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Henry (E:§5) – fenomenalidade

domingo 25 de junho de 2023

  

Carlos Nougué

A grande descoberta da fenomenologia concernente à linguagem é o ter subordinado a análise desta última a um fundamento sem o qual ela já não está em condições de funcionar. Ora, tal subordinação é conforme à pressuposição da fenomenologia: é a subordinação dos fenômenos da linguagem à fenomenalidade pura. Uma vez que tal subordinação oblitera a especificidade dos fenômenos da linguagem, só ela nos situa diante de sua possibilidade mais originária. Esta se chama Logos.

Reconhecemos um dos dois termos a partir dos quais é construído o título “fenômeno-logia”. Na análise do § 7, phainomenon, o fenômeno, designava num primeiro momento o objeto da fenomenologia, e Logos seu método. Quando, num segundo momento, a fenomenalidade pura, a vinda à luz do dia na luz do mundo, foi substituída pelo [65] simples fenômeno — pelo que se mostra nessa luz — para definir o verdadeiro objeto da fenomenologia, sua “coisa mesma”, a identidade entre o objeto da fenomenologia e seu método se mostrou a nós. É a fenomenalidade do fenômeno, a luz em que ele se mostra o que conduz até ele, definindo assim o método por seguir para atingi-lo.

Mas essa redução do método ao objeto verdadeiro da fenomenologia concerne também à linguagem, se é verdade que não podemos falar de uma coisa qualquer sem que ela previamente se mostre a nós. Assim também tudo o que diremos dela e poderemos dizer dela, todas as prédicas que formularemos a seu respeito obedecem a essa condição incontornável. Tal é a intuição decisiva que surge no § 7: o Logos é a possibilidade última de toda linguagem, é a Palavra originária que fala em toda palavra. E isso na medida em que é identificado com a fenomenalidade pura sobre a qual repousa, com a qual não constitui senão algo uno. Fenomenalidade e Logos não dizem afinal de contas senão uma mesma coisa.

Como esquecer, todavia, no momento em que a linguagem entendida como Logos recebe sua possibilidade da fenomenalidade a ponto de se identificar com ela, a pressuposição que governa toda a análise heideggeriana? Fenomenalidade e Logos são compreendidos no sentido grego: o aparecer que um e outro designam é o do mundo. Mas é esse aparecer que interrogamos com respeito a seus traços principais. Depois de termos estabelecido como tal aparecer difere de tudo o que se mostra nele, constatamos sua impotência ontológica de fundo — sua incapacidade para pôr no ser aquilo que ele dá a aparecer. Ele descobre o ente, dizia Heidegger  , mas não o cria. Ora, o “ente” designa a totalidade do que é, o conjunto das coisas cuja infinita diversidade compõe o conteúdo do mundo: é desse conteúdo, de sua realidade — com que desde sempre os homens têm relação — que se trata. O que seria o aparecer puro do mundo independentemente desse conteúdo, o que seria esse puro horizonte de visibilização do Ek-stase do tempo se jamais nada se tornasse visível nele? Um tempo puro não pode ser percebido, dizia Kant  . [66] Em todo estado de causa, uma formidável dificuldade subsiste: se o aparecer do mundo é incapaz de pôr a realidade daquilo a que ele dá o aparecer, de onde vem ela?

É essa indigência do aparecer do mundo, incapaz de trazer à existência qualquer realidade, o que a linguagem põe em evidência – essa linguagem que encontra sua possibilidade no Logos e no phainesthai gregos: no aparecer do mundo! Se toda linguagem concebível — aquela, em todo caso — deve fazer ver tanto o que ela fala como o que ela diz dele, o que há de espantoso então em que ela reproduza a carência do aparecer que torna possível todo fazer-ver?

Do mesmo modo, ela repete sua estrutura. É próprio da linguagem, com efeito — de uma linguagem desse gênero –, que se refira a um referente exterior a ela cuja realidade não pode fundar. Semelhante defeito permanece oculto no caso da linguagem cotidiana, que em geral se limita a acompanhar a percepção de objetos que temos sob os olhos. “Faça sair esse cão que não para de latir!” Essa maneira que a linguagem corrente tem de acompanhar a realidade e seguir no mesmo passo dela oculta o abismo que as separa.

