Positivismo, segunda regra

Kolakowski1976

Em segundo lugar: a regra do nominalismo. Essa regra poderia, no fundo, ser considerada consequência da anterior, mas é melhor formulá-la separadamente, uma vez que é raro, em controvérsias filosóficas, que um julgamento importante sob o ponto de vista filosófico resulte de maneira absolutamente inevitável de outro julgamento igualmente importante sob a mesma perspectiva. Certo grau de indefinição nas palavras nos permite manter, com algumas distinções, dois julgamentos que, à primeira vista, parecem manifestamente incompatíveis. A regra do nominalismo não é nada mais do que a proibição de supor que algum saber formulado em termos gerais tenha, na realidade, equivalentes além dos objetos concretos singulares.

Desde o início da história do pensamento europeu, sabe-se que o problema da interpretação do saber nessa ótica foi levantado. Quando Platão perguntava: “Sobre o que estamos falando, na realidade, quando nomeamos um triângulo, por exemplo, ou quando falamos de justiça?”, ele levantava um problema que, sob outras formas verbais, permaneceu atual até os dias de hoje. Os filósofos observavam que afirmamos que a soma dos ângulos de um triângulo é igual à soma de dois ângulos retos. Mas, afinal, a que se refere essa afirmação? Não a este ou aquele corpo triangular, já que nenhum constitui um triângulo absolutamente perfeito que preencha todas as condições descritas na geometria; não se refere, pelo mesmo motivo, a todos os diferentes objetos triangulares. Contudo, não é possível concluir que o conhecimento geométrico não se relaciona com nada. Certamente, nossa afirmação refere-se simplesmente ao triângulo. Mas o que é esse triângulo que não existe na natureza? Ele não possui nenhuma das propriedades físicas atribuídas aos corpos, especialmente localização espacial; todas as suas propriedades se reduzem ao fato de que ele é precisamente um triângulo e nada mais. Devemos reconhecer que ele existe de alguma maneira, embora essa existência não seja dada na experiência sensível, sendo acessível apenas à reflexão.

Os nominalistas rejeitam esse tipo de raciocínio. Segundo eles, somos autorizados a reconhecer a existência de algo quando a experiência nos obriga a isso. Ora, nada na nossa experiência nos força a supor que ao nosso conhecimento geral das propriedades do triângulo corresponda um ser diferente dos corpos triangulares singulares e que exista por si mesmo. Claro, nosso saber exige que utilizemos constantemente instrumentos conceituais que descrevem certos estados ideais que jamais são verificáveis no mundo empírico. Não apenas as ciências matemáticas recorrem a esse tipo de construção; a física também, especialmente a galileana, inevitavelmente se refere à descrição de certas situações ideais cujas características são levadas ao extremo. São essas situações ideais e suas propriedades que tornam as situações reais, que são aproximações delas, inteligíveis.

Porém, essas situações ideais — como o vazio mecânico, o sistema isolado, uma figura geométrica qualquer — equivalem a nossas próprias criações destinadas a descrever, de maneira mais concisa e generalizada, as realidades empíricas. E o fato de utilizarmos essas situações em nossos cálculos para fins de conveniência não nos obriga a supor que elas sejam necessariamente reais em algum lugar. O mundo que conhecemos é um conjunto de fatos individuais observáveis. Nosso conhecimento busca organizar esses fatos e, posteriormente, tornar-se um verdadeiro saber, ou seja, algo que pode ser utilizado de forma prática e que permite prever eventos com base em outros eventos. Nesse sistema organizado, incluímos todos os nossos conceitos abstratos, esquemas das ciências matemáticas e idealizações das ciências naturais. Graças a eles, conseguimos dar à nossa experiência uma forma coerente, concisa, fácil de lembrar, expurgada de todas as oscilações contingentes e deformações que invariavelmente acompanham cada fato individual.

Embora não existam círculos absolutamente perfeitos na natureza nem nos produtos técnicos dos seres humanos, conseguimos produzir corpos concêntricos bastante próximos desse ideal apenas porque operamos no cálculo abstrato com o círculo perfeito ou simplesmente com o círculo. O sistema que organiza nossas experiências deve ser tal que não introduza seres adicionais inexistentes na experiência ou, visto que precisa recorrer a instrumentos abstratos, deve permitir que tenhamos em mente que eles são precisamente instrumentos, produções humanas que estruturam a experiência, sem poder reivindicar uma existência própria.

Em outras palavras, do ponto de vista da crítica nominalista, todo saber abstrato é um modo conciso e classificatório de registrar os dados experimentais. Ele não possui qualquer função cognitiva autônoma no sentido de, como conhecimento abstrato, oferecer acesso a áreas da realidade alheias à experiência sensível. Todos os seres universais e produções abstratas com que a antiga metafísica preenchia o mundo são ilusões derivadas da existência indevidamente conferida a algo que não pode existir fora da palavra. Para usar a linguagem das antigas disputas escolásticas, a “generalidade” é propriedade apenas dos produtos da linguagem ou, segundo certas interpretações, dos atos do intelecto que operam com esses produtos; ela não recorta nenhum dado da experiência, e, portanto, não há nada no mundo que seja “geral”.