecimento corrigido, do qual pode resultar arrependimento, que sempre dá sinal de si mesmo por reparação, até onde é possível, do acontecido. No entanto, deve-se notar que, para enganar a si mesmas, as pessoas fingem precipitações aparentes, que em realidade são ações secretamente ponderadas. Porém mediante tais truques sutis não enganamos nem adulamos ninguém, senão a nós mesmos. – Também o caso contrário ao mencionado pode ocorrer. Posso ser ludibriado pela confiança excessiva nos outros, ou pelo desconhecimento do valor relativo dos bens da vida, ou por algum dogma abstrato cuja crença doravante perdi, e assim [383] ser levado a agir menos egoisticamente do que é adequado ao meu caráter, com isso preparando um arrependimento de outro gênero. Portanto, o arrependimento sempre é o conhecimento corrigido da proporção do ato com a intenção real. – E assim como a Vontade que manifesta suas Ideias apenas no espaço, ou seja, mediante a simples figura, já encontra a resistência de outras Ideias, aqui forças naturais, que dominam a matéria e desse modo raramente permitem a irrupção perfeitamente pura e distinta, isto é, bela, da figura que se esforça por visibilidade; assim também a Vontade que se manifesta apenas no tempo, isto é, via ações, encontra uma resistência análoga no conhecimento, que quase nunca lhe fornece os dados inteiramente corretos, fazendo o ato não corresponder de maneira precisa e integral à Vontade, preparando dessa forma o arrependimento. Logo, o arrependimento sempre resulta do conhecimento corrigido, não da mudança da Vontade, o que é impossível. O peso de consciência [Gewissensangst] em relação a atos já cometidos não é arrependimento, mas dor sobre o conhecimento de nosso si mesmo, ou seja, como Vontade, Baseia-se na certeza de que sempre temos a mesma vontade. Se esta tivesse mudado e assim o peso de consciência fosse mero arrependimento, ela se superaria a si; pois o passado não poderia despertar dor alguma, visto que expunha a exteriorização de uma vontade que agora já não é mais a do arrependido. Adiante discutiremos em detalhes a significação desse peso de consciência. [SCHOPENHAUER  , Arthur. O mundo como vontade e como representação. Primeiro Tomo. Tr. Jair Barboza. São Paulo  : Editora UNESP, 2005, p. 383-384]