Positivismo, regramentos e domínio

Kolakowski1976

Regras do positivismo: primeira, segunda, terceira e quarta

Em torno dessas quatro regras resumidamente expostas, a filosofia positivista elaborou uma vasta problemática, estendendo-se a todos os domínios do conhecimento humano. De maneira geral, o positivismo é um conjunto de regulamentações que regem o saber humano e visam reservar o nome de “ciência” para as operações observáveis no desenvolvimento das ciências modernas da natureza.

Ao longo de sua história, o positivismo direcionou, em particular, suas críticas aos desenvolvimentos metafísicos de qualquer tipo, ou seja, à reflexão que ou não pode fundamentar totalmente seus resultados em dados empíricos, ou formula seus juízos de maneira que os dados empíricos nunca possam refutá-los. Assim, segundo os positivistas, tanto as interpretações materialistas quanto espiritualistas do mundo utilizam palavras que não correspondem a nenhuma experiência. Por exemplo, se supusermos — contrariando os materialistas — que o mundo não é a manifestação da existência e do movimento da matéria, ou ainda — contrariando os adeptos de crenças religiosas — que ele não é controlado por uma força espiritual providencial, não sabemos, afinal, em que o mundo dado na experiência seria diferente do que é.

Como nenhum dos dois princípios leva a consequências que nos permitam prever ou descrever algo no mundo além do que já existe, não há razão para aceitar um ou outro. O positivismo, portanto, critica constantemente tanto as interpretações religiosas do mundo quanto a metafísica materialista, esforçando-se para encontrar um ponto de vista livre de qualquer pressuposto metafísico. Essa posição é intencionalmente limitada às regras que, explícita ou implicitamente, são adotadas na prática das ciências naturais, onde os princípios metafísicos, segundo os positivistas, não são úteis. Nessas ciências, o objetivo é estabelecer relações entre os fenômenos sem aprofundar sua “natureza” oculta, tampouco tentar determinar se o mundo “em si”, independentemente do sujeito do conhecimento, possui propriedades diferentes daquelas que nos são dadas pela experiência.