Original

La grande découverte de la phénoménologie concernant le langage est d’avoir subordonné l’analyse de ce dernier à un fondement sans lequel il n’est plus en mesure de fonctionner. Or une telle subordination est conforme à la présupposition de la phénoménologie : c’est la subordination des phénomènes du langage à la phénoménalité pure. Loin qu’une telle subordination oblitère la spécificité des phénomènes du langage, elle seule nous place en présence de leur possibilité la plus originaire. Celle-ci se nomme Logos.

Nous reconnaissons l’un des deux termes à partir desquels est construit l’intitulé « phénoméno-logie ». Dans l’analyse du § 7, phainomenon, le phénomène, désignait en un premier temps l’objet de la phénoménologie, et Logos sa méthode. Lorsque, dans un deuxième temps, la phénoménalité pure, la venue au jour dans la lumière du monde, s’est substituée au simple phénomène – ce qui se montre dans cette lumière – pour définir le véritable objet de la phénoménologie, sa « chose même », l’identité de l’objet de la phénoménologie et de sa méthode s’est montrée à nous. C’est la phénoménalité du phénomène, la lumière en laquelle il se montre, qui conduit jusqu’à lui, définissant ainsi la méthode à suivre pour l’atteindre.

Seulement cette réduction de la méthode à l’objet véritable de la phénoménologie concerne aussi le langage, s’il est vrai que nous ne pouvons parler d’une chose quelconque que si elle se montre préalablement à nous. De même tout ce que nous en dirons et pourrons en dire, toutes les prédications que nous formulerons à son sujet obéissent à cette condition incontournable. Telle est l’intuition décisive qui surgit au § 7 : le Logos est la possibilité dernière de tout langage, il est la Parole originaire qui parle en toute parole. Et cela dans la mesure où il est identifié à la phénoménalité pure sur laquelle il repose, avec laquelle il ne fait qu’un. Phénoménalité et Logos ne disent en fin de compte qu’une même chose.

Comment oublier cependant, au moment où le langage entendu comme Logos reçoit sa possibilité de la phénoménalité au point de s’identifier à elle, la présupposition qui gouverne toute l’analyse heideggérienne ? Phénoménalité et Logos sont compris au sens grec : l’apparaître qu’ils désignent l’un et l’autre est celui du monde. Mais c’est cet apparaître-là que nous interrogeons sur ses traits principaux. Après avoir établi comment un tel apparaître diffère de tout ce qui se montre en lui, nous avons constaté son impuissance ontologique foncière – son incapacité à poser dans l’être ce à quoi il donne d’apparaître. Il découvre l’étant, disait Heidegger, mais ne le crée pas. Or l’« étant » désigne la totalité de ce qui est, l’ensemble des choses dont l’infinie diversité compose le contenu du monde : c’est de ce contenu, de sa réalité à laquelle depuis toujours les hommes ont affaire qu’il s’agit. Que serait l’apparaître pur du monde, indépendamment de ce contenu, que serait ce pur horizon de visibilisation de l’Ek-stase du temps si jamais rien ne devenait visible en lui ? Un temps pur ne peut être perçu, disait Kant. En tout état de cause, une formidable difficulté subsiste : si l’apparaître du monde est dans le principe incapable de poser la réalité de ce à quoi il donne d’apparaître, d’où vient celle-ci ?

C’est cette indigence de l’apparaître du monde, incapable de porter à l’existence une réalité quelconque, que met en évidence le langage – ce langage qui puise sa possibilité dans le Logos et dans le phainesthai grecs : dans l’apparaître du monde ! Si tout langage concevable – celui-là en tout cas – doit faire voir ce dont il parle ainsi que ce qu’il en dit, quoi d’étonnant alors qu’il reproduise la carence de l’apparaître qui rend possible tout faire-voir ?

De même qu’il en répète la structure. Le propre du langage en effet – d’un langage de ce genre – est qu’il se rapporte à un référent extérieur à lui dont il ne peut fonder la réalité. Semblable défaut demeure masqué dans le cas du langage quotidien, qui se borne le plus souvent à accompagner la perception d’objets que nous avons sous les yeux. « Fais sortir ce chien qui ne cesse d’aboyer ! » Cette manière qu’a le langage ordinaire de côtoyer la réalité et d’aller du même pas cache l’abîme qui les sépare.


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