Kolakowski1976
A concepção fenomenalista e nominalista do saber leva a outra consequência importante, que formularemos em terceiro lugar. Trata-se da regra que nega qualquer valor cognitivo aos juízos de valor e aos enunciados normativos. De fato, os atributos que qualificam eventos, coisas ou comportamentos humanos, como: nobre, ignóbil, bom, mau, belo, feio, etc., não nos são dados pela experiência. Da mesma forma, nenhuma experiência pode nos obrigar, independentemente das operações lógicas empregadas, a aceitar enunciados que determinem ordens ou proibições, dizendo que devemos realizar tal coisa ou nos abster de fazer outra.
Mais especificamente: é evidente que, com relação ao objetivo visado, pode-se fundamentar juízos relativos à eficácia dos meios empregados para atingir tal objetivo. Juízos desse tipo possuem caráter tecnológico e podem ser qualificados como verdadeiros ou falsos, desde que se lhes atribua precisamente um sentido tecnológico, ou seja, na medida em que indiquem quais os procedimentos eficazes ou não, considerando o resultado desejado. Assim, juízos como, por exemplo, a necessidade de prescrever penicilina a uma pessoa com pneumonia ou evitar o uso de chicote para obrigar crianças a comer — podem evidentemente ser fundamentados, se o respectivo sentido for que a penicilina combate eficazmente a pneumonia ou que o chicote provoca traumas de caráter em crianças. Se, por outro lado, aceitamos tacitamente que é geralmente bom curar uma pessoa doente e ruim gerar deficiências mentais em crianças, os juízos mencionados, sob suas formas normativas, são então fundamentados.
Entretanto, é ilegítimo fundamentar, por dados da experiência, valores que se afirmam por si mesmos e não em relação a outra coisa. Que a vida humana seja um valor insubstituível é um princípio impossível de fundamentar; pode-se aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas com a consciência do caráter arbitrário dessa decisão. A regra fenomenalista nos proíbe, de fato, supor que os valores sejam características do mundo acessíveis ao conhecimento digno desse nome. A regra nominalista prescreve renunciar à ideia de que possa existir, fora do mundo sensível, uma esfera de valores existindo por si mesma, com a qual nossos juízos de valor estariam enigmaticamente correlacionados.
Portanto, temos o direito de emitir nossos juízos de valor sobre o mundo humano, mas nada nos autoriza a supor que eles se baseiam em razões científicas ou, em geral, em razões que não sejam nossa escolha arbitrária.