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Agamben (2014:III.1.1) – vida
quarta-feira 21 de junho de 2023
Selvino Assmann
1.1. Uma genealogia do conceito de zoe deve começar pela constatação — de nenhum modo óbvia, inicialmente — de que na cultura ocidental “vida” não é uma noção médico-científica, mas um conceito filosófico-político. Os 57 tratados de Corpus hippocraticum, que reúnem os textos mais antigos da medicina grega, compostos entre os últimos decênios do século V e os primeiros do século IV a. C., ocupam, na edição Littré, dez volumes in quarto; mas um exame de Index hippocraticum mostra que o termo zoe aparece apenas oito vezes, nunca com significado técnico. Assim, os autores de Corpus podem descrever minuciosamente os humores que compõem o corpo humano e cujo equilíbrio determina a saúde e a doença, podem interrogar-se a respeito da natureza do nutrimento, do crescimento do feto e da relação entre modos de vida (diaitai) e saúde, além de descrever os sintomas das doenças agudas e, por fim, refletir sobre a arte médica, sem que jamais o conceito “vida” assuma importância nem função específica. Isso significa que não é necessário o conceito “vida” para construir a techne iatrike.
Também o verbo zen, “viver”, que aparece 55 vezes em Corpus, nunca tem significado técnico e, quando não designa genericamente os “seres vivos ”, refere-se à duração da vida ou, na fórmula estereotipada ouk an dynaito zen, à impossibilidade de sobreviver em determinadas condições.
O outro termo para “vida” em grego, bios (no sentido, que aqui interessa, de forma de vida ou de vida humana qualificada) aparece 35 vezes em Corpus, sobretudo no célebre incipit, de Aforismos: Ho bios brachys, he de techne makre [a vida é curta, a arte é longa]. Confirmando a falta de tecnicização do conceito “vida” no âmbito médico, os textos de Corpus mostram, com relação àqueles literários e filosóficos, certa indeterminação da oposição zoe/bios (cf.,por exemplo, Flat., 4). [AGAMBEN , Giorgio. O Uso dos Corpos. Homo Sacer IV,2. São Paulo, Boitempo, 2017, p. 221-222]
Original
1.1. Una genealogia del concetto di zoè deve esordire dalla costatazione - all’inizio per nulla scontata - che nella cultura occidentale «vita» non è una nozione medico-scientifica, bensì un concetto filosofico-politico. I 57 trattati del Corpus Hippocraticum, che raccolgono i testi più antichi della medicina greca, composti tra gli ultimi decenni del v secolo e i primi del IV secolo a.C., riempiono, nell’edizione Littré, dieci volumi in quarto; ma uno spoglio dell’Index Hippocraticum mostra che il termine zoè vi ricorre appena otto volte, e mai in un significato tecnico. Gli autori del Corpus possono, cioè, descrivere minuziosamente gli umori che compongono il corpo umano e il cui equilibrio determina la salute e la malattia, interrogarsi sulla natura del nutrimento, sulla crescita del feto e sulla relazione fra modi di vita (diaitai) e salute, descrivere i sintomi delle malattie acute e, infine, riflettere sull’arte medica, senza che mai il concetto «vita» assuma un rilievo e una funzione specifica. Ciò significa che per costruire la techne iatrikè il concetto «vita» non è necessario.
Anche il verbo zen, «vivere», che compare nel Corpus 55 volte, non ha mai un significato tecnico e, quando non designa genericamente i «viventi», si riferisce alla durata della vita o, nella formula stereotipa ouk an dynaito zen, all’impossibilità di sopravvivere in determinate condizioni.
L’altro termine per «vita» in greco, bios (nel senso, che qui c’interessa, di forma di vita o di vita umana qualificata) compare nel Corpus 35 volte, innanzitutto nel celebre incipit degli Aforismi: Ho bios brachys, he de techne makrè. A conferma della mancanza di tecnicizzazione del concetto «vita» in ambito medico, i testi del Corpus mostrano, rispetto a quelli letterari e filosofici, una certa indeterminazione dell’opposizione zoè/bios (cfr. ad esempio Flat., 4).