(VallinEI)
Individualidade e pessoa humana
Conhecimento do homem: Espécie, Coletividades e Devir humano
Gostaríamos, em primeiro lugar, de destacar que a experiência objetivante da individualidade, que atinge inquestionavelmente a noção de ser, não manifestou até agora, exceto na perspectiva mecanicista do fenômeno, toda a amplitude de seu caráter objetivante: o finalismo e o reconhecimento de um domínio trans-espacio-temporal introduziam legitimamente uma dimensão de interioridade e subjetividade na esfera “não-humana” do mundo, a ponto de parecer impossível exigir razoavelmente uma “interiorização” maior desta última. Seria, de fato, bastante grotesco, pelo menos à primeira vista, exigir uma monadologia do elétron e até mesmo do chimpanzé. O ser aqui desvelado é a essência específica enquanto se atualiza nos indivíduos; estes não tendo nenhum privilégio ontológico enquanto tais. Sentimos, além disso, confusamente que a única justificativa válida para uma monadologia estaria em uma análise da realidade humana.
Assim, é apenas na descrição que ela nos propõe desta última que poderemos determinar realmente o grau de objetivação que se liga a tal ou qual perspectiva. É, portanto, no modo de desvelamento da realidade humana que lhe é próprio que a esfera lógica ou objetivante poderá nos oferecer um testemunho a esse respeito.
No entanto, se a objetivação que caracteriza o desvelamento da individualidade no nível do ser (e não do fenômeno) físico ou biológico não aparece de forma alguma como um escândalo — uma vez que uma dimensão de interioridade afeta aqui o real, que não se esgota em uma série de aparências ligadas por uma causalidade totalmente externa e mecânica —, não deixa de ser verdade que essa objetivação existe no sentido de que as “essências objetivas” que se atualizam nos indivíduos, visadas pela intencionalidade conhecedora, são o objeto de um saber universalmente e diretamente comunicável, que corresponde a um “objeto” definido, com tais propriedades distintas e características, etc. A existência, ou seja, a subjetividade individual, a contingência, a “matéria” encontram-se subordinadas à essência, integradas na esfera de sua inteligibilidade racional. Desse ponto de vista, a fenomenologia do ser não é mais privilegiada que a do fenômeno: é importante enfatizar isso com força.
[139] O reconhecimento de uma realidade “subjetiva”, existindo realmente por si mesma e escapando ao estatuto de simples “representação para uma consciência”, não é suficiente para nos fazer transcender a esfera da objetivação e da “vontade de poder” teórica, uma vez que, por um lado, lembremos, o “desvelamento” das essências encarnadas repousa aqui sobre uma “constituição” transcendental que se refere a um sujeito existente no mundo e para-o-mundo, e que, por outro lado, correlativamente, essas essências são inquestionavelmente limitadas a uma imanência que exclui qualquer transcendência ontológica da existência “cósmica”, espacializada e temporalizada, ou seja, individualizada. É essa necessária individuação existencial da essência específica que lhe confere, em última análise, seu caráter de objetividade e que permite à intencionalidade “objetivante” — que está em ação, por exemplo, na biologia finalista — apreender essas essências como totalidades objetivas, limitadas e distintas, de acordo com o critério “objetivante” destacado pelo racionalismo cartesiano. A objetivação está, portanto, paradoxalmente ligada à individuação, ou mais precisamente ao que chamamos de individuação negativa pela “matéria”1. E, na perspectiva metafísica que adotamos para situar as diversas esferas “temporalistas”, a distância não é tão grande entre a objetivação finalista do ser despido de suas “superestruturas” metafísicas e a objetivação mecanicista do fenômeno, que tende a reduzir o indivíduo à sua expressão material e quantitativa mais rigorosa. É precisamente isso que a experiência objetivante da realidade humana nos permitirá, acreditamos, colocar em plena luz.
O aspecto “qualitativo” do ser individual, em virtude do qual este escapa à integração em totalidades cosmológicas, implica uma “individuação” de tipo muito diferente, situada nos antípodas da objetivação que é o objeto de nossa análise atual. ↩