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Henry (EM:§5) – consciência, região de ser?

quarta-feira 20 de dezembro de 2023

  

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A inserção do ego cogito e da sua problemática no horizonte liberado pela ontologia fenomenológica universal depara-se, no entanto, com uma objeção, se a existência deste ego retirar a sua originalidade de outro lugar que não a estrutura ontológica prescrita a priori por uma dada região do ser. Pois esta questão permanece em aberto: pode a consciência ser assimilada por nós, de uma forma correta, a uma região do ser? Não será ela todavia o ser ele mesmo, o ser absoluto, a protocategoria do ser em geral, a Urregião na qual todas as outras regiões encontram o seu fundamento? Em estreita ligação com esta questão, abre-se então perante nós a seguinte possibilidade: a análise do cogito constitui em si mesma uma análise ontológica, e isto num sentido decisivo e universal. Não é de todo uma análise ontológica particular, a análise de uma dada estrutura ontológica que, como região, domina e governa uma dada categoria de objetos. Claro que, como mostramos, qualquer ontologia regional está necessariamente subordinada à ontologia universal. A elucidação do sentido do ser dentro de um domínio particular de objetos implica a elucidação prévia do sentido do ser em geral. Mas o sentido de ser do ego cogito não é de todo um sentido regional, se é verdade que é neste e através deste ego que se constituem todos os tipos possíveis de ser em geral e, correlativamente, todos os tipos de sentido que lhes são de cada vez imanentes. As experiências de consciência em que o cogito, entendido no seu sentido mais amplo, se realiza concretamente não são, de fato, tantos seres determinados, encerrados numa região determinada como coisas mortas ou como conteúdos susceptíveis de serem distribuídos em grupos ou classes mais ou menos complexos. Tais experiências são, de fato, intencionais, são em todos os casos "consciência de", visam um objeto, precisamente aquele para o qual transcendem, e isto de tal modo que é precisamente um tal ato de transcendência que confere ao ser visado um sentido próprio de cada vez. A consciência é constitutiva do sentido do ser em geral; é a consciência que prescreve a cada objeto e a cada tipo de objeto o sentido do ser que lhe é próprio. O sentido de ser do ego cogito é precisamente o de conferir um sentido ao ser; é, mais profundamente, o de ser a fonte desse sentido, a origem absoluta da qual ele brota de cada vez como uma criação livre.

original

L’insertion de l’ego cogito et de sa problématique à l’intérieur de l’horizon libéré par l’ontologie phénoménologique universelle se heurte toutefois à une objection si l’existence de cet ego puise son originalité ailleurs que dans la structure ontologique que lui prescrit à priori une région déterminée de l’être. Car cette question reste ouverte : la conscience peut-elle être assimilée par nous, d’une façon correcte, à une région d’être ? N’est-elle pas plutôt l’être lui-même, l’être absolu, la protocatégorie de l’être en général, l’Urregion dans laquelle toutes les autres régions trouvent leur fondement ? En connexion étroite avec une telle question, la possibilité suivante s’ouvre alors devant nous : l’analyse du cogito constitue par elle-même une analyse ontologique, et cela en un sens décisif et universel. Elle n’est pas du tout une analyse ontologique particulière, l’analyse d’une structure ontologique déterminée qui, à titre de région, domine et régit une catégorie déterminée d’objets. Certes, on l’a montré, toute ontologie régionale se subordonne nécessairement à l’ontologie universelle. L’élucidation du sens de l’être à l’intérieur d’un domaine particulier d’objets implique l’élucidation préalable du sens de l’être en général. Mais le sens de l’être de l’ego cogito n’est pas du tout un sens régional, s’il est vrai que c’est dans et par cet ego que se constituent tous les types d’être possibles en général et, corrélativement, tous les types de sens qui leur sont chaque fois immanents. Les vécus de la conscience dans lesquels se réalise concrètement le cogito entendu dans son sens le plus large, ne sont pas, en effet, autant d’êtres déterminés, enfermés à l’intérieur d’une région déterminée comme des choses mortes ou comme des contenus susceptibles d’être distribués dans des groupes ou dans des classes plus ou moins complexes. De tels vécus sont, en fait, intentionnels, ils sont dans tous les cas « conscience de », ils visent un objet, celui précisément vers lequel ils se transcendent, et cela de telle façon que c’est justement un tel acte de transcendance qui confère chaque fois à l’être visé un sens propre. La conscience est constitutive du sens de l’être en général, c’est elle qui prescrit à tout objet et à tout type d’objet le sens de l’être qui est sien. Le sens de l’être de l’ego cogito, c’est justement de conférer un sens à l’être, c’est, plus profondément, d’être la source de ce sens, l’origine absolue d’où celui-ci jaillit chaque fois comme une libre création.


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