Do materialismo histórico, Weber rejeita o pressuposto marxista de direção determinada de condicionamento que vai da estrutura para a superestrutura e que tenha o caráter de interpretação geral da história. E, contrariamente à posição marxista do inelutável condicionamento do momento econômico sobre qualquer outro estado pessoal ou social, material ou imaterial, Weber defende, no escrito A “objetividade” cognoscitiva da ciência social e da política social, a divisão dos fenômenos sociais com base em sua relação com a economia.
Escreve Weber: “Dentro do âmbito dos problemas econômico-sociais, nós podemos distinguir processos e conjuntos de normas e instituições etc, cujo significado cultural consiste para nós essencialmente em seu lado econômico e que, em primeiro lugar, nos interessam somente desse ponto de vista, como, por exemplo, os processos da vida das bolsas e dos bancos. Isso acontecerá normalmente (ainda que não exclusivamente) quando se tratar de instituições que tenham sido criadas ou sejam utilizadas conscientemente para objetivos econômicos. Podemos chamar tais objetos do nosso conhecer com o nome de processos ou então de instituições econômicas”.
E prossegue: “A esses, acrescentam-se outros — como, por exemplo, os processos da vida religiosa — que não nos interessam ou então seguramente não nos interessam em primeiro lugar, do ponto de vista do seu significado econômico e em virtude dele, mas que, no entanto, em determinadas circunstâncias, adquirem significado desse ponto de vista, já que deles derivam efeitos que nos interessam do ponto de vista econômico: trata-se de fenômenos economicamente relevantes”.
E conclui: “Por fim, entre os fenômenos que não são econômicos em nosso sentido, há alguns que não apresentam para nós nenhum interesse ou, pelo menos, não apresentam interesse considerável — como, por exemplo, a direção do gosto artístico de uma época —, mas que, por seu turno, no caso específico, foram influenciados em medida mais ou menos forte por motivos econômicos em certos aspectos importantes de sua fisionomia, como, por exemplo, o tipo de organização social do público que se interessa pela arte: trata-se de fenômenos condicionados economicamente”.
Como se vê, Weber procura ampliar e desdogmatizar a posição marxista. Escreve ele: “Sem dúvida, isolar o aspecto econômico-social da vida cultural representa sensível delimitação do nosso tema. Pode-se dizer que o ponto de vista econômico ou, como se definiu imprecisamente, materialista, com base no qual é aqui considerada a vida da cultura, é ponto de vista unilateral. E, certamente, essa unilateralidade é intencional”.
E é exatamente dessa unilateralidade intencional e dogmática do marxismo que Weber quer que nos libertemos, a fim de que possamos ver efetivamente o poder científico das hipóteses marxistas. Afirma ele: “Livres finalmente da confiança antiquada na possibilidade de deduzir a totalidade dos fenômenos culturais como produtos ou então como função de constelações de interesses materiais, nós consideramos, porém, por outro lado, que a análise dos fenômenos sociais e dos processos da cultura do ponto de vista do seu condicionamento e de sua dimensão econômica tem sido e ainda pode continuar sendo em qualquer época previsível, com a aplicação cautelosa e livre de toda restrição dogmática, um princípio científico de fecundidade criadora. A chamada concepção materialista da história como intuição do mundo ou como denominador comum de aplicação causal da realidade histórica deve ser rejeitada do modo mais decidido, mas o acurado emprego da interpretação econômica da história é um dos objetivos essenciais de nossa revista”.
Weber, portanto, aceita de bom grado a explicação em termos econômicos da história. O que ele rejeita é a metafisicização e a dogmatização de tal perspectiva. A propósito disso, escreve: “A concepção materialista da história do velho sentido genialmente primitivo, que se apresenta, por exemplo, no Manifesto comunista, hoje só sobrevive na cabeça de pessoas privadas de competência específica e de diletantes. Entre essa gente, ainda se pode encontrar de forma extensa o fato de que sua necessidade causal de explicação de um fenômeno histórico não encontra satisfação enquanto não se mostram (ou não aparecem), de algum modo em algum lugar, causas econômicas. Mas precisamente nesses casos eles se contentam com hipóteses de malhas mais amplas e formulações mais gerais, enquanto sua necessidade dogmática é satisfeita ao considerar que as forças instintivas econômicas são as forças próprias, as únicas verdadeiras e, em última instância, as forças sempre decisivas”.
Diz Weber que absolutizar uma perspectiva quando ela foi recém-descoberta constitui fenômeno histórico típico de toda disciplina. No caso do materialismo histórico, deve-se levar na devida conta a “questão dos trabalhadores”, que, com sua natureza ética, leva o teórico ao caminho do ineliminável caráter monístico da perspectiva. E quando, em um período, se superestima determinada concepção, geralmente logo em seguida passa-se a subestimá-la, a tal ponto que acabamos perdendo a sua fecundidade científica.
O fato grave é que, na opinião de Weber, os que aceitam dogmaticamente a concepção materialista da história com “acriticidade sem igual”, onde quer que se apresentem dificuldades para a explicação puramente econômica, apressam-se a aplicar expedientes para manter de pé a validade universal da interpretação economicista, afirmando, por exemplo, que aquilo que não é economicamente dedutível revela-se cientificamente desprovido de significado e, portanto, acidental ou então estendendo o conceito de “econômico” de modo tão vago que acaba por se perder o poder científico da teoria.
Para concluir, podemos dizer que Weber: a) aceita a perspectiva marxista nos limites em que ela, a cada vez, é adotada como conjunto de hipóteses explicativas a serem comprovadas caso a caso; b) rejeita a perspectiva marxista quando se transforma em dogma metafísico e, simultaneamente, se apresenta como concepção científica do mundo; c) não é intenção de Weber, como escreve em A ética protestante e o espírito do capitalismo, a de “substituir” uma interpretação causal da civilização e da história abstratamente materialista por outra espiritualidade, porém, igualmente abstrata: “Ambas são possíveis, mas com ambas serve-se igualmente pouco à verdade histórica quando elas pretendem ser, não preparação, mas conclusão da investigação”. [Reale]