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Cioran: feliz quem não pensa

segunda-feira 6 de abril de 2020, por Cardoso de Castro

  

Guimarães Silva

Uma constatação que posso verificar, para meu próprio pesar, a cada instante: somente são felizes aqueles que não pensam - ou, dito de outra forma - aqueles que pensam apenas o estrito necessário para viver. O verdadeiro pensamento se parece com um demônio que atormenta as fontes da vida, ou antes, com uma doença que afeta as suas próprias raízes. Pensar o tempo todo, colocar-se problemas capitais a cada instante e experimentar uma dúvida permanente quanto ao seu destino; estar cansado de viver, esgotado por seus pensamentos e por sua própria existência para além de todo limite; deixar atrás de si um rastro de sangue e fumaça como símbolo do drama e da morte do seu ser - isto tudo é ser infeliz a ponto de que o problema do pensar dê ânsias de vômito e a reflexão apareça como uma danação. Coisas demais são lamentáveis num mundo em que nada se deveria lamentar. Assim, eu me pergunto se este mundo realmente merece meu pesar.


Ilinca Zarifopol -Johnston

AN OBSERVATION which, to my great regret, is always verifiable: only those are happy who never think or, rather, who only think about life’s bare necessities, and to think about such things means not to think at all. True thinking resembles a demon who muddies the spring of life or a sickness which corrupts its roots. To think all the time, to raise questions, to doubt your own destiny, to feel the weariness of living, to be worn out to the point of exhaustion by thoughts and life, to leave behind you, as symbols of your life’s drama, a trail of smoke and blood—all this means you are so unhappy that reflection and thinking appear as a curse causing a violent revulsion in you. There are many things on could regret in this world in which one shouldn’t regret any thing. But I ask myself; Is the world worthy of my regrets